Não é de hoje que a comunidade universitária está apavorada com a falta de segurança ao circular no campus da UFSC. É claro que isso é um reflexo da própria falta de segurança da cidade, pois os índices de delitos fora do campus são tão elevados quanto no seu interior. No entanto, eis que surge um notícia: drones auxiliarão no monitoramento do perímetro universitário [1]. Na verdade, além disso, há a promessa de outro equipamento de segurança: câmeras que permitem aos cidadãos, através do ID UFSC, realizar o monitoramento remoto. A proposta é clara, pretende-se aumentar a ‘sensação de segurança’. De fato, com a presença de dois drones e um sistema de monitoramento aberto é possível que as pessoas tenham a sensação de segurança, no entanto, esta proposta está longe de ser uma garantia efetiva de segurança. Pelo contrário, para uma grande parcela o monitoramento excessivo gera significante incômodo e propicia um clima de perseguição: seja entre relacionamento amorosos ou simples laços familiares; ou seja, um grande potencial para desencadear até mesmo problemas psicológicos. Além disso, nada garante que alguém com acesso ao ID UFSC não esteja mal-intencionado, seja para monitorar a(o) namorada(o), filha(o) ou ver alguém em situação de vulnerabilidade. E para além destes problemas gerados, há o simples agravante de que esse tipo de política não resolve em nada os problemas relacionados a segurança – na prática, não passa de uma balela. Desde 2013, com o mandato da ex-reitora Roselane, vem-se construindo uma política de interditar a UFSC. Isto é, deixar a universidade o menos acessível possível. O que simboliza muito bem isso é a instalação dos portões nas saídas do campus. Esse espaço público, primeiramente destinado ao ensino, pesquisa e extensão, está longe de manter uma real conexão com a comunidade que nos cerca. Não apenas são quase inexistentes os projetos que de fato proporcionam a Extensão da Universidade para além de seus muros e cercas, como também não há nenhuma outra forma com a qual a comunidade externa possa participar e aproveitar este espaço mantido com dinheiro público. Já não bastasse, então, a completa exclusão dos cidadãos externos, a reitoria faz questão de privar o acesso até mesmo da comunidade interna, haja vista, por exemplo, a proibição de festas no interior do campus. Apesar de todas essas restrições, mesmo que o espaço seja usado apenas para assistir aulas e palestras, uma hora será necessário o acesso a universidade, e então será questão de sorte sofrer um assalto, abuso ou coisa pior. Coibir o fluxo de pessoas no interior da UFSC em determinados dias e horários propicia que este local seja um campo ainda mais vulnerável e quanto mais aumentar o aparato coercitivo, mais impetuosa será a resposta. Vejamos porque esse pacote de política de segurança não passa de um mero conto. O que 10 minutos de monitoria área pode influenciar na contenção dos delitos? O dia tem 24 horas. A utilização de drones nem sequer servirá para vigiar os estudantes que frequentam o bosque. Além disso, o gasto de recursos a fim de preparar seguranças terceirizados para fazer esse serviço e o gasto na manutenção do próprio equipamento é ridículo perante a eficácia do mesmo. A UFSC já tem um exorbitante gasto com o sistema de segurança da Deseg e esta, por sua vez, é completamente ineficaz. No entanto, a administração trata este sistema de segurança como insolúvel dentro dos meios que a universidade dispõe. Com isso, indicam que as alternativas “inovadoras e participativas” de segurança – esse teatro de drones e monitoramento pessoal – são a solução. O que são 15 ou 19 câmeras monitoradas por civis quando já se tem 1.300? Além disso, segundo Leandro Luiz de Oliveira, diretor da Secretaria de Segurança Institucional, este ano a UFSC adquiriu mais 100 câmeras com qualidade melhorada – será uma qualidade imensurável a ponto de conseguir fazer o que hoje milhares de câmeras espalhadas no campus não fazem? Como citado acima, esse investimento promove, no máximo, uma ‘sensação’ de segurança. Esse frustrado sistema de segurança não conteve até hoje os elevados índices de criminalidade e não serão mais 100, 200 ou 1000 equipamentos semelhantes que iram pôr fim a situação, porque não se resolve um problema como este desta maneira. Beira ao ridículo pensar que essas alternativas – centena de câmeras a mais, câmeras que voam, captam luz infravermelho ou que se teletransportam – resolverão os problemas. Isso é uma tentativa superficial de combater a criminalidade e encobrir as raízes sociais do problema. O coletivo UFSC à Esquerda, quando surgiu em 2013, já alertou para a ineficácia de uma política de segurança nesses moldes. Algumas sugestões, a curto e longo prazo, já foram sugeridas aqui [2]. Porém, não é um problema simples de ser resolvido e, justamente por isso, é inadmissível que a atual gestão trate isso de maneira displicente. As propostas apresentadas pela gestão da UFSC são limitadas porque são particulares, em momento algum foi pensado coletivamente em soluções – não houve sequer um chamado para discussão por parte da reitoria ou do DCE. A iluminação do campus é algo que pode ser feito de imediato. É vergonhoso professores, técnicos administrativos e estudantes sendo assaltados e violentados nos lugares mais afastados do centro da universidade e apenas o prédio da Reitoria possuir iluminação ao seu redor. Nesta segunda-feira, dia 20 de março, duas estudantes da licenciatura em matemática foram assaltadas e agredidas no bloco A do CFM, também conhecido como labirinto. Este é um ótimo exemplo de lugar que além da péssima estrutura arquitetônica, não possui nenhuma perspectiva de segurança mesmo se atravessado durante o dia. Infelizmente, casos como o supracitado são recorrentes neste lugar. No entanto, o reitor prefere investir no teatro do monitoramento participativo do que em simples sistemas de iluminação. Outra proposta a curto prazo é a movimentação do campus. Restringir a circulação de carros a noite e impedir os espaços de happy hour cria um deserto na UFSC em determinados dias e horários. No entanto, a fim de preservar o saúde mental, o estudante opta pelos bares da região e caso tenha que atravessar a universidade para voltar, este se encontra num jogo de azar. A restrição do fluxo é contrário de uma solução simplesmente porque pessoas vão ser obrigadas a passar no entorno do campus ou no seu interior. Claro que essa circulação exige que a universidade invista em segurança para as pessoas e não apenas patrimonial. Sem essa de monitoramento aéreo ou participativo. A universidade não é um reality show!! O problema de segurança que enfrentamos hoje é grave. Não dá pra lidar apenas de maneira ilusória como vêm sendo feito com a Roselane e agora Cancellier. É possível pensar em soluções mais eficazes, mas claro, com a consciência de que este é um problema estrutural da cidade. Com uma gestão que se nega a dialogar com os estudantes, não há de se esperar nada por vontade própria. Façamos juntos e lutemos!
[2] https://ufscaesquerda.com.br/a-ufsc-foi-cercada-pelo-imobilismo/