As estudantes reivindicam também o fornecimento, por parte do curso de serviço social, de uma disciplina específica para pensar essas questões na atuação profissional, questões caras e que são tratadas de forma insuficiente no decorrer do curso.
No mais, as estudantes convidam todos os estudantes da UFSC para prestigiarem a semana acadêmica, que contará com espaço infantil, possibilitando que mães e pais possam levar seus filhos e participarem das reflexões, palestras e demais atividades de forma plena.
UàE: Porquê escolheram o tema das relações étnico-raciais?
Jaina: Esse tema é histórico dentro do curso de serviço social, os estudantes pedem muito para que seja trabalhado. A gente não tem nenhuma disciplina que trate desse assunto, que é essencial. A gente trabalha com políticas públicas, na assistência social, na saúde, na previdência social, e não é uma profissão só para pessoas pobres. Mas acaba que é o pessoal que mais acessa, e a gente sabe a cor das pessoas pobres no Brasil, né. Então a gente não vê sentido em trabalhar só a classe, a gente tem disciplinas que trabalham a classe, estudamos marxismo, isso é muito importante, mas percebemos que falta a questão de sabermos quem é essa classe que a gente vai receber. A gente não pode estar trabalhando uma classe que aparentemente é homogênea, que não tem uma cor, que não tem gênero. Então na semana acadêmica buscamos trazer toda essa falta, que os alunos sentem, que falamos nos corredores, pros professores, que a gente cobra, então a semana acadêmica vem pra suprir um pouquinho, né, e provocar também os alunos e os professores, pra dizer que a gente quer também discutir isso, vamos pelo menos pensar numa disciplina optativa pra trabalhar isso. Então é uma semana acadêmica histórica, eu estou aqui já faz quatro anos e nenhuma semana acadêmica tratou só desse assunto especificamente e pro nosso curso é essencial trazer, e até pro contexto da universidade que traz pouco, tanto é que essa semana acadêmica mobilizou muitos centros acadêmicos, todo mundo, porque são poucos os eventos com essa temática especificamente.
UàE: Dentro desse tema, quais são as discussões que vocês estão fazendo?
Luísa: Então, o processo de construção da semana acadêmica se dá pelo CALISS, que chama e tem como princípio ser uma gestão aberta, com as reuniões divulgadas e colam várias pessoas para construir a semana acadêmica, e dentro disso a gente tirou alguns eixos fundamentais. Porque é como a Jaina falou, é um tema negligenciado pelo nosso currículo e pela própria universidade, que escanteia isso totalmente, onde todo esse segmento da população não branca são os mais atingidos. Então a gente pensou de fato em eixos, pra trabalhar e organizar os espaços, e dentro deles a gente já queria há muito tempo fazer uma atividade sobre o Rafael Braga, sobre a questão do que estava acontecendo, conversar também sobre o cárcere brasileiro, que não é uma crise, trazer também para dentro do curso, pra Santa Catarina e pra UFSC. Então a gente pensou nessa mesa, pensou em falar também um pouquinho sobre a falácia da guerra às drogas, sobre racismo estrutural, e institucional, por parte da própria instituição, enfim, que segrega esses estudantes, coloca eles sempre como menos, como menos capazes, e também a questão da classe, do gênero e da orientação sexual, que perpassa também essa temática das relações étnico raciais. Então a gente também trouxe uma mesa para falar dos diversos feminismos, sobre feminismo indígena, sobre feminismo negro.
Júlia: Que é apontado também por muitos estudantes, a necessidade de uma discussão mais profunda sobre a questão indígena, que também é negligenciada dentro da universidade, e no serviço social. E falar sobre a questão indígena no Brasil é falar de habitação, e temas diversos, como a reforma agrária, direito a cidade, e toda essa questão que a mesa de amanhã de manhã vai debater.
Luísa: É muita coisa pra gente discutir, porque a gente entra numa temática e ela puxa várias. Então, como foi debatido na mesa de hoje de manhã, falar da questão social do Brasil é falar da questão étnico-racial, falar disso é falar de várias outras questões, que a gente tentou abarcar dentro desses três dias, que, com certeza, é muito pouco, mas a gente vê a galera muito disposta em discutir e tomara que a gente consiga internalizar e capilarizar dentro do curso, pra outros espaços, pra outros momentos, pra cobrar uma disciplina optativa. A ABEPSS tem uma disciplina sobre gênero, geração, raça e etnia, e tomara que a gente consiga trazer e agregar ela ao nosso currículo e que a agora a gente tem dados pra comprovar a importância e pedir pros professores, porquê nossos eventos da semana acadêmica, desde 2015-2, dava geralmente 150 a 200 confirmados e 300 interessados, nessa deu 780 interessados, quase 400 confirmados, então de fato é algo que não só o serviço social, mas que a universidade quer e precisa discutir.
UàE: Quais são as atividades que estão ocorrendo hoje e durante a semana, e qual atividade que vocês indicam para alguém de fora que queira participar?
Luísa: Então, o nome do evento é Serviço Social e a questão Étnico-Racial, mas as mesas são de fácil compreensão para todo mundo, não fica restrito só ao serviço social, as oficinas são bem abertas, teremos o teatro do oprimido na sexta feira, que é algo mais dinâmico, bem legal pra quem quiser colar, tem também uma oficina sobre políticas públicas e a questão indígena, e a mesa de feminismo, e no último dia como encerramento, sexta-feira as 18h30, teremos a mesa de racismo estrutural e institucional, que acho que é fundamental para todos os cursos, para todo mundo, e que todos deveriam ir, tomara que bombe.
UàE: Como vai ser esse processo, de uma disciplina para pensar essas questões?
Luísa: Então, a gente tem a ABEPSS né, que é a Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social, e ela já propôs uma disciplina, já estruturou, tem um nome, tem ementa, e agora cabe às escolas de serviço social agregarem isso ao seu currículo, ou, pelo menos, oferecer como disciplina optativa. Isso a gente não avançou ainda na UFSC, acho que agora a gente vai ter mais elementos para pressionar e pro CALISS tocar essa luta junto dos estudantes.
Júlia: A gente não quer uma semana, né. A gente quer qualificar a nossa formação porque a nossa atuação está totalmente vinculada a essas questões. O assistente social precisa estar preparado teoricamente.
Jaina: Inclusive numa luta mais ampla da própria esquerda, né. A gente está num período muito difícil, e acho que os movimentos sociais estão enfraquecendo, há uma onda neoliberal, do próprio movimento, das pessoas da direita, né. Então acho que a nossa semana acadêmica também vem pra isso, pra mostrar pra esquerda que o tema étnico-racial é do interesse dela, e que enquanto ela não se apropriar desse tema também, não vai avançar. Então é um tema amplo, não só pro nosso curso, mas pra universidade, e pro próprio movimento estudantil, movimentos sociais.
Luísa: Fica descolado da realidade brasileira não falarmos da questão étnico-racial, os trabalhadores têm cor, têm gênero, e no serviço social a gente vai trabalhar com as diferentes realidades e com diferentes sujeitos, mas que na sua grande maioria, majoritariamente são, com mulheres negras. É fundamental também avançar não só no serviço social, mas também no campo da esquerda da UFSC, da esquerda universitária, é muito importante.
UàE: Por fim, as estudantes fazem um convite para que participem do evento.
Jaina: Compareçam, é muito importante estar neste espaço, que é de vocês também!
Luísa: Desde a gestão oposicione-se, a gente traz a ideia que vem da ENESSO, que tem o espaço que é o enessinho, um espaço infantil. A Nós por Nós está continuando agora, então vai ter espaço infantil, é só trazer as crianças que elas serão bem cuidadas.
Programação: Evento no Facebook: https://www.facebook.com/events/1952541714968851/
MESA 1 – 30/08 – 08h30 Liberdade para Rafael Braga, ninguém será esquecido! Palestrantes: Guilherme dos Santos (UFSC); Fábio (ENESSO SP) Apresentar a campanha pela liberdade de Rafael Braga. Analisar os limites e consequências do encarceramento em massa aliado à seletividade penal a partir da realidade do sistema carcerário brasileiro e as contradições das atuais políticas de segurança pública. Aprofundar a discussão sobre perseguição política e a Lei Antiterrorismo em meio ao acirramento da luta de classes.
OFICINA 1 – 30/08 – 15h Cine debate: Notícias de uma guerra particular (1999) em parceria com o IELA Ementa: A política de guerra às drogas e às tendências punitivistas do sistema penal brasileiro. MESA 2 – 30/08 – 18h30 Questão Racial e a Questão Social: a classe tem cor! Palestrantes: Ellen Caroline, Mathaus (UFSC) Maria Regina (UFSC) Reafirmar a necessidade de aprofundar a discussão sobre questão racial no processo de formação profissional em Serviço Social. Apresentar a relação entre questão social e questão racial. Apreender as especificidades da população negra e sua relação com as demandas atendidas pelas assistentes sociais. MESA 3 – 31/08 – 08h30 Criminalização da pobreza: guerra às drogas e direito à cidade. Palestrantes: Daltro Caxias (Comuna Amarildo e PCB); Lino Peres (PT) Segregação social e racial nas cidades contemporâneas. Política Habitacional, território e sujeitos sociais. Criminalização da pobreza e o papel da guerra às drogas na reprodução da segregação racial e vulnerabilização da classe operária. OFICINA 2 – 31/08 – 14h Políticas Públicas e Povos Indígenas MESA 4 – 31/08 – 18h30 Terra e territórios quilombola e indígena e o Serviço Social Palestrantes: Lu Quilombola e Cris Tupan (Brigadas Populares) Discutir sobre a luta pelo direito à terra dos povos quilombolas e indígenas na conjuntura brasileira. Analisar a relação dos povos indígenas e quilombolas com a sociedade contemporânea, bem como os quilombos e aldeias indígenas como patrimônios culturais. Compreender os atores e atrizes sociais das organizações quilombolas e indígenas como representantes da multiplicidade de fazeres e saberes constitutivos de territórios plurais. MESA 5 – 01/09 – 08h30 Classe, gênero e raça Palestrantes: Cauane Maia (mestranda em Antropologia) Paula Filisbino (Coletivo Negro Minervino de Oliveira), Cacique Eunice. Compreender os discursos feministas negro e indígena, suas pautas e diferentes modos de organização, bem como os meios de resistência contra as estruturas estabelecidas na sociedade capitalista. Discutir sobre o protagonismo e a potencialidade das lutas de mulheres negras e indígenas. Compreender as representações sociais da mulher negra e da mulher indígena na sociedade brasileira. OFICINA – 01/09 – 14h Teatro do Oprimido MESA 6 – 01/09 – 18h30 Racismo estrutural e institucional Palestrantes: a confirmar Analisar as desigualdades raciais no modelo de sociedade atual. Resgatar a construção identitária do “negro brasileiro” para buscar compreender as representações sociais, as relações raciais no Brasil e a hierarquização de grupos étnicos-raciais. Refletir sobre a reprodução de práticas excludentes das instituições públicas e privadas na gestão dos recursos humanos e prestação de serviço ao público. ]]>