Nina Matos – Redação Universidade à Esquerda – 07/04/2023
O Brasil amanheceu na quarta-feira (5) com a triste notícia de um atentado contra crianças em um Centro de Educação Infantil (CEI) em Blumenau, no estado de Santa Catarina (SC).
Em torno das nove horas da quarta-feira, um homem invadiu a escola e desferiu golpes contra as crianças que estavam no pátio. Foram quatro crianças mortas e outras cinco feridas. Em seguida, o homem deixou o local e entregou-se à polícia.
Tamanha barbárie teve repercussão imediata. O prefeito, Mário Hildebrandt (Podemos) e o governador do estado, Jorginho Mello (PL), se fizeram presentes no local para prestar solidariedade às famílias, além de decretar luto e cancelamento de aulas a nível municipal e estadual. O presidente da república, Luíz Inácio Lula da Silva (PT), se manifestou nas redes sociais e promoveu uma reunião entre governadores sobre a violência nas escolas.
Outros municípios em SC decretaram ações diante do acontecido em Blumenau. Itajaí, Itapema, Navegantes, Palhoça, Balneário Camboriú, Indaial, Timbó, Rodeio, Penha, Barra Velha, Catanduvas e São José tiveram suas aulas suspensas até segunda-feira (10). Florianópolis, por sua vez, decretou ponto facultativo.
Medidas de repressão
Diante do caso, a prefeitura de Blumenau iniciou uma série de estudos e planejamentos para implementar ações de segurança de monitoramento dentro das escolas.
Segundo o prefeito Hildebrandt, em coletiva de imprensa após o massacre, câmeras serão instaladas dentro das escolas, além da ampliação de equipes de psicólogos e assistentes sociais — ações que se voltam para dentro da estrutura escolar, não prevenindo nenhuma ação externa, tal qual a ocorrida na quarta-feira.
Ainda, o prefeito estuda incluir segurança armada nas proximidades das escolas — seja com aparatos estatais (como policiais ou bombeiros), seja com segurança particular contratados pela prefeitura. Os muros e limites das escolas também passarão por estudos, de forma que sejam repensados para maior visibilidade do que ocorre no terreno da escola pela comunidade do entorno.
O policiamento nas proximidades das escolas também está sendo colocado como uma política nacional. Após uma reunião interministerial convocada pelo presidente Lula, o Ministro da Justiça e Segurança Pública (MJSP), Flávio Dino, anunciou um primeiro edital de R$ 150 milhões para rondas escolares.
A saída pelo aumento do policiamento também surgiu na Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina (Alesc). Tomada a palavra majoritariamente por parlamentares conservadores e de extrema-direita, os discursos se concentraram em exigências por ampliação de segurança armada e monitoramento. Jair Miotto (União) e Ana Campagnolo (PL) referem seus próprios Projetos de Lei, que incluem monitoramento por câmera e, no caso do Projeto de Campagnolo, seguranças armados, treinamento e capacitação.
Alguns aspectos do caso
Apesar das políticas que estão sendo discutidas parecerem indicar que o problema estaria dentro dos terrenos das escolas, o massacre ocorrido em Blumenau foi perpetrado por um homem sem relações com a CEI.
Segundo as informações policiais disponíveis, por volta das nove horas da manhã o homem pulou o muro da escola e desferiu golpes aleatoriamente contra as crianças. De acordo com uma professora, ele portava mais de uma arma branca e deixou a escola quando percebeu que as professoras estavam evacuando as crianças do pátio para dentro do prédio. Outras crianças na escola estavam dentro das salas e foram escondidas no momento do ataque. O autor do crime, ao deixar a escola, dirigiu-se à Delegacia de Polícia e se entregou. Comerciantes, trabalhadores do entorno e familiares rapidamente se mobilizaram para amparar a comunidade escolar enquanto aguardavam a chegada da polícia e ambulâncias.
Ainda está em investigação se há outros envolvidos no crime e também qual foi a motivação do ataque. O sigilo do telefone do autor do crime foi quebrado e o aparelho está apreendido, sob investigação.
O aumento da frequência destes casos causa espanto e temor. Outros ataques e crimes ocorridos dentro de escolas brasileiras são relembrados neste momento, inclusive para defender políticas coercitivas nas escolas. Neste momento de profunda dor e angústia, expressar solidariedade para com as famílias, crianças e professoras está muito mais aliado com uma reflexão crítica e honesta acerca do que a violência tem a dizer sobre nossa sociedade, sobre quais são os aparatos que sustentam socialmente esse aumento de casos de ataques em escolas, marcados pela crueldade e pelo ódio.
O luto pelas perdas em Blumenau se estende por todos nós, que sonhamos e lutamos por uma sociedade mais segura para nossas crianças.