Astrid Baecker fala em plenária
Arquivo UàE - 24.10.2016 - Professora Astrid Baecker Avila em Plenária dos Sindicatos e Movimentos Contra a PEC55

[Entrevista] “O conjunto das reformas tem um sentido, os ricos mais ricos, e os pobres mais pobres” – UàE entrevista a professora Astrid Baecker Avila, vice-presidente do ANDES-UFSC

Foto: Astrid Baecker Avila, professora da UFSC, em plenária dos Sindicatos e Movimentos Contra a PEC55; Florianópolis/SC 24.10.2016; por UFSC à Esquerda

 

Renato Milis – Redação UàE – 03.04.2017

Hoje o UàE entrevistou a professora Astrid Baecker Avila, do departamento de estudos especializados em educação (EED), e vice-presidente do ANDES-UFSC acerca da tentativa de rearticulação de um movimento unificado entre as categorias e segmentos da universidade. Esta tentativa tem passado pelos chamados da comissão de mobilização unificada que se reuniu na última semana e está chamando para um debate sobre a reforma da previdência amanhã às 17 horas no varandão do Centro de Comunicação e Expressão (CCE). Confira a entrevista na íntegra.

UàE – Astrid, conta pra gente um pouco sobre os processos de mobilização unificada entre as categorias e segmentos na UFSC e a contribuição destes para a construção da greve geral.

Astrid – Então, na verdade a ideia de nós trabalharmos em unidade, técnicos, estudantes e professores, não é uma ideia nova, mas é uma ideia que não adquiria plausibilidade pra acontecer há muito tempo. Até porque tem a ver um pouco com isso, né, o próprio movimento sindical de uma forma geral, as lutas corporativas cada vez mais umbilicais, então a dificuldade que a gente tem nesse momento de retomar outro sentido a luta, vendo aquilo que nos unifica, que nos dá identidade, aquilo que nos une que são demandas que podem ser comungadas por todos.

Bom, esse movimento então se retoma em 2015, com o Comando Unificado de Greve entre técnicos, estudantes e docentes. E a expectativa é que nós possamos trabalhar tanto em nossa irmanação com o restante da sociedade, com os movimentos sociais, com os outros sindicatos, mas também que nós tenhamos internamente, dentro da UFSC, um elemento que vá pra fora das nossas corporações, pra fora do nosso individualismo de grupo. Então a tentativa é ter uma unidade pra que a gente enxergue tanto os problemas que afetam a Universidade e que são relacionados com a esfera federal, ou seja, nós temos um governo que é patrão e é com ele que se dá a nossa negociação, mas nós temos um representante deste governo aqui que é quem administra a nossa casa, que é o reitor – então, que há também possibilidade de a gente tirar unificadamente uma pauta de reinvindicações pra conversar com esse que arruma a nossa casa. Então temos dois movimentos importantes, um que é pra fora da universidade, que nos liga a outros sindicatos, a outros movimentos, e que também é importante uma unidade [com estes sujeitos] pra enfrentar o patrão nacional que é o Governo Federal; E os problemas específicos, que estão no cotidiano da UFSC, que são tratados então com a reitoria, com administração central, e que podem ser vistos na unidade das categorias, e não cada segmento fazendo um diálogo individualizado. A gente entende que isso [a unidade] é importante porquê isso é uma outra dimensão da luta, inclusive pra que as categorias se reconheçam, pra que os segmentos se reconheçam nas suas diferenças e aprendam a ver a dificuldade do outro também como uma demanda sua. Então, isso não só ajuda na identificação dos problemas, mas até pra resolução deles, porque em alguns eu posso até perceber que uma mudança de atitude minha já resolve o problema de outra categoria. Então acho que tem muita coisa que a gente pode avançar nesse sentido.

UàE – A comissão unificada de mobilização se articula agora pra organizar a luta na UFSC contra as reformas da previdência e a reforma trabalhista. Na avaliação que vocês tem feito no ANDES quais são os impactos destas reformas pra classe trabalhadora?

Astrid – Então, a pauta externa agora que, na verdade, unifica todos nós agora – trabalhadores, juventude, desempregados, pobres – tem a ver com a ideia de que não estão acontecendo reformas, nós não temos uma reforma da previdência, estão acabando com nosso direito de aposentadoria, é muito diferente. Não está se modificando as condições de um contrato pra melhorar a situação, está se acabando com a possibilidade de a gente vir a se aposentar.  O que significa tu estar a 49 anos num serviço, sem nunca ter tido uma licença? Significa que tu nunca vai te aposentar. Então, eu não gosto do termo reforma, a gente usa contrarreforma pra mostrar que o que eles estão fazendo não tem nenhuma implicação num sentido positivo, de arrumar e melhorar a vida das pessoas.

Tem a ver muito mais com a necessidade de expandir mercados capitalistas, né, gerando então na previdência uma nova mercadoria, e maioria dessas pessoas que estão voltadas a construção da lei agora, em alguma medida participam ou como gestores de planos privados [de previdência], ou como acionistas de planos privados, então tem um interesse muito nítido no que estão fazendo. E a contrarreforma trabalhista na verdade também acaba com os direitos dos trabalhadores se organizarem, acaba com todos os direitos, com todas as conquistas da CLT[3], de alguma possibilidade de estabilidade, ou que para ser demitido tenha que haver alguma justificação. O processo de terceirização que também se acelera enormemente. Então, a gente percebe o conjunto das reformas tem um sentido, os ricos mais ricos, e os pobres mais pobres. Ou seja, é o aumento da desigualdade.

Está na verdade concatenado, ou afinado, com a proposta neoliberal, que é acabar com os sindicatos, acabar com os direitos trabalhistas, e privatizar ao máximo, por isso a gente está vendo agora essa pressão sobre a cobrança de mensalidade nas universidades públicas. Tudo isso faz parte de um bojo, quando o capitalismo entra em crise ele precisa criar uma nova forma de expansão, e o que é a nova forma de expansão? É o ensino superior, acabando com as universidades públicas, e a previdência privada acabando com a previdência pública. Esse é o grande motivo porque estão nos engabelando e acabando com nossos direitos, né, pra gerar mais um espaço onde eles [os capitalistas] possam ter lucros, possam gerar mais valor, e desse valor gerar mais valor ainda, né, e não mais vida, mais riquezas pra ser distribuídas, mais condições de vida pros trabalhadores. Tem nada a ver com a felicidade humana, e sim com produzir lucro, produzir mais valor.

UàE – E você pode falar um pouco sobre a pauta interna da comunidade universitária?

Astrid – Sobre a demanda interna eu acho que chega uma hora que a gente tem que pensar com seriedade. Inclusive a questão do próprio processo eleitoral que a gente vive na universidade, como se dá a escolha de reitor, porque veja fica sempre muito na aproximação do evento que discutimos em função do que favorece a candidatura A, B, C ou D, né. A gente do ANDES defende que no mínimo [o processo eleitoral seja] paritário, e quando eu digo no mínimo paritário, estou dizendo que o máximo é o universal, certo? Então, na verdade, nossa defesa é pelo voto universal. E isso desdobra-se numa série de outras questões: Por que que os conselhos são 70/30? Por que são 70% de docentes que compõe os maiores espaços decisórios da Universidade? Então, essas são discussões que a gente precisa fazer muito antes do período eleitoral, pra que essas discussões possam de fato reformular nossas formas de pensar e de conceber os processos decisórios.

Além disso, a comunidade tem uma série de outros problemas que ela precisa se dedicar, por exemplo: Como se dá a distribuição de vagas de docentes e técnicos na UFSC? Eu fiquei muito surpresa, por exemplo, ao descobrir que a mudança de regime de trabalho, por exemplo, de 20 para 40 horas [semanais] ou de 40 para 20 horas, não depende de uma política anunciada, depende de ter pontos no banco de equivalência e depende de um parecerista, na CPPD (Comissão Permanente de Pessoal Docente) pra resolver isso. Quer dizer, a gente é refém de uma série de situações que a gente nem para pra pensar o que significa, por exemplo, deixar a política de contratação na mão de uma administração e não ter critérios claros pra essas distribuições. Não garantir, por exemplo, que um professor aposenta lá no departamento de educação no campo, e aquela vaga permanece lá. Então tem uma série de outras discussões que a gente precisa fazer do ponto de vista operacional da instituição, que demanda que os três segmentos sentem juntos, parem pra pensar, até pra que uma saída não fira as necessidades e os desenvolvimentos necessários para outra categoria. Por isso que é muito mais importante a gente começar as lutas de forma unificada, se ouvindo, se escutando, aprendendo, desenvolvendo as pautas já de forma conjunta do que gerar um processo, por exemplo, tenso de que pra atender o direito de uma categoria tenha que ferrar com outra.  Então só nisso a unidade já nos ajuda, porque permite a gente olhar pras questões a partir de pontos de vistas diferentes, de lugares na instituição também diferenciados.

UàE – Astrid, e na sua avaliação quais são as tarefas do momento pros movimentos, pros sindicatos e para os processos de unificação dos trabalhadores, tanto nacionais, quanto locais aqui na universidade.

Astrid – Olha eu acho que tem uma chamada interessante que a gente precisa fazer que é a seguinte: não vamos fazer greve, vamos fazer o quê? Acho muito importante pensar outras formas de luta, pensar a possibilidade de a gente utilizar os elementos virtuais, as chamadas de rede. Mas, veja, nada disso, de fato, consegue se sobrepor ao que é, por exemplo, a uma manifestação com quinze mil pessoas na rua. Então, por mais que a gente use outros mecanismos, e acho que a gente precisa se colocar pra pensar sobre isso mesmo, de tudo que a gente pensou a gente ainda não encontrou uma estratégia melhor do que a greve. Então, nós temos pela primeira vez, depois de muitos anos na história do Brasil, nós estamos com todas as centrais [sindicais] alinhadas apontando a data de 28 de abril. Nós temos um mês pra construir, ou uma paralisação nacional ou o início de uma greve geral.

Eu acho que esse o foco que a gente tem que ter né. Um foco que é pra dentro: conversar entre estudantes, técnicos e docentes, tomar conhecimento do que está acontecendo, até pra poder se indignar com o contexto atual e pensar formas de organização internas, pensar ações que a gente possa fazer na comunidade externa a UFSC; e pensar formas de tirar o sossego desses parlamentares que estão votando contra os nossos direitos, e construir alguns atos de rua que sinalizam a nossa insatisfação com os rumos que o Brasil tá tomando, principalmente em relação a contrarreforma da previdência e a contrarreforma trabalhista.

UàE – E agora no dia 04 de abril, amanhã, a comissão de mobilização unifica está chamando um debate, no varandão do CCE, você pode falar um pouco sobre esse debate?

Astrid – Então, a gente está ampliando um pouco a atividade. A gente vai começar às 14 horas no varandão do CCE, trazendo o advogado que atende os sindicalizados do ANDES, pra um plantão do jurídico somente sobre reforma da previdência. Então, se tu tem dúvidas, com teu tempo, teus anos, né, vá lá, conversa com o advogado, ele faz a conta, te diz com a reforma como vai ficar tua vida né. Pra tu entender o porquê que a gente tá dizendo que ninguém mais vai se aposentar. Então isso seria um aquecimento, vamos dizer assim, um plantão do jurídico, um plantão do ANDES no varandão do CCE, chamando pra atividade 17 horas, que é uma atividade da comissão unificada, que vai ser um debate sobre a contrarreforma da previdência. Na tentativa de formar as pessoas, com informações que não são essas do meios de comunicação que mentem pra nós, dizendo que há um déficit, que não há o que fazer. Então, a gente vai tentar mostrar através de outros elementos, outros argumentos, outros dados pra apresentar que na verdade se trata de uma tremenda sem-vergonhice o que tá acontecendo na contrarreforma da previdência.

E só fazer um chamado importante pra todos, nós temos no dia 18 de abril, às 11:30 mais uma reunião da comissão unificada de mobilização. E no dia 25 de abril, uma assembleia dos docentes pra tomar uma posição acerca do dia 28 de abril. Mas é importante que a gente vá aglutinando, fazendo atividades por centros, mobilizando aqueles que estão ao nosso redor, família, grupo de amigos, né, o máximo que a gente puder falar sobre isso nesse momento pra criar um clima favorável pra que a gente possa fazer uma luta vencedora no dia 28 de abril.

Cartaz das atividades chamadas pelo movimento docente

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