Amanda Alexandroni – Redação UFSCàE – 13/06/2023
Ontem os trabalhadores da Prefeitura Municipal de Florianópolis (PMF) realizaram mais uma assembleia da categoria para decidir o futuro das mobilizações pela negociação da data-base e contra a adoção de Organizações Sociais (OSs) no serviço público. A assembleia decidiu, sem nenhum voto contrário, pela continuidade das mobilizações. Diversas entidades estão manifestando apoio e solidariedade aos trabalhadores em luta.
A greve deflagrada no dia 31/05 foi o estopim das tentativas de negociação entre os trabalhadores e o poder executivo municipal. A categoria vinha reivindicando o que é justo aos trabalhadores: o pagamento do piso salarial estabelecido em lei para as auxiliares de sala e a recomposição salarial diante das perdas inflacionárias do último período. Além disso, incorporaram também a luta contra a privatização do serviço público via OSs, ou seja, batalham pela qualidade do serviço prestado à população.
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Diante da intransigência do prefeito Topázio Neto (PSD) e seu conchavo, os trabalhadores têm respondido à altura e a greve chega hoje ao seu 13˚ dia. Durante todo esse período, os trabalhadores responderam com força e luta a todas as violências do Governo. Enquanto Topázio ameaça os trabalhadores de demissões e persegue politicamente diretores do Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público de Florianópolis (Sintrasem) e coordenadores do serviços, a categoria responde com mobilizações, atos e diálogo com a população acerca da greve.
Hoje (12/06) pela manhã haverá uma passagem pelas diversas unidades explicando os motivos da greve à população e às 16h uma reunião do comando de greve. Amanhã (13/06) ocorre uma nova assembleia dos trabalhadores a partir das 13h. Haverá também uma audiência de conciliação no Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC).
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Diversas entidades já manifestaram apoio à greve: o Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Estadual de Santa Catarina (SINTESPE); a Central Única dos Trabalhadores de Santa Catarina (CUT-SC); Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário Federal no Estado de Santa Catarina; Sindicato dos Servidores Federais da Educação Básica Profissional e Tecnológica do Instituto Federal de Santa Catarina (Sinasefe-IFSC), entre outras. Na UFSC, entidades estudantis também prestam apoio: Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFSC e da UDESC; e o Centro Acadêmico Livre de História (CALH).
Bruno, professor de educação física e representante sindical da Escola Básica Municipal Maria Tomázia Coelho, egresso do Programa de Pós-Graduação da UFSC, fala ao UFSCàE sobre o movimento:
Nós construímos desde o início do ano o documento de data-base, que é efetivado no mês de maio – que é o mês da data-base da categoria. Nós o construímos coletivamente, em algumas instâncias, reuniões e conselhos, e fomos validando esse documento junto à categoria. Quando validamos esse documento, entramos em contato enquanto categoria com o executivo, solicitando mesas de negociação – que era o que a gente mais queria e continua querendo. Nesse processo teve muita morosidade, muita lerdeza do executivo em relação à nossa categoria. Eu diria até uma falta de consideração e de respeito com a categoria do servidor público de Florianópolis. A partir dali veio uma proposta, em forma de documento, sem uma mesa de negociação. E depois, uma contraproposta, que nada apresentou de novo em relação à proposta anterior, e esta também veio por email.
Então nós nunca tivemos a mesa de negociação que a categoria merece por conta do processo de construção que vem fazendo.
A gente veio anunciando o estado de greve e teve todo um cuidado com a escola e com a comunidade. Conversamos que nós entraríamos em greve se essas mesas de negociação não saíssem, o que era uma proposta digna.
O que vem colocando algumas mídias que servem a um determinado tipo de sociedade, é que os intransigentes somos nós, a categoria, o sindicato. O que não é verdade, a gente vem a muito tempo tentando conversar, negociar e construir uma proposta digna, merecedora, pensando coletivamente, com respeito à história de luta de outros colegas também,
Em 17h de greve nós já fomos criminalizados, o que foi uma tentativa de enfraquecer e desmobilizar a categoria, que mostrou na última quarta-feira um ato bonito, intenso. Inclusive com colegas, estudantes da UFSC e outras instituições, professores… Foi muito animador saber que várias instituições apoiam a nossa greve, que ela é legítima – muito ao contrário do que aponta a mídia. A nossa campanha é “lutar não é crime”.
A gente continua firme e forte, lutando, reivindicando uma série de direitos, dentre eles, por exemplo, um plano de carreira digno para todos os servidores públicos, que está achatado hoje – por exemplo no magistério, o piso da enfermagem não está sendo colocado. Tem inclusive o combate à Organizações Sociais – que trata de terceirização – o que é responder a uma precariedade nas relações de trabalho. Então a gente está lutando contra várias forças opressoras do nosso sistema em prol de um serviço público de qualidade, uma educação, saúde, assistência social de qualidade que os cidadãos de Floripa merecem, é o que a gente acredita.
E um registro, para que fique bem claro, a nossa Constituição Federal garante que todo cidadão tem a possibilidade de fazer greve, a greve é um instrumento legal, que de certa forma se utiliza em última instância. Foi o que nós fizemos, nós dialogamos, buscamos todo o momento diálogo com o executivo, buscamos uma mesa de negociação, e em nenhum momento nós fomos atendidos. Esse instrumento que é legal e legítimo, permite ser reivindicado em momentos como esse. A nossa pauta é justa, a gente pede que o prefeito venha negociar, e não criminalize a nossa greve.
O Coletivo Emancipação Socialista (CESO) publicou uma nota política de apoio ao movimento, confira aqui.