Rita Pereira – Redação UàE – 15/06/2020
Publicado originalmente em Universidade à Esquerda.
Na madrugada de sábado (13), um rapaz negro foi vítima da covardia da Polícia Militar (PM) de Dória na zona leste de São Paulo. Rendido, ele foi espancado com socos, chutes e cassetetes por cinco policiais.
A agressão foi gravada por um morador da região e postada na internet. No vídeo, o jovem afirma que estava apenas indo ver a namorada. Também é possível ouvir os PMs ameaçando os moradores, dizendo para entrarem em suas casas e que vão “quebrar todo mundo”.
O caso havia sido inicialmente registrado como uma simples “resistência”, onde o autor era o jovem, que sequer foi ouvido pelo Delegado que fez o registro. Na versão dada pela PM, o jovem foi dado como suspeito e, ao ser abordado, se “debateu para tentar se desvencilhar” ocasionando a sua queda e a do policial que o abordou. Após a divulgação do vídeo, o caso foi atualizado, passando o jovem para a posição de vítima, e agora apresentando o nome de mais outro PM.
O número de “mortes em decorrência de intervenção policial” subiu 54,6% em abril no estado de São Paulo. O número representa a brutalidade da ação policial. Em abril foram 116 mortes em decorrência de intervenção policial em São Paulo, uma a cada 6,2 horas.
Neste mesmo mês, Igor Rocha Ramos, um adolescente de 16 anos, negro e morador da periferia da zona sul da capital, foi assassinado com um tiro na nuca enquanto ia comprar pão e cigarro para a mãe, que se recuperava do coronavírus.
Esses dados contrastam com a diminuição da criminalidade durante a pandemia. Segundo estatísticas da Secretaria da Segurança Pública (SSP), houve uma diminuição de 30,3% dos roubos e de 53,3% dos furtos, em comparação com o ano passado.
No Rio de Janeiro também foi notável o aumento: 43% em abril, comparado ao mesmo mês no ano anterior. A morte de João Pedro, menino de 14 anos morto dentro de sua própria casa, junto com outros vários nomes de pessoas negras que tiveram suas vidas ceifadas pelo racismo, estamparam cartazes e estiveram presentes nas vozes dos manifestantes que tomaram as ruas nos últimos atos contra o racismo.
Mesmo com esse aumento notado pelos dados do Rio e de São Paulo, o governo federal decidiu pela retirada dos dados sobre a violência policial no relatório anual do serviço Disque Direitos Humanos (Disque 100). O relatório que apresenta os dados do ano anterior é o primeiro do governo Bolsonaro.
O Ministério Público Federal (MPF), exigiu ao ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, titulado por Damares Alves, explicações sobre tal exclusão. Em resposta, o ministério afirmou que os dados não foram divulgados no relatório por apresentarem “inconsistência em seus registros”, mas que os dados serão divulgados após estudos mais aprofundados. Em nota:
“Há registros com marcador de suspeito como agente policial, mas, na descrição, as informações são contraditórias, assim como há registros que não possuem marcador, mas as informações contêm relação com violação supostamente praticada por agente policial”.
O racismo e a violência da polícia não foram afetados pela pandemia. Isto fica evidente com as operações policiais nas periferias que continuam a todo vapor, roubando a vida dos jovens negros. Nos últimos atos contra o racismo a violência contra os manifestantes também não deixou de marcar presença. Contudo, é importante ressaltar que a postura da polícia não é isolada ou destacada de um conjunto político. Quando não é a PM assassinando a sangue frio, é a lógica imposta pela informalidade e o desemprego que empurra para as ruas os segmentos mais pauperizados da classe trabalhadora, em direção ao Covid-19. A falta de uma política séria de defesa da vida não é coincidência, mas sim um projeto político contra a classe trabalhadora, o qual precisamos derrotar.