Imagem: Divulgação do DCE
Flora Gomes – Redação UFSCàE – 10/09/2021
O Diretório Central dos Estudantes (DCE) convocou na última quarta-feira (08) uma reunião do Conselho de Entidades de Base (CEB) para discutir dois pontos muito relevantes para a universidade: 1) A minuta que foi apresentada na Câmara de Graduação (CGrad) há algumas semanas, que propõe a adequação de parte do currículo dos cursos para a modalidade a distância mesmo após o fim da pandemia; 2) A proposta de reforma do Centro de Convivência organizada pelo Sindicato dos Professores das Universidades Federais de Santa Catarina (APUFSC). A reunião irá ocorrer hoje (10) às 18h.
O CEB é um espaço de reunião e deliberação de todos os Centros Acadêmicos (CAs) e do Grêmio do Colégio de Aplicação da UFSC. Ele é uma instância vinculada ao DCE e superior à esta entidade. Devido a essa amplitude e hierarquia, o espaço é extremamente importante para o movimento estudantil organizar a política.
Na sessão de hoje, serão debatidas duas questões importantes para a universidade. A primeira, é a minuta (Processo n˚ 23080.027960/2021-11) em pauta na CGrad, que visa instituir 40% dos currículos de cursos presenciais na modalidade a distância. Esta proposta explicita que o suposto caráter emergencial do “Ensino Remoto” não passou de um mecanismo ideológico de convencimento. Agora, após mais de 12 meses cursando o Ensino a Distância (EaD), as universidades desenvolveram a estrutura física minimamente requerida – incluindo as parceria público-privadas com capitais ligados à tecnologia da informação. Além disso, durante esses meses, forjou-se a disposição subjetiva necessária para levar a cabo um projeto tão incompatível com as potencialidades das universidades públicas. Foram necessários muita pressão e tempo para que hoje os bancos de aulas e os modelos de “podcast de ensino” sejam associados diretamente à realidade das universidades públicas.
A minuta em pauta na CGrad explicita a incorporação, por dentro das universidades, do modelo de educação preconizado pelo atual governo. A portaria federal que está anexada ao processo da UFSC é de n˚ 2117/2019, assinada pelo então Ministro da Educação, Abraham Weintraub. O ex-ministro ficou amplamente conhecido pelo seu projeto danoso para as universidades públicas e pela campanha de desmoralização das mesmas.
Na minuta em questão, há a possibilidade de 40% dos currículos dos cursos da UFSC serem transformados em EaD. Nota-se que o texto refere-se a estes como “cursos presenciais”, imputando uma diferenciação que até então não se apresentava na universidade. “Cursos” era sinônimo de “cursos presenciais”.
Para debater com esse projeto de universidade, que tem sido rapidamente assimilado pela UFSC, diversos Centros Acadêmicos juntos à Associação de Pós-Graduandos organizaram ontem uma Aula Magna sobre o tema: “Contra a Universidade Fictícia: do ensino digital à privatização!”. Confira a gravação do evento clicando aqui.
A segunda pauta diz respeito à reforma do Centro de Convivência. Ele é um prédio localizado no coração da UFSC Campus Trindade, próximo ao Restaurante Universitário, reitoria e o “laguinho”, este último, espaço de descanso e socialização de diversas pessoas. Atualmente, o segundo andar do prédio está fechado, e no primeiro, estão as sedes do DCE, APG e dos correios. Apesar de já ter sido um importante espaço de socialização, e também, uma fonte de financiamento para o movimento estudantil, atualmente ele é um prédio em degradação visível.
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Há pouco menos de uma década, o Centro de Convivência possibilitava ao movimento estudantil se reunir com frequência. Eram realizadas atividades culturais e políticas em um espaço próprio dos estudantes. Também havia uma fonte de renda estável para o DCE na época, já que a entidade geria um “xerox”. Contudo, parte do prédio foi entregue à reitoria para a realização de um evento sob a condição de que a Administração Central reformasse o espaço. A reforma não ocorreu e hoje a política é de abandono completo do patrimônio.
Imagem: Centro de Convivência da UFSC (Agecom)
O prédio foi reaberto durante a greve da UFSC contra o Future-se em 2019. Os estudantes buscaram recolocar em pauta a importância do prédio para a mobilização política dos discentes nas universidades, recuperando sua história e os compromissos não cumpridos pela reitoria. Contudo, com a derrota da greve, o prédio foi novamente fechado pela segurança da universidade.
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Atualmente, a APUFSC tem demonstrado interesse em reformar o prédio, pois parte do dinheiro do sindicato está aplicado em fundos de investimento. Há vontade de aplicar o montante em algo mais seguro. Soma-se a isso, o fato de que a APUFSC, para manutenção de sua sede, loca um prédio no bairro da Trindade. Esse investimento na reforma, portanto, poderia significar, a longo prazo, uma economia no valor do aluguel. A especulação imobiliária no entorno da UFSC opera um papel importante na gestão do patrimônio da instituição.
Por parte do sindicato, há interesse em negociar com os estudantes, visto essa busca por economia e melhor custo-benefício da aplicação dos rendimentos. Por parte dos estudantes, também há interesse em que seja feita, finalmente, a reforma prometida há anos. Contudo o que está em jogo são os termos a serem pactuados.
A APUFSC tem pressionado o movimento estudantil para que o prédio seja cedido à reforma antes de os estudantes saberem qual é, efetivamente, o projeto para o prédio. Ademais, o sindicato defende um contrato vitalício.
Os estudantes, após votação em CEB, enviaram um ofício com questionamentos sobre as intenções da entidade para o usufruto do espaço. Contudo, a resposta oficial dada pela APUFSC foi extremamente evasiva. Esse tipo de postura gera insegurança nos estudantes, pois há receio, por parte do movimento estudantil, de que o prédio passe a ser gerido e controlado pelo sindicato, frustrando as possibilidades políticas dos estudantes para o prédio. Há, por exemplo, um auditório dentro do convivência, que poderia ser extremamente útil para que haja maior autonomia estudantil tanto na organização de eventos, quanto de reuniões políticas. O espaço é vasto e poderia abrigar momentos de confraternização fundamentais para a política financeira dos CAs e DCE. As possibilidades são muitas, o que não pode é faltar a disposição política para defender o interesse dos estudantes.
Mesmo chamado às pressas, o que dificulta a discussão prévia das pauta nas reuniões dos CAs, o CEB de hoje é bastante relevante para questões chaves hoje na UFSC. A sessão está marcada para iniciar às 18h.