Maria Alice de Carvalho – Redação UFSC à Esquerda – 31/05/2022
O retorno das aulas presenciais na Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) tem sido marcado pela ausência de políticas de permanência para que todos os estudantes possam construir uma trajetória universitária de forma igualitária.
A comunidade universitária da Udesc iniciou o primeiro semestre de 2022 sem Restaurante Universitário (RU). Inicialmente, a política de alimentação adotada pela reitoria foi a de abertura do espaço da universidade para instalação de Food Trucks, através de uma parceria com a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL).
A política foi considerada absurda e sem nenhuma conexão com um projeto de permanência estudantil. A alimentação nos Food Trucks se mostrou caríssima e, ao fim e ao cabo, foi apenas uma forma de transferência da verba da universidade para a iniciativa privada que utilizou desse espaço com regalias para venda; enquanto se poderia estar investindo em outras formas de garantir alimentação para todos na universidade.
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Os estudantes, frente a este cenário, passaram a se organizar e a se mobilizar contra essa política insuficiente e em luta por políticas de permanência reais. Uma série de mobilizações vem ocorrendo no Campus 1 da Udesc, localizado em Florianópolis, desde o início deste semestre. Os estudantes têm realizado reuniões, panfletagens, RU móvel, atos na reitoria e as mais diversas formas de disputar a política da universidade.
A reitoria, no início deste mês de maio, apresentou uma proposta ao corpo estudantil para a oferta de alimentação nos campi da universidade. A proposta é de abertura do RU com o preço de R$11,74 em Florianópolis; e enquanto isso não ocorresse seriam ofertadas 300 marmitas por dia.
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Além de a oferta de apenas 300 marmitas por dia ser inquestionavelmente insuficiente nesse período incerto, o preço de R$11,74 é muito alto. Os estudantes vêm lutando, desde o anúncio desse preço, pelo subsídio linear no RU e estabelecimento do preço de R$2,00 por refeição para os estudantes.
A partir da pressão das mobilizações estudantis, foi criado um Grupo de Trabalho (GT) chamado pela reitoria para discutir a questão. A página do Diretório Central dos Estudantes – Antonieta de Barros (DCE) divulgou alguns trechos da primeira reunião do GT, que ocorreu no último dia 19 na modalidade online.
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Nos trechos, pró-reitores e outros docentes se manifestam contra o subsídio linear, alegando que os estudantes podem e devem pagar pela refeição no preço integral. Eles dizem que o subsídio linear não é justo, e que “tem até estudante empresário na Udesc”.
A questão é que esses sujeitos colocam o Restaurante Universitário em um lugar de política de assistência aos estudantes mais pobres – o que, inclusive, nem abarcaria todos os estudantes pobres da universidade. Mas o ponto é que o RU deve ser compreendido no interior da universidade pública como uma política universal de permanência, ou seja, parte de um escopo de políticas que oferecem condições de igualdade aos estudantes, sejam eles ricos ou pobres, para que desfrutem da experiência universitária em sua integralidade.
Além de que, se há algum grande empresário como estudante da Udesc, é certo que este está bem longe de ser a regra do estudante médio que frequenta a universidade; e com certeza não é este estudante que deve ser utilizado como parâmetro para a elaboração de políticas universitárias.
Uma pequena prova disso é o alto índice de evasão que se presencia, e não apenas na Udesc, nesse retorno presencial por conta da incapacidade dos estudantes de se manterem morando e se alimentando nas cidades, sobretudo em capitais como Florianópolis onde o aluguel e cesta básica estão altíssimos.
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Uma exigência do movimento estudantil tem sido também a inclusão de 6 representações discentes no GT que discute as políticas do RU. Atualmente, há apenas 2 estudantes compondo o Grupo, que relatam ser de grande dificuldade estarem em um número tão minoritário em um espaço burocrático em que já não possuem voz. A reivindicação de 6 representantes também tem relação com o maior número de Centros estar presente.
Também se reivindica que as reuniões do GT ocorram de forma presencial, com transmissão para toda a comunidade universitária. Isso porque se avalia que realizar as reuniões na modalidade online faz parte de uma estratégia de desmobilização. Todas essas reivindicações seguem sem respostas e sem serem atendidas.
Em vídeo publicado pelo DCE no último dia 17, a estudante Mel também aponta para a importância de as lutas seguirem ocorrendo nas bases, com toda força política possível; e não se limitar a disputar nos espaços institucionais abertos pela reitoria. É apenas nas bases, com mobilização, que se constrói força para disputar o sentido da universidade.
O RU da Udesc retornou no dia de ontem (30), no preço de R$11,74. Os estudantes seguem em luta! Hoje, às 17h ocorre mais uma reunião aberta para seguir pensando as mobilizações.