Greve pandemia professores são josé sc
Imagem: SINTRAM-SJ Fotógrafo: desconhecido

[Notícia] Professora denuncia: Prefeitura de São José (SC) demite professores em greve

Imagem: SINTRAM-SJ.

Lucas Henrique – Redação UFSC à Esquerda – 22/03/2021

Logo após o carnaval e com o agravamento da pandemia, a prefeitura de São José (SC) decidiu manter o retorno às aulas presenciais, ainda que as condições de trabalho e proteção de estudantes e professorem fossem apenas promessas. Dia 24 de fevereiro os servidores municipais de São José entraram em greve, com uma reivindicação bastante razoável para o momento: “Os trabalhadores não irão aceitar o retorno às salas de aula enquanto não houver CONDIÇÕES SANITÁRIAS SEGURAS E O CONTROLE DA PANDEMIA, com garantia de EPIs, estrutura física adequada, testagem, rastreamento e vacina de acesso público e universal para todos”. A prefeitura de São José foi irredutível em relação a pauta mínima estabelecida pelos trabalhadores, não aceitou a manutenção do ensino remoto e agora demite os professores ACT (Admitido em Caráter Temporário) que participaram das mobilizações.

A maior parcela dos professores das escolas públicas trabalham no regime ACT, essa característica é marcante tanto na educação municipal quanto na estadual. Não se realiza concurso público para a contratação de professores, de forma que anualmente os professores devem se submeter a seleções para ACT e os contratos são, geralmente, por período menor que um ano. Em alguns municípios os professores contratados dessa maneira não recebem sequer FGTS, não recebem salário o ano inteiro, e vivem a precariedade da educação na pele.

O SINTRAM-SJ está realizando um abaixo assinado pela readmissão dos professores ACTs demitidos:
http://chng.it/VFPqMRDGsq

É o que denuncia a professora Karina Segantini nas redes sociais:

Gostaria de fazer uma denúncia. Sei que estamos vivendo dias trevosos e denúncias se tornaram banais, mas mesmo assim insisto, para não me calar e aceitar como normal. Fui demitida, antes de ontem, como professora substituta ACT (eu e todos os outros ACTs) pela prefeitura de São José por lutar pela minha vida e de toda comunidade entrando na greve dos professores do município. Em tempos fascistas, estamos perdendo nossos direitos trabalhistas, como o direito constitucional de fazer greve. Santa Catarina, por pressão das escolas particulares, passaram a considerar a educação como serviço essencial e as escolas não podem fechar por conta própria. Estão considerando a greve como ilegal e cobrando do sindicato, multa diária de 100 mil reais. O sindicato deve um milhão e seiscentos mil reais de multa. Querem acabar com os sindicatos, que é uma das nossas ferramentas de luta por direitos trabalhistas. O prefeito Orvino e a secretária de educação Liliam, em nenhum momento receberam o sindicato pra dialogar, estão pouco se lixando pra nossa categoria. E até mesmo antes do sindicato anunciar a greve, já consideraram a greve ilegal, ameaçando-nos pelos jornais. Como já disse anteriormente em outra postagem, as escolas não estão em condições de terem aulas presenciais, estamos no pior momento da pandemia, sem vacinas, não há mais leito em SC, as pessoas estão morrendo em casa, pois os hospitais entraram em colapso. Nossos governantes fingem que está tudo ótimo e não tomam medidas mais sérias e efetivas para o controle da pandemia.
Acompanhei durante esses dias, estando empregada, muitos colegas de profissão serem contaminados e morrerem, a situação é desesperadora, além de que colocaram a sociedade contra nós professores. Muitos profes estão vivendo à base de remédios pra levantar da cama e pra dormir, vão trabalhar com medo, tendo que escolher entre morrer de doença ou de fome. Estão escondendo o número de infectados nas escolas públicas, simplesmente afastam a pessoa por 1 semana e a escola e turmas continuam abertas. Os profes que possuem atestado de comorbidades não estão sendo enviados pra casa pra trabalharem no ensino remoto, como havia sido afirmado pelos protocolos. Estão deslocando essas pessoas para outras funções dentro da própria escola, como por exemplo, medir a temperatura dos alunos, colocando-os em maior risco ainda, forçando-os a desistir e voltar pra sala de aula. Não estão fornecendo equipamentos de proteção adequados para os trabalhadores. Os alunos estão se aglomerando durante os intervalos, na entrada e saída da escola. Já sabíamos que isso iria acontecer, que os protocolos não funcionariam, mas não querem nos ouvir e não estão se importando com as mortes, que seriam completamente evitáveis, simplesmente nos colocando para trabalhar em casa, como foi durante todo o ano que passou, até que chegue a vacina. Os protocolos foram criados em outro momento, não foram atualizados em relação a cepa nova e havia tido um acordo de que eles somente seriam colocados em prática quando a doença estivesse no laranja. Isso não foi feito. Estão disseminando o vírus e matando trabalhadores, familiares e crianças. Isso é criminoso! Ilegal não é a greve, mas sim matar pessoas. Essa semana houve um acordo entre os prefeitos da grande Florianópolis de fecharem as escolas por mais uma semana. Porém, houve pressão por parte das escolas particulares novamente e conseguiram derrubar o decreto pra fechar. Nunca pensei em assistir todos esses abusos e injustiças. A sociedade precisa saber sobre esses fatos e se posicionar, pois sem o apoio da sociedade isso irá continuar acontecendo. Não conseguimos lutar sozinhos, a greve teve fim e os professores terão que ir pro abate.

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