Foto: Isac Nóbrega
Nina Matos – Redação UàE – 02/09/2020
Publicado originalmente em Universidade à Esquerda.
O presidente Jair Bolsonaro anunciou nesta terça-feira (01/09) um corte de 50% no valor do auxílio emergencial. As próximas quatro parcelas do benefício serão pagas no valor de 300 reais para os cadastrados e 600 para as mães chefes de família.
Para que o valor do auxílio possa ser alterado, Bolsonaro pretende enviar uma Medida Provisória (MP) ao Congresso. O presidente também irá solicitar que o novo valor proposto pelo governo seja mantido pelos parlamentares na votação.
O auxílio emergencial, que teve sua primeira parcela paga em abril, inicialmente seria no valor de 200 reais com uma duração de três meses, sendo esta a proposta do governo. Contudo, os parlamentares aumentaram o valor para os 600 reais que estão vigentes até o momento. Com a continuidade da pandemia houve também a prorrogação por mais dois meses do auxílio.
Em outras ocasiões Bolsonaro já havia atacado o valor do auxílio, dizendo que “é muito para quem paga, no caso, o Brasil”, sob o argumento de que a redução é justa por ser “um pouco superior a 50% do valor do Bolsa Família”.
Atualmente, cerca de 65,4 milhões de pessoas recebem o auxílio emergencial — um número muito próximo ao de pessoas desempregadas ou na informalidade: cerca de 61,7 milhões de trabalhadores.
Para o governo Bolsonaro, este “Brasil” abstrato paga muito caro pela manutenção de míseros 600 reais para que a classe trabalhadora não morra de fome ou de Covid na informalidade. Entretanto, de acordo com uma pesquisa realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE)¹, apenas as cestas básicas em julho de 2020 custavam entre R$ 547,03 e R$ 430,44.
O “Brasil” a que Bolsonaro se refere, que acha caro pagar o auxílio emergencial, não vê problemas nos gastos com desoneração fiscal e auxílio aos bancos. Levando a pesquisa do DIEESE em consideração, podemos rapidamente perceber que as 65,4 milhões de pessoas beneficiadas pelo auxílio não poderão, com o valor pago, alimentar sua família com uma mínima cesta básica.
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Ao contrário da fala do presidente, a classe trabalhadora brasileira está pagando muito caro para apenas manter-se viva e o problema disso está longe de ser um suposto rombo fiscal que o auxílio emergencial está causando.
Para completar sua narrativa, Bolsonaro e sua equipe tem se utilizado da importância do auxílio para jogar a classe trabalhadora contra si mesma. Busca negociar as reformas administrativa, tributária e demais projetos que visam, acima de tudo, garantir que os lucros continuem crescendo e que a conta da crise do capital seja paga pela classe trabalhadora.
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É esta a saída que o Estado tem a nos oferecer. Uma saída onde os que mais sofrem durante as crises são justamente os que arcarão com as duras consequências das políticas sujas daqueles que só enriquecem cada vez mais.
Portanto, neste momento tão difícil onde estamos sendo dizimados pelo vírus e pela negligência, devemos buscar na luta a saída que nos fortaleça, que seja em prol da nossa própria vida, da vida da classe trabalhadora. A saída certamente não será cedendo aos interesses do capital e aderindo cada vez mais a noção privatista, ela precisa ser outra e precisamos formulá-la com muita urgência.
*As opiniões aqui expressas são de responsabilidade da autora e podem não representar a opinião do jornal.
¹ Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos: tomada especial de preços de junho de 2020.