Montagem: UàE.
Nina Matos* – Redação Universidade à Esquerda – 08/03/2021
Anualmente o dia 8 de março é comemorado como Dia Internacional das Mulheres. Um dia marcado pela memória das lutas em prol do sufrágio, das melhores condições de vida, do direito ao abortamento seguro e demais reivindicações relacionadas à equidade.
Foi em 1975 que a ONU decretou oficialmente como dia internacional, contudo, essa data já era comemorada há anos, partindo de manifestações e greves feministas de meados do século XIX que começaram a tomar corpo no início do século XX. Culminando, em 1911, na primeira comemoração oficial que se tem registro (ocorrida no dia 19 de março). Nesta data, mulheres socialistas lideraram protestos e greves e celebravam as conquistas que vinham obtendo com suas lutas.
Neste ano de 2021, a data que já trazia um forte peso devido a ascensão de uma direita conservadora regada por discursos de ódio dos mais torpes e da deterioração das condições de vida — com perdas de direitos, como a reforma da previdência, a reforma trabalhista, etc. —, também recordamos da primeira morte por coronavírus no país: Cleonice Gonçalves, que faleceu no dia 17 de março, foi uma mulher negra, que trabalhava como doméstica cuidando de sua patroa (que fora infectada em viagem à Itália).
Histórias como a de Cleonice não são excepcionalidades, o que torna as questões das mulheres indissociáveis da própria luta de classes. Traçando um paralelo direto, vemos que as áreas de trabalho mais ligadas ao cuidado, como saúde e educação, são compostas majoritariamente por mulheres. São justamente as áreas em que as alterações promovidas pela pandemia se apresentaram de maneira singularmente dramática.
Logo, referente à crise sanitária, o que vemos é que o impacto do Covid-19 contra as mulheres toma outro corpo. Na linha de frente em hospitais e unidades de saúde, principalmente nas posições de enfermeiras e técnicas, as trabalhadoras defrontam-se com o sucateamento da saúde pública, refletindo na falta de leitos, de medicamentos e de EPIs para sua própria proteção.
Na educação, outra área onde predominam mulheres, as pressões para adoção do ensino remoto atribuíram trabalho dobrado àquelas que, em grande maioria, já se desdobravam no cuidado da casa e dos filhos. Conforme avançou a pandemia, a imposição do retorno presencial das aulas ceifou diversas trabalhadoras, também defronte ao sucateamento da educação.
Há, ainda, as trabalhadoras da limpeza, geralmente terceirizadas, que estão por toda a parte mas continuam, para muitos, invisíveis. Sem direitos, com vinculações de trabalho instáveis e salários ainda mais reduzidos que a média.
Não é apenas com o vírus que as condições de vida das trabalhadoras deterioram-se. A crise econômica, que já dura uma década, foi potencializada pela epidemia da Covid-19. O aumento no preço da cesta básica, somado ao desemprego e à informalidade, exigiu não apenas o suor, mas também o sangue de muitas mães que precisavam minimamente alimentar sua família.
Em todo o dia 8 de março diversos segmentos sociais buscam dar sentido a essa data, fruto da luta de trabalhadoras de todo o mundo. As classes dominantes, tentando apagar a história dos movimentos, elenca mulheres “empreendedoras” como “empoderadas”, que através do “mérito” hoje são lideranças de grandes empresas. Puxam citações de mulheres conservadoras que contribuíram com o massacre de muitas outras.
Neste dia 8 de março, é essencial que possamos retomar a história das mulheres do passado, trabalhadoras que ergueram grandes greves, conquistando direitos fundamentais. Que na esteira dessas histórias possamos romper com as estruturas que hoje nos oprimem — o patriarcado e o capitalismo.
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