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[Notícia] Trabalhadores do Colégio Pedro II pautam o cancelamento do ano letivo

Imagem: Pixabay

Clara Fernandez – Redação UàE – 07/09/2020 – Publicado originalmente em Universidade à Esquerda

O colégio Pedro II, situado na zona norte do Rio de Janeiro e que realizou um dos primeiros grandes atos contra o corte de verbas do governo Bolsonaro nas universidades e institutos federais, no ano passado, decidiu em julho deste ano pela não adesão às aulas remotas. A ideia é que se realize, no máximo, atividades de interação remotas que não contariam para o calendário letivo, com início neste mês de Setembro. A decisão foi resultado da luta dos trabalhadores do Colégio, organizados através do Sindicato dos Servidores do Colégio Pedro II – SINDSCOPE.

Em nova assembleia dos trabalhadores do Colégio, realizada nas últimas semanas, foi aprovada também uma proposta para pautar nacionalmente o cancelamento do ano letivo. A ideia é que se abra um debate sobre as verdadeiras condições de retomada do ensino no cenário nacional junto às demais entidades e movimentos da educação. Confira abaixo a nota do SINDSCOPE acerca da proposta:

NOTA DO SINDSCOPE SOBRE O ANO LETIVO E A DECISÃO DA ASSEMBLEIA DA CATEGORIA

Viemos a público simplesmente expor o que foi debatido e aprovado em assembleia pelos servidores e servidoras presentes e também esclarecer que, enquanto profissionais da educação pública, temos compromisso com a verdade. Neste sentido, não podemos dizer que, num momento de crise sanitária e econômica nacional e mundial, temos as condições materiais e emocionais para pôr em prática o processo de ensino-aprendizagem. Estamos, na verdade, sendo pressionados a dar falsas respostas à população, porém nos recusamos a fazer uso da mentira como forma de acalmar os ânimos.

Muitos acreditam que há ensino nas interações remotas, mas nós, educadores, sabemos que não há. Há somente “interação”. Portanto, assumimos para nós a expressão “Interação Remota” em lugar de “Ensino Remoto” e não nos recusamos a fazer uso da “Interação Remota” com nossos alunos, desde que estejam garantidas as condições e os recursos necessários.

A partir de nossos debates, já conseguimos respostas o suficiente para afirmar que nenhum tipo de “Interação Remota” pode ser entendida como ensino. Por quê?

1- Todos os estudantes têm acesso à Internet e através de um computador pessoal? NÃO.

2- Todos os corpos envolvidos na “Interação” têm um ambiente doméstico adequado para o estudo, que permita o silêncio e a concentração, por exemplo? NÃO.

3- Conseguimos garantir uma experiência efetiva de ensino-aprendizagem a partir da tela de um celular ou computador? NÃO.

4- Podemos, na “Interação Remota” com crianças da Educação Infantil, do Ensino Fundamental e Médio garantir experiências de aprendizagem significativa? NÃO.

5- Temos a garantia da presença de todos os estudantes na “Interação”? NÃO.

6- Há condições de sistematizar conteúdos e fazer avaliações remotamente com os estudantes? NÃO.

7- Garantimos carga horária de trabalho adequada aos profissionais de educação para filmar, editar, produzir conteúdo e material para as “Interações Remotas? NÃO.

Porque vivemos um tempo de excepcionalidade, muitos esperam que nós possamos abrir mão de tudo isso, de um verdadeiro processo de ensino-aprendizagem, para nos lançarmos à aventura. Entendemos o contrário: é justamente por estarmos em condições excepcionais que não podemos deixar nenhum aluno para trás. Pois todas as vidas importam! Os sentidos de escola pública laica, democrática e de qualidade devem permanecer intocados.

Por tudo isso, consideramos que o debate mais honesto seja a garantia do ano letivo para todas e todos. Isso só será possível com o retorno presencial, quando houver condições sanitárias, pois, até lá, qualquer consideração de ensino não vai passar de engodo.

Nesse momento de crise na Educação, os gestores públicos, que deveriam estar à frente desse debate, transferem a responsabilidade aos profissionais, aos estudantes e às famílias, e o que temos observado é que em nenhuma Rede de Ensino do país, mesmo naquelas que estão se dedicando às Interações Remotas, há um “suposto” ano letivo em curso, porque, de fato, se reconhece que não está havendo a garantia do processo de ensino-aprendizagem.

Quando se propõe o cancelamento do ano letivo, é na tentativa de colocar no centro do debate o que realmente deve ser construído futuramente, quando houver condições. Não estamos propondo uma solução, mas a abertura de um debate verdadeiro, sobre como será o próximo ano. Se não fizermos isso, abandonaremos milhares de crianças à sua própria sorte.

Por isso, em nossa última assembleia, indicamos que levaremos para o debate nacional, com outras entidades e movimentos, a proposta de cancelamento do ano letivo a fim de termos um posicionamento do Ministério da Educação sobre o tema. Não se trata de uma proposta a ser implementada em uma escola específica, mas de algo que seja levado como alternativa à grande exclusão educacional à qual estudantes de todo o país estão sendo submetidos.

Diretoria do Sindscope

(Sindicato dos Servidores do Colégio Pedro II)

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