Foto: Trabalhadores do transporte público de Florianópolis em assembleia. Fonte: Sintraturb.
Leila Regina – Redação UFSC à Esquerda – 02/05/2021
A discussão sobre os grupos prioritários para vacinação de Covid-19 tem gerado intensos debates entre várias categorias. Quem deve ter prioridade de vacinação e que grupos estão se expondo mais neste contexto de pandemia?
Recentemente os trabalhadores da educação tiveram sua vacinação antecipada e já começaram a receber vacina em vários locais do país. Em Florianópolis (SC) a vacinação desse grupo iniciou no dia 25 de maio pelos profissionais da educação especial e logo em seguida os da educação infantil. Agora os trabalhadores dos demais níveis de educação também já estão sendo vacinados na cidade.
Nesse contexto outros profissionais que estão expostos desde o início de pandemia, muitas vezes com poucas condições de proteção e distanciamento, tem exigido que também sejam vacinados. Nesse grupo estão os profissionais do transporte público.
A discussão sobre prioridades tem levado em conta principalmente faixa etária, comorbidades e os profissionais da saúde. Mas agora com ampliação dos grupos outros critérios estão sendo levantandos. Nesse debate também fica evidente que há grupos que não seriam de serviços essenciais, mas que pela falta de políticas de auxílio econômico eficazes tem se exposto mais ao contágio. Há vários indicadores que apontam questões econômicas, raciais e de moradia como fatores que aumentam o risco de contágio e mortalidade.
Em estudo que busca identificar possíveis correlações entre trabalho e pandemia no Município de São Paulo, o Instituo Pólis, destaca que pedreiros, empregadas domésticas e motoristas de carros de aplicativo estão entre as ocupações mais afetadas de acordo com a mortalidade por Covid-19. Essa realidade provavelmente se repete em outras capitais. Os trabalhadores mais precarizados não pararam de trabalhar presencialmente em nenhum momento da pandemia. Os do transporte públicos, mesmo em momentos e lugares em que houve alguma restrição de lotação seguiram trabalhando em condições de grande exposição.
O Sindicato dos Trabalhadores em Transporte de Pessoas em Florianópolis e Região/ Sintraturb, divulgou documento em que expões a demanda da categoria. Eles exigem imediata vacinação para continuarem trabalhando, na postagem nas redes sociais o Sindicato defende que a vacinação deveria atender toda a população, mas que diante da falta de vacinas suficientes entendem que deveriam estar na lista de prioridades, ainda mais quando trabalhadores do transporte aéreo já estão recebendo vacinas.
Confira a postagem completa do Sintraturb que reproduzimos abaixo:
“SEM VACINA O TRANSPORTE PODE PARAR
E inegável que tivemos paciência e responsabilidade diante de todo o momento que estamos vivendo, há mais de um ano e dois meses. É inegável nosso esforço de tentar diminuir os impactos das paralisações do transporte, principalmente na questão da preservação dos empregos. Mas, para tudo tem limite em nossas vidas, inclusive para a paciência.
Tivemos companheiros trabalhando e se arriscando perigosamente o tempo todo para transportar os heróis da saúde. Hoje temos quase dois mil companheiros na linha de frente se arriscando para transportar a população para suas atividades. Na verdade, nos arriscamos diariamente para manter nossas cidades funcionando e as pessoas que saem diariamente para ganhar o pão e sustentar os lucros de seus patrões.
Assim como nos arriscamos para enriquecer essas empresas que exploram o transporte e que continuam aqui, inclusive recorrendo à Recuperação Judicial para se proteger e dar “calote oficial” em seus credores, a maioria deles trabalhadores que as construíram.
Em todos os anos passados, nessa época do ano estávamos trabalhando “vacinados contra a gripe H1N1”. No entanto, no momento mais perigoso de nossas vidas, neste ano, nem a vacina contra a gripe nos possibilitaram. O mais grave, é que sequer sabemos se vamos ser vacinados contra a COVID-19, aliás, patrões e Poder Público nem tocam no assunto, enquanto isso, não tomam atitude imediata contra quem está fraudando atestados médicos para “furar a fila”.
É absurdo e inaceitável vermos decretos do Poder Público autorizando a vacinação de parte dos trabalhadores do transporte aéreo, enquanto nega para nós, os trabalhadores do transporte terrestre, em muito maior número e com risco muito maior.
EXIGIMOS A IMEDIATA VACINAÇÃO PARA CONTINUARMOS TRABALHANDO
Desde que chegaram as primeiras vacinas no pais, a diretoria do SINTRATURB cobra dos patrões, da prefeitura de Florianópolis e do Governo do Estado, quando seremos vacinados. Também queremos saber quantos trabalhadores do transporte público adoeceram e quantos perderam a vida. Esses dados existem e tem que ser disponibilizados.
Desde o ano passado estamos enviando ofícios à PMF solicitando as mais variadas informações, que nunca foram respondidos. Renovamos os pedidos em 2021 também.
No dia de ontem, a diretoria protocolou novo documento nas Secretarias de Florianópolis e do Estado, solicitando quando nossa categoria será vacinada contra a COVID. Mais que isso, nos dois documentos comunicamos que a categoria está aflita e eu iniciaremos a mobilização e poderemos paralisar nosso trabalho em busca deda vacina.
NÃO É PRIVILÉGIO, É DIREITO
A vacina deveria e poderia estar disponível para toda a população, assim, não haveria necessidade de ninguém reivindicá-la. Só estamos exigindo prioridade no nosso direito porque não tem vacina para todos e existe um protocolo de vacinação para alguns grupos, portanto, um grupo como o nosso, que tem contato com milhares de pessoas diariamente, já deveria ter sido colocado como prioridade há muito tempo.
Podemos brincar com muitas coisas em nossas vidas, mas, não podemos brincar com a vida, muito menos podemos admitir que BRINQUEM COM NOSSAS VIDAS e de nossos familiares, que nos recebem em casa diariamente e ficam em risco também.
VACINAÇÃO JÁ OU PARALISAREMOS O TRANSPORTE!”
Segue também imagem do documento entregue pelo sindicato ao Secretário Municipal de Mobilidade e Transportes do município em que é exposta a demanda da categoria e os riscos a que estão expostos: