Allan Kenji Seki* para o UFSC à Esquerda – 01/09/2017
Nas eleições de 2014, a base social do PT já não era mais aquela de 2006 e 2010. O acontecimento político mais importante havia se desenrolado com as jornadas de junho de 2013 e o PT precisou reorientar suas estratégias político-eleitorais, na tentativa de reorganizar parte dos descontentes na sua base social. Isso deu o tom da campanha de Dilma em 2014, na medida em que permitiu uma polarização mais aguda nos discursos contra Aécio Neves do PSDB. Interessante notar, retrospectivamente, que em nenhum momento da campanha de 2014 o PT convocou as bases sociais do partido. Não houve autocrítica, não houve convocação, não houve sequer reivindicação da história do Partido. Ainda assim, parte do descontentamento político mobilizado pelas grandes manifestações via em Aécio Neves a representação encarnada da tragédia econômica e social e por isso, empurrava-se para a base eleitoral do PT.
Àquela altura os 12 anos de governo do PT e a decadência ideológica fragmentaram demasiadamente as formas de lutas que fizeram parte da história do próprio partido e das lutas de nossa classe. A burocratização dos movimentos sociais e dos sindicatos, a cooptação de quadros, o consentimento ativo e passivo e o reformismo fraco foram alguns dos elementos que comprometeram significativamente a consciência de classe dos trabalhadores brasileiros. No lugar das entidades e outras formas de organização históricas, as massas passaram a se organizar por uma nova dinâmica, tendo como tônica a fragmentação em uma infinidade de células com maior ou menor organicidade e cujo elemento fragmentador passou a ser a rigidez das caracterizações políticas. Como resultado, na eleição de 2014, o PT de 2014 não convocou bases e não fez autocrítica porque nunca precisou: só se faz autocrítica quando a sua permanência depende daqueles organismos que são capazes de rememorar processos mais ou menos longínquos, não era esse o caso da maioria das formas organizativas nos grandes centros urbanos. Assim, a própria fragmentação da organização e das consciências políticas permitiu que o PT liberalizasse o discurso político, no que diz respeito aos costumes, enquanto suas proposições econômicas caminhavam no sentido da escola de Chicago.
Enfim, a polarização com Aécio Neves permitiu que o partido galgasse novo mandato presidencial, mas certamente custou caro. O casamento entre os interesses das maiorias e o mercado já não era possível. Sensível às demandas do mercado, o primeiro ato relevante do segundo mandato de Dilma Rousseff foi justamente a substituição de Guido Mantega por Joaquim Levy no Ministério da Fazenda. Mais do que uma mudança na condução do ministério, tratava-se naquele caso de sinalizar de maneira contundente para o mercado que o governo procuraria resolver as tensões sociais em favor do capital financeiro. O resultado é que no encontrão do mercado com a base popular do governo reunida em 2014, o governo perdeu os dois. O apoio popular capitaneado em 2014, foi relativamente gasto nos sucessivos golpes contra a saúde, educação, seguridade social, juros altos, entre outros orquestrados por Dilma.
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