Foto: Manifestante balança bandeira chilena diante de igreja incendiada em Santiago, neste domingo (18 de outubro de 2020). Martin Bernetti / AFP
Maria Alice de Carvalho – Redação Universidade à Esquerda – 19/10/2020
No dia de ontem (18), milhares de pessoas se reuniram em Santiago, Chile, para marcar o aniversário de um ano das revoltas chilenas contra o Estado e medidas implantadas pelo governo e capitalistas.
A manifestação reuniu pelo menos 25 mil pessoas, de acordo com as informações oficiais do Estado, dentre as quais pessoas de todas as idades. Os grupos de pessoas começaram a chegar desde o início do dia para se reunir na Praça Itália, local que se tornou o centro dos protestos que insurgiram em 18 de outubro de 2019.
Além de marcar um ano da revolta chilena, os protestos do dia de ontem tratavam também do plebiscito que ocorrerá no próximo domingo (25), referendo que irá decidir se a Constituição herdada da época da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) será mantida ou não no país.
Assim como nos protestos do ano passado, a população chilena expressou sua revolta nas ruas. Duas igrejas foram incendiadas em Santiago, dentre as quais a capela dos Carabineiros San Francisco de Borja. A outra igreja incendiada foi a paróquia Asunción. Na zona sul da capital, em Puente Alto, os manifestantes incendiaram uma estação de metrô, enquanto cerca de outras 300 pessoas agiram contra a 20ª delegacia dos Carabineiros, utilizando coquetéis molotov e outros objetos possíveis.
Nos protestos do ano ano passado, os Carabineiros foram protagonistas na utilização de repressão de extrema violência contra os manifestantes, chegando a utilizar soda cáustica e capsaicina em lança-águas contra as massas de pessoas que reivindicavam por melhores condições de vida. Muitas sofreram queimaduras e outras chegaram a ficar cegas. No começo deste mês, no dia 06 de outubro, os Carabineiros atiraram um jovem da ponte PioNono durante manifestação por nova Constituição e reformas no sistema de aposentadoria.
Além dos incêndios, no dia de ontem ocorreram também saques a supermercados e barricadas no começo da noite. Na Praça Itália, durante os protestos houve batucadas, apresentações de coletivos, música ao vivo e outras manifestações culturais.
Quanto ao plebiscito que ocorrerá no próximo domingo para decidir sobre a Constituição chilena, este é um acerto político entre as forças políticas do país em busca de tentar uma saída institucional ao conflito social. O plebiscito já foi adiado uma vez, em decorrência da pandemia da Covid-19, e ocorrerá sob complexos protocolos de segurança. Uma das medidas estabelecidas pelas autoridades do governo é que os infectados pela Covid-19 não poderão votar, assim como seus contatos próximos.
Uma das características dos protestos chilenos é que estes ocorrem à margem das estruturas de partidos e sindicatos. Os protestos inclusive expressam sua insatisfação com o frequente abandono que as direções de seus partidos e entidades de esquerda vem realizando há anos. Uma denúncia à posição de conciliação que os partidos de centro-esquerda vêm adotando no país, mesmo que às vezes apareçam como uma oposição ao atual governo. Os protestos chilenos reivindicam mais de suas entidades organizativas.
Além da grande concentração em Santiago, em outras cidades manifestações também ocorreram. Como em Coquimbo, onde um grupo de pessoas teve confronto com os Carabineiros.
A revolta chilena permanece viva contra o Estado e medidas do governo e capitalistas. Há um ano atrás, os protestos massivos ocorriam para travar as lutas da classe trabalhadora. Hoje, a população chilena volta às ruas novamente.