Foto: Montagem realizada pelo UàE, com base nas fotos de CUT/Roberto Parizotti (ao fundo) e de Valdenio Vieira/PR.
Maria Alice de Carvalho – Redação Universidade à Esquerda – 19/10/2021
O aumento da inflação segue atingindo duramente a vida dos trabalhadores no Brasil. No último mês de setembro, a inflação ultrapassou os dois dígitos em 12 meses, com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subindo 1,16%. No mês de agosto o IPCA havia marcado 0,87%.
O aumento do Índice marcou sua maior variação mensal para um mês de setembro desde o início do Plano Real, em 1994.
O cálculo do IPCA é realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que, para tal, divide a pesquisa em 9 grupos. Destes, oito tiveram aumento, com destaque para a Habitação (2,56%), que reúne os custos de moradia dos brasileiros.
O custo da moradia teve seu aumento impactado por diversos fatores, dentre os quais a alta no preço da energia elétrica, que teve alta de 6,47%, a partir da bandeira de escassez hídrica – a mais alta desde a criação do sistema de bandeiras em 2015 -. Além disso, houve também aumento no custo da água, do esgoto e do gás de cozinha.
Apesar do destaque para a Habitação, o aumento nos outros grupos de análise não passam sem grande relevância. Na área de Transportes (1,82%), por exemplo, a alta dos combustíveis (2,43%) teve bastante interferência e, no último dia 08 (sexta-feira), a Petrobras anunciou um novo reajuste de 7,2% na gasolina e no gás de cozinha.
O diesel já havia passado por aumento de 8,9% na última semana de setembro. Como um exemplo das consequências desses reajustes, em Fernando de Noronha essa semana a gasolina passou de R$9,10 para R$9,39 e o diesel foi de R$7,59 para R$7,65.
O aumento de itens de consumo básico, como alimentos, água, energia elétrica, gás e combustível, ocorre no mesmo momento em que a renda dos trabalhadores segue caindo, com mais de 14 milhões de pessoas desempregadas e com uma taxa de informalidade no trabalho de 40,8%, o que representa 36,295 milhões de trabalhadores, de acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada pelo IBGE no dia 30 de setembro.
O presidente Jair Bolsonaro e seu ministro da economia, Paulo Guedes, seguem afirmando que a realidade de uma hiperinflação está ocorrendo e subindo em todos os países, como algo “natural”. Porém, os estudos apontam que no Brasil o aumento elevado dos preços foi maior do que no resto do mundo.
O ano de 2021 deve ser encerrado com a inflação no Brasil maior que a de 83% dos países, de acordo com estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). A estimativa é que a inflação no Brasil chegue ao final de 2021 em 7,9%. De acordo com o apurado entre os países categorizados como emergentes, a média deve ser de 5,8% e a média mundial é de 4,8%. E o Brasil estará bem acima de ambas.
Enquanto esse cenário vai se realizando e, de acordo com o estimando, se acirrando ainda mais, os trabalhadores brasileiros e suas famílias seguem sentindo esses impactos da forma mais dura possível. Para sobreviver, aumenta o número de pessoas que precisam coletar comidas do lixo para se manter, como foi registrado em Fortaleza (CE) ao fim de setembro.
As filas de pessoas em busca de ossos para se alimentar só aumentam e se espalham por diferentes cidades do país, em lugares onde precisam inclusive pagar pelos ossos, como registrado em Florianópolis (SC).
Aumenta o número de famílias que precisam arranjar outras formas de cozinhar, como fogão a lenha ou outras alternativas mais perigosas, como uma mulher e mãe que faleceu no final do mês passado por estar cozinhando com álcool por não ter condições de comprar gás de cozinha. Geisa Sfanini teve 90% do seu corpo queimado em 2 de setembro e morreu no hospital, na Grande São Paulo. Seu bebê sofreu também queimaduras em 18% do corpo.
Esse é o atual cenário miserável do país, onde a cada dia que passa os trabalhadores seguem pagando com suas vidas e com seu suor, nas piores condições de trabalho possíveis, uma crise sem precedentes e que esteve longe de ser produzida por suas mãos.