Montagem UàE com base nas fotos de André L P de Souza/Wikicommons e Jefferson Rudy/Agência Senado.
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[Notícia] Crise de oxigênio e colapso na saúde do AM é alvo da CPI do Covid

Montagem UàE com base nas fotos de André L P de Souza/Wikicommons e Jefferson Rudy/Agência Senado.

Nina MatosRedação UàE – 25/05/2021

Na última quarta (19) e quinta-feira (20), o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, foi ouvido pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid.

A oitiva estava prevista, inicialmente, para o dia 5 deste mês, mas foi adiada quando o ex-ministro alegou que teve contato com pessoas contaminadas pelo Covid-19. No fim, o depoimento de Pazuello acabou estendendo-se em dois dias pois, após uma interrupção da sessão na quarta-feira, Pazuello passou mal, o que levou à suspensão da sessão.

Pazuello foi o ministro que esteve por mais tempo no Ministério da Saúde (MS) durante a pandemia, atuando no comando da pasta em momentos trágicos da pandemia no país.

Dos episódios mais impactantes e que gerou diversos questionamentos está o desabastecimento de oxigênio e colapso do sistema de saúde e funerário no estado do Amazonas (AM). O ex-ministro, ainda, está sendo investigado por improbidade administrativa devido a omissão no caso do AM. A denúncia foi formalizada pelo Ministério Público Federal.

Os senadores integrantes da CPI questionaram Pazuello, que foi convocado como testemunha, no sentido de confirmar quando o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) teve conhecimento da crise no AM, bem como sobre as ações da presidência em relação à saúde no estado.

O ex-ministro insiste que só tomou conhecimento da possibilidade de desabastecimento de oxigênio no estado no dia 10 de janeiro. Entretanto, Pazuello já havia assumido publicamente, ainda em janeiro, que teve conhecimento no dia 8 de janeiro.

Além disso, documentos da fornecedora de oxigênio no estado, a White Martins, e da Secretaria de Estado de Saúde do AM demonstram que o MS estava sendo alertado da possibilidade de desabastecimento desde o dia 7 de janeiro.

Outra prova da omissão do governo federal foi a confirmação da presença de Bolsonaro na reunião interministerial que decidiu pela não intervenção no AM frente ao colapso dos hospitais.

Pazuello, em seu depoimento, reiterou que o presidente participou da reunião e que a decisão de não fazer nada foi tomada pela compreensão de que o governador do AM conseguiria controlar a crise sem a intervenção do governo federal.

Essa decisão fez com que não apenas o estado enfrentasse o maior colapso visto no país, como também dificultou o transporte de diversos cilindros de oxigênio para o estado.

Doações de oxigênio vindas dos Estados Unidos e da Venezuela encontraram dificuldades de alcançar o território do AM devido à falta de apoio do governo federal.

No caso da Venezuela, o oxigênio foi transportado por via terrestre, tendo o governo federal deixado de contatar o país até mesmo para agradecer a doação, segundo o depoimento do ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.

Encaminhamentos pelos próprios estados brasileiros também poderiam ter sido facilitados caso o governo federal interviesse, oferecendo recursos para transporte aéreo. De Belém para Manaus, por exemplo, os cilindros foram transportados por balsas, prejudicando a eficiência da entrega.

Pazuello tentou, ao longo de seu depoimento, escoar a culpa de sua inação em relação ao AM para o governo estadual e para a empresa fornecedora. De acordo com o ex-ministro, tanto a White Martins quanto a Secretaria de Estado de Saúde do AM foram pouco claras ao relatarem a possibilidade de desabastecimento.

Há, ainda, uma série de escândalos nos quais o ex-ministro envolveu-se com relação ao colapso sofrido no AM. Em visita ao estado no dia 11 de janeiro, Pazuello chegou a participar de uma cerimônia de lançamento da plataforma TrateCov.

A plataforma TrateCov foi divulgada nos meios de comunicação do governo federal e prometia auxiliar o trabalho médico de diagnóstico da Covid-19. Nesta plataforma haviam orientações para o uso de cloroquina e ivermectina — orientando, inclusive, sua administração em mulheres grávidas e crianças.

A falta de uma política séria de combate à pandemia por parte do governo federal permitiu que situações graves de desabastecimento de insumos e falta de leitos de UTI pudessem ser observadas na maioria dos estados brasileiros.

Por sua vez, o lento ritmo de vacinação — reflexo da política anti-vacina de Bolsonaro — fará com que a pandemia perdure por um período muito mais longo em comparação a outros países que começaram a vacinar mais cedo e em ritmo mais acelerado.

Após o depoimento de Pazuello, a CPI cogita convocá-lo novamente a fim de elucidar pontos que apresentaram divergência entre outros depoimentos e demais fatos públicos.

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