Editorial: "O imobilismo universitário pode estar caindo por terra"

Redação – 27/04/2015
A realização dos atos nos últimos dias nos dão sinais de que o imobilismo universitário pode estar caindo por terra. Enquanto parte das forças da juventude está atrelada à reitoria ou às forças da direita – como o DCE, dois movimentos chamaram a atenção da comunidade universitária. O primeiro deles é o dos estudantes que estão sendo violentamente expulsos da universidade pública devido a uma política de permanência estudantil propositadamente devastadora. Outro movimento foi o dos estudantes de pedagogia, que surpreenderam mais uma vez a universidade com uma enorme demonstração de mobilização da juventude contra as péssimas condições de estrutura física encontradas no bloco de salas de aulas do Centro de Ciências da Educação (CED). Ambos os movimentos mostram a força da juventude em se organizar para lutar pelo direito a educação.
Tudo isso ocorre em uma conjuntura que não é particular da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), mas um sintoma do quadro das universidades federais e estaduais por todo o país. Esse ponto é fundamental: essas lutas não são particulares, mas a luta geral pelo direito de estudar nas universidades públicas num momento em que a tendência geral que está colocada é a deterioração geral das condições de ensino e de trabalho nessas instituições. É por isso que tanto a Associação Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-SN), quanto a Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-Administrativos em Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil (FASUBRA) devem apresentar nos próximos dias indicativos de greve para maio desse ano.
Ainda que não estivessem conscientes de sua generalidade no processo de lutas pela universidade pública, cada um desses movimentos participa igualmente do cenário de resistências. Afinal, a conjuntura nacional é a de um expressivo corte de verbas para as universidades públicas, associado com o repasse dessas verbas para as privadas (por meio de programas como PROUNI e FIES). Ainda mais porque o corte de verbas ocorre em um cenário perturbador para as universidades, especialmente para as federais: os reitores dessas universidades em sua ampla maioria funcionam como capachos do governo federal, usando uma matemática grosseira para encobrir os efeitos devastadores dos cortes de verbas e negociando às escondidas em gabinetes soluções privatizantes. Isso é visível quando vemos o papel desempenhado pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES) – que reúne os reitores das instituições federais – de ampla e irrestrita defesa das políticas do governo. A vergonhosa atuação dos reitores, incluindo Roselane Neckel (reitora da UFSC), demonstra não apenas a mediocridade intelectual à qual os ocupantes dos cargos rebaixam suas universidades e suas reitorias; mais que isso: representa a quebra de um princípio republicano de separação e autonomia entre governo e universidades.
As universidades imaginadas no bojo das revoluções burguesas jamais mergulhariam no mar de lama das políticas do governo para fingir que não há corte de verbas para a educação pública. Essas instituições, imersas em um compromisso moderno, compreendiam que seu papel exigia distanciamento das políticas conjunturais, dos governos e do orçamento. O patético papel desempenhado pelas reitorias, e portanto por todos os trabalhadores das universidades federais, rompe com a autonomia substantiva das universidades e coloca-as em risco. Afinal, se as universidades se comportam como meros estabelecimentos administrativos do governo, esse poderá dispor delas como bem entender. No cenário que existe hoje no Brasil, em que estamos assistindo ainda a primeira leva do duradouro corte de verbas para a educação – e para os direitos sociais como um todo – isso certamente irá significar um risco à carreira pública dos servidores e à gratuidade do ensino.
Em tempos como esse, em que a reitora age como bem quer e os professores parecem absolutamente coniventes com a transformação da UFSC em uma repartição menor do Ministério da Educação, a coragem dos estudantes mobilizados nesses movimentos é muito bem-vinda.

Um comentário

  1. O texto não esta bom. Primeiro, o texto deveria servir para responder porque “o imobilismo universitário pode estar caindo por terra”. Não o fez. Trouxe uma conjuntura nacional, mas em momento algum traçou características locais do porque os estudantes estão se movendo. Pode dizer que é implícito com essa conjuntura nacional. Vou discordar porque não consegue fazer a conexão de causa e efeito. Segundo, cai nos mesmos erros dos “tradicionais” grupos políticos do movimento estudantil, ficam muito na discussão superestrutural e esquecem da realidade mais próxima. Não sei qual foi o sentido que o autor quis dar, mas se quer que eu compreenda melhor esse texto, ou muda o título, ou muda o texto.

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