Foto: Logo DCE Luís Travassos/UFSC
Morgana Martins e Maria Alice de Carvalho* – Redação UàE – 27/09/2017
Com o início das eleições, os estudantes da UFSC se deparam novamente com a dúvida de qual chapa exercerá melhor o papel de conduzir o Diretório Central dos Estudantes e qual é, afinal, a real função que essa entidade deve cumprir no nosso cotidiano. Porém, antes de entrarmos nos debates das chapas concorrentes, é necessário ampliarmos a discussão e retomarmos porque é imprescindível possuir um DCE de esquerda que consiga oferecer ao conjunto dos estudantes um projeto para essa Universidade na qual nos encontramos.
Alguns de nossos textos recentes vêm mostrando um pouco do que pode se conquistar quando se possui um DCE que está realmente comprometido com a Universidade e com a realidade dos estudantes; exemplos como a conquista da nova ala do RU, a extinção das taxas de Frequência Insuficiente, a recuperação de caixa para aquisição de novos materiais para a BU, além de o DCE ter sido a entidade que impulsionou as lutas pela Tarifa Zero na cidade.
Conquistas estas que são somente possíveis quando o DCE está aliado com projetos de esquerda, o que significa para nós um DCE capaz de apresentar aos estudantes um projeto de Universidade condizente com a produção de conhecimento e que dialogue com a realidade dos estudantes e da sociedade que fazemos parte; uma Universidade em que é possível adquirir todos os tipos de experiências; em que as bolsas de pesquisa não sejam seletas a pequenos grupos de estudantes, mas sim do alcance de todos; uma Universidade em que os estudantes possam dormir, se alimentar e ter diferentes tipos de lazeres, esportes e espaços de convivências; ou seja, fazer da Universidade um espaço onde haja vida.
Diante do exposto acima, o sentido que devemos dar a uma eleição é nos desafiar e ousar oferecer aos estudantes um projeto condizente com o de uma Universidade Pública, sem estar em proximidade com os, muito visíveis atualmente, projetos de empresariamento de nossa Universidade. É claro que não podemos oferecer algo que esteja muito distante de nosso alcance, porém, se fizermos o simples esforço de nos voltarmos de forma sensibilizada para o cotidiano dos estudantes já é possível nos deparar com as enormes filas do RU, a escuridão que engole a Universidade durante a noite, a ausência de festas e de espaços de lazer gratuitos, a falta de quadras para práticas de esportes para além dos realizados nas disciplinas ou pagos e, confrontados por essa realidade, transformar esta em um potencial para a mudança de nossa Universidade.
É necessário, neste momento, que a esquerda consiga analisar os ocorridos e se coloque enquanto uma alternativa latente em confronto com os projetos de vida liberais oferecidos pela direita. O que se sente ao ler os folhetos e ao ouvir as passagens em sala das chapas de esquerda concorrentes ao DCE, é que estas, apesar de se posicionarem politicamente sobre algumas das questões aqui levantadas, não vão muito além desse posicionamento. Enquanto isso, a direita se vê livre para espalhar seu projeto de vida privada e para deixar os debates para onde lhe é confortável, fazendo com que a esquerda não consiga sequer apresentar o seu próprio. Um exemplo disso são as chapas de direita se posicionando e publicizando – desta vez mais explicitamente do que nunca – seu intenso apoio às repulsivas iniciativas privadas dentro do espaço público da Universidade e ao empresariamento da educação superior, enquanto as chapas de esquerda não se posicionam verdadeiramente acerca dos projetos e das já atuantes Empresas Juniores dentro da Universidade – chegando até mesmo a caracterizar estas como iniciativas estudantis, colocando-as no mesmo patamar dos Serviços Modelos.
Algo que precisamos tomar como tarefa, por exemplo, é conseguir destacar dos discursos da direita os pontos essenciais de seus projetos, para assim conseguirmos fazer as duras críticas as quais são indispensáveis para elevar o nível dos debates. Para além de somente nos opormos às ameaçadoras parcerias público-privadas, é necessário ter um entendimento do que isso significa no cotidiano estudantil para conseguir passar essas informações com precisão e conseguir demonstrar, também, como essas maneiras de relação entre o privado e o público estão fortemente atreladas aos escândalos de corrupção.
Por fim, retomamos aqui a importância de se possuir uma gestão de esquerda no DCE – esquerda que entendemos como os socialistas, marxistas, etc – para conseguir oferecer a estes um novo projeto de Universidade; em que ela seja um local de passagem para a produção de conhecimento e ofereça a todos os estudantes a possibilidade de produzir cientificamente – pois afinal, é por isso que estamos em uma Universidade, para produzirmos conhecimento em prol de responder às questões de nossa sociedade -, de morar, comer e possuir lazer. Enfim, fazer da Universidade um local de passagem significativa na vida dos estudantes.
*Os textos de opinião refletem unicamente as ideias de seus autores, devidamente identificados no texto, e podem não corresponder às posições políticas do UFSC à Esquerda