Foto: Fachada do prédio da reitoria da UFSC durante a greve contra a PEC55/Teto de gastos; Florianópolis/SC, 2016; por UFSC à Esquerda
Marcelo Ferro e José Braga* – Redação UàE – 13/10/2017
A UFSC enfrenta neste momento um desdobramento difícil da morte do reitor. Trata-se do que fazer sobre sua sucessão na direção da universidade. O Conselho Universitário reunido nesta terça-feira, 10 de outubro, disse a universidade que está convencido de que a vice-reitora Alacoque Lorenzini Erdmann deve seguir em exercício como Reitora até o fim do mandato em 2020. Nossos jornalistas Matheus Ishida e José Braga escreveram textos curtos discutindo a questão. Confira. Leia também a notícia: “CUn: A sucessão de Cancellier”
A decisão da Universidade por Marcelo Ferro – 11 de outubro de 2017
O falecimento do professor Cancellier abriu um vazio na UFSC. A sucessão de seu cargo não se esgota num conteúdo administrativo, nem na discussão sobre quais as vias legais menos duras. Não é a reposição de uma falta, é a sequência de tudo o que foi feito. Tem alma política. Na sessão do CUn de ontem, foi reiterada a dificuldade que a vacância traz para a Administração Central, e não há dúvida do tamanho da falta. O vazio é em toda a comunidade universitária, é a ausência de um reitor, a ausência de um colega, de um professor. A questão da sucessão vai muito além de um problema de gestão. Que aquele desfecho não nos paralise, sim que nos empurre à frente, que a massa da universidade seja a vanguarda nesse processo, que seja pelas mãos de todos, estudantes e trabalhadores. Se é para todos evidente que é preciso defender a Universidade Pública daqueles cuja agenda é desmanchá-la, se é preciso sair de imediato em defesa da autonomia universitária, então o façamos pela democracia. Independente de qual seja, a decisão da questão candente da universidade só terá alma política quando for a decisão da universidade Inteira!
Sobre a sucessão: confiar na comunidade universitária por José Braga – 13 de outubro de 2017
Nos momentos mais duros da nossa vida social o traço autoritário da direita (e de setores que se denominam de esquerda também) se evidencia. Na UFSC passamos por um deles. A escolha sobre a sucessão de Cancellier com certeza não é fácil. E as circunstâncias não poderiam ser mais complexas. O Conselho Universitário, que se reuniu 10 de outubro, unanimemente decidiu estar “convencido de que a professora Alacoque deve continuar para cumprir o mandato até 2020”, depois numa votação apertada indicou que a discussão sobre a sucessão deva chegar até a comunidade. Quase como dissessem: agora que está resolvida a questão vocês, a comunidade, pode se convencer do que decidimos.
Este tipo de posição, compartilhada não apenas pelos conselheiros, mas, que tem eco na universidade, não poderia ser mais avessa a democracia. Demonstra profunda desconfiança no povo. Como se estas decisões, logo as mais difíceis, as mais importantes não pudessem estar abertas aos comuns. É evidente que não seria simples ou tranquilo, traria instabilidade. E por certo imprevisibilidade. Muitos com certeza se aproveitariam desta abertura para oportunizar-se do momento. Internamente, na própria universidade, e externamente (frente às instituições que ameaçam constantemente sua autonomia) seria um processo conturbado.
Mas, não é nesses momentos que fazemos a democracia valer? Não é o momento de confiar na comunidade universitária? Ela saberá escolher, nas trágicas circunstâncias dadas, o que pensa que é melhor para todos. Sem romantismos. É evidente que nós poderemos errar. Mas, se assim for, erraremos juntos e sabendo que não fizemos da democracia um mero artifício retórico.
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