Martim Campos – Redação UFSC à Esquerda – 15/02/23
Nesta quarta-feira (15/02) o Diretório Central dos Estudantes (DCE) irá realizar a reunião de planejamento semestral da entidade, a primeira do ano, que vai acontecer na sede do DCE, às 17h30. Enquanto os Centros Acadêmicos representam os discentes de cada curso, o DCE é a maior entidade estudantil representativa do corpo discente da UFSC.
O planejamento é fundamental neste momento do ano para conseguir promover discussões com um pouco mais de calma, antes que o semestre acadêmico se inicie. A importância de se preparar e fazer um planejamento para o semestre antes do início das aulas foi discutido no texto de Rita Pereira, no âmbito dos Centros Acadêmicos.
No momento do planejamento, é preciso que se discuta e defina as prioridades das pautas estudantis, para organizá-las em um calendário de luta com a intenção da construção das atividades que ajudem a integrar os estudantes nesses espaços. A integração e recepção de novos estudantes em espaços de lazer, de formação e de luta é fundamental, pois a partir da coletividade se pode dar corpo para pautas tão fundamentais aos estudantes.
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Em qual contexto estamos retornando para a UFSC este ano?
O ano mal começou e os estudantes que estão voltando para Florianópolis ou os que já estão pela ilha e arredores precisam lidar com diversos problemas que estão se adensando: só em nossa universidade, em janeiro de 2023, tivemos por um instante a notícia de que o único Restaurante Universitário (RU) que está funcionando normalmente no Centro de Ciências Agrárias e que costuma atender a todos os estudantes nas férias iria ser restrito apenas para isentos. O acesso para chegar até o restaurante, no entanto, é salgado nas férias, agora com o novo aumento da passagem do ônibus desde o ano passado, com a tarifa a R$6,00 no dinheiro e R$4,98 no cartão. No dia 27/01 deste ano, foi convocado um ato pela revogação do aumento, no centro da cidade, por movimentos sociais, organizações e entidades estudantis e sindicatos.
O acesso à cidade e condições para habitar nela se transformam em dificuldades cotidianas para cada estudante que diariamente precisa se deslocar na cidade para chegar na universidade. Só no mês de novembro do ano passado, segundo os dados da Secretaria de Mobilidade e Planejamento Urbano (SMPU), o uso de transporte público com cartão de estudante correspondeu a 21,18% das viagens na cidade.
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Enquanto isso, circulam pelas praias da cidade o norovírus, que deixou mais de 3.000 casos de pessoas contaminadas com a virose por conta da poluição das praias, em que muitos depósitos de esgotos são lançados ao mar devido à falta de saneamento básico que existe na ilha.
Esses problemas não devem ser naturalizados, mas considerados em nossas lutas, pois observamos uma concretização cada vez mais severa do projeto de aburguesamento da cidade, recheada de problemas para a população trabalhadora e estudantil que vão desde a falta de saneamento sanitário básico, transporte público mais caro, alimentação mais cara, com a segunda cesta básica mais cara do país (R$ 769,19), e aluguel mais caro.
O preço dos aluguéis em Florianópolis é de assustar e afligir estudantes e suas famílias, as quais muitas vezes fornecem apoio financeiro para que seus filhos e filhas possam vir estudar na federal. Atualmente, o preço dos imóveis sofreu a segunda maior alta² nos aluguéis no último ano. O valor pago por apartamentos e kitnets (cada vez mais parecidos com latas de sardinhas, por um preço que dificilmente será menor que R$900 mensais) representa o sacrifício e grande parcela das economias das famílias dos estudantes para a manutenção de seus filhos na universidade. Enquanto isso, com muita folga e espaço o setor imobiliário e da construção civil se beneficiam dos lucros com os aluguéis cada vez mais caros ao redor da própria universidade, com o crescimento de 40% nas vendas de apartamentos de luxo em Florianópolis apenas nos últimos meses de 2022, indicando uma consolidação ainda maior no mercado imobiliário de alto padrão na capital catarinense.
As audiências do plano diretor da cidade estão ocorrendo nesta semana, às 18h. Porém, sabemos que no projeto e modelo de cidade que visam a burguesia catarinense, não serão priorizados os interesses da população. Os protagonistas neste plano serão a flexibilização por mais construções caras e verticalização da cidade, que acarretam uma maior gentrificação da cidade, expulsando as pessoas para bairros cada vez mais longe de seu centro. No entanto, as condições de vida da classe trabalhadora continuarão cada vez mais prejudicadas pelo interesse burguês.
Apontamos acima alguns elementos que tocam em especial as condições de vida na cidade de Florianópolis, pois um dos setores mais dinâmicos para pensar essas questões e compor parte importante nas lutas são justamente os estudantes. O planejamento de uma entidade deve considerar o contexto em que está inserida, para que em meio a tantos problemas e desafios que enfrentamos, a saída coletiva possa ser efetiva e fortalecida.
Por isso relembramos que nesta quarta, a reunião geral de planejamento do DCE vai acontecer às 17h30, na sede da entidade, que fica em frente ao Restaurante Universitário (RU) da trindade, no prédio do Centro de Convivência da UFSC.
Um bom início de ano e planejamento para as entidades!