Foto: reunião para debater a segurança no CFM; por Centro Acadêmico Livre de Matemática
Clara Fernandez – Redação UàE – 29/03/2017
Na tarde da última terça-feira (28/03), cerca de 200 estudantes, professores e técnicos do Centro de Ciências Físicas e Matemáticas se reuniram no EFI para debater a problemática da Segurança em seu prédio, por convocação dos Centros Acadêmicos, movidos por um assalto seguido de agressão de duas estudantes dentro do Centro de Ensino. Em uma semana, ainda que se tenha cancelado as aulas noturnas do prédio no dia posterior ao fato, como medida preventiva, os cursos que compõem o Centro também registraram um assalto à mão armada no estacionamento do Departamento de Química e um furto dentro da Coordenação de Matemática. Não é de hoje que a estrutura precária e falta de iluminação do Centro vem gerando este e outros problemas, chegando ao ponto, no ano passado, da Direção manter banheiros masculinos do Centro fechados por um mês, em função de tentativas de estupro.
Mobilizados e unidos pela insegurança que lhes acomete a tempos e apoiados por Centros Acadêmicos de outros Centros de Ensino, a comunidade do CFM discutiu a degradação das condições de segurança que vem sendo imposta pelas políticas de proibição de festas e cercamento do Campus praticadas pelas Reitorias de Roselane e Cancellier, a histórica negligência com a infraestrutura precária do Centro e a proposta da Direção do Centro de fechar os portões do Prédio e manter apenas dois deles abertos no período noturno como medida imediata. Chegando a alguns consensos sobre como poderiam dar visibilidade a situação em que se encontram, deliberaram por um dia de paralisação das aulas no Centro e um ato para entrega de uma carta de reivindicações à Reitoria, com medidas que vão desde a realocação temporária das aulas, ampliação da iluminação dos corredores do Centro, vistoria dos bombeiros da condição de infraestrutura do Centro e por fim uma guarda especializada em lidar com pessoas para a Universidade.
O problema de segurança está sendo tratado pelos estudantes do CFM como todo e qualquer dilema desta Universidade deveria ser, caso se pretenda encontrar soluções efetivas e criativas para os enormes desafios com os quais nos deparamos todos os dias nessa instituição: no debate ao vivo e em um espaço onde professores, estudantes e técnicos tenham a mesma voz e poder de decisão. Contudo, o debate não deve servir apenas para provocar a mobilização, sem que os rumos e possíveis consequências dessa sejam profundamente debatidos por aqueles que pretendem protagonizá-la, ainda mais em um centro que está há cerca de 16 anos sem uma experiência mais avançada de mobilização como uma Greve. Se os estudantes não debatem de forma aprofundada e ampla entre si os significados e efeitos da política pública de Segurança da Cidade como modelo a ser reproduzido nesta Universidade, está dado o caminho para que a Reitoria apazigue os rumos do movimento com políticas que aumentam a sensação de segurança sem qualquer perspectiva de atuação de uma instituição comprometida com os impactos que promove na sociedade.
Suprimir debates como armamento dos seguranças, polícia militar e cercamento do campus, com toda sua problemática, em nome de uma unidade no movimento, torna essa unidade extremamente frágil e vulnerável a todo tipo de tentativa de desmobilização e saídas supostamente fáceis. Um movimento que não se propõe a discutir exaustivamente, se for necessário, as implicações e contradições que estão postas nos problemas que se propõe a enfrentar, está fadado a rebaixar suas pautas, a sofrer grandes retrocessos em qualquer unidade no longo prazo e a aprofundar justamente as investidas e problemas que está disposto a superar.
Se os estudantes desse Centro são capazes de levar adiante uma formação rigorosa em ciências, que é uma das bases para o desenvolvimento humano e tecnológico, mesmo diante do abandono estrutural e degradante das suas condições de ensino, como não seriam capazes de discutir as contradições do que está dado como saída para a segurança, buscando fortalecer alternativas mais comprometidas com a realidade do que a mera reprodução de tudo que vem dando errado na sociedade que vivemos? Ainda que polícia e todo tipo de política de vigilância e repressão se encontrem como saídas que fazem sentido para muitos estudantes, professores e técnicos, se não for possível colocar isto em questionamento e debate entre nossos pares, se não for possível que um movimento coloque em dúvida o que está perfeitamente dado e fazendo sentido dentro da ordem, para que ele serve então?
É este o desafio que está dado em qualquer pauta da Universidade hoje, não basta levantar a bandeira do que nos une, é preciso colocar em cheque o que está dado como natural e impossível de mudar. A eficácia e as conquistas de um movimento não se mede em números e assinaturas de acordos, mas até onde este avança no que se coloca como aparentemente intransponível.
Saudamos e seguimos acompanhando o movimento dos estudantes do CFM, que têm pela frente um desafio enorme a ser superado, mas que em nada difere da história de constituição de seus campos de estudo, que só com muito esforço e rigor conquistaram seu lugar como Ciência. A exigência de estudo e determinação que o futuro coloca será posta à prova tanto por eles quanto por todos nós, que fazemos parte das instituições públicas de ensino.
Muito bom adorei