Por Maria Alice de Carvalho da Redação do UàE – 16/10/2017
No primeiro texto publicado pelo Coletivo Ufsc à Esquerda abordamos sobre a questão da segurança na universidade. Na época, trouxemos uma discussão sobre o tema com algumas propostas, de curto e longo prazo, de como promover uma maior segurança da comunidade universitária.
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Dentro das propostas estavam, por exemplo, maior iluminação do campus e movimentação deste com uma universidade aberta para a comunidade e com festas realizadas em prol da promoção de lazer e convívio entre os estudantes; estas pautas vêm sendo defendidas por nós e discutidas em nossos textos desde então; e cá estamos de novo nós discutindo segurança na universidade e ainda lutando contra um discurso de policiamento desta como alternativa de segurança e contra um cada vez maior fechamento do campus para a comunidade ao redor.
Sobre o isolamento da universidade diante da comunidade, creio que se relerem nosso primeiro texto aqui citado este já contribuirá bastante para o debate, já que as pautas discutidas naquela época continuam ainda hoje depois de quatro anos; sendo assim, vou me permitir focar na questão do policiamento da universidade e porque, novamente, este não significa segurança da comunidade universitária.
Em nossos textos mais atuais trouxemos como os momentos de contato entre a polícia e a universidade são trágicos, desde o Levante do Bosque – o que nos comentários do texto percebemos que não é visto pela direita como um abuso de violência pela polícia -, ao incidente mais recente que é o do trágico suicídio do Reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo. Ressaltamos diversas vezes que a polícia e a universidade não combinam.
Porém, para falar sobre o policiamento da universidade, vamos primeiro nos ater a falar sobre o policiamento da cidade. A polícia é um órgão público o qual tem por função garantir e promover a segurança pública dos cidadãos, os quais a tem por direito; porém, o que é visto nas ruas da cidade e dentro das prisões não vai muito de encontro a este objetivo.
Violência injustificável é praticada pela polícia contra uma parcela seleta da população nas comunidades periféricas e, quando essa população ocupa um espaço que não o designado socialmente como seu, aí mesmo que essa violência se agrava. Não precisamos ir muito longe para presenciar exemplificações desta afirmação, basta irmos até o centro da cidade e observar como são abordadas as pessoas em situação de rua na cidade de Florianópolis pela polícia; com cassetetes, gás lacrimogênio e quando não com algemas.
Dentro das prisões fica evidente também o papel que a polícia cumpre na sociedade, tendo em vista que o maior número de pessoas presas, segundo o Departamento Penitenciário Nacional, é por crimes considerados não violentos, ou seja, crimes contra patrimônio e relação com o tráfico de drogas. Atos considerados ilícitos e que partem da necessidade de sobrevivência de quem não tem se quer alimentação diária ou um meio de trabalhar que não seja através do comércio de substâncias ilícitas.
A polícia quando deveria estar atuando por Segurança Pública atua, na verdade, por preservação patrimonial – seja este patrimônio público ou privado. A forma de exercício da polícia já diz muito sobre seu real caráter; caráter este que é o de cumprir com o exercício de poder de um estado burguês que tem como legítimo e monopolizado o uso de violência para manter a ordem e o bem-estar social; ordem de um sistema capitalista com classes favorecidas e classes subalternas; bem-estar social de uma burguesia oportuna.
O policiamento da cidade serve, senão, para atender aos interesses burgueses de controlar as massas e repreender atos que fujam do normal conservador e que abram brechas para uma diferente forma de interpretar os fato promovendo assim transformação social e tirando esta classe favorecida de seu conforto já há tempos garantido pelo estado.
Se, na cidade a polícia não significa segurança pública, na universidade não seria diferente – apesar de muitos acharem que esta é uma bolha dentro da sociedade; sinto muito em dizê-los: vocês estão enganados. A polícia dentro da universidade atua apenas para expulsar deste espaço quem já não o ocupa por conta do método seletivo de quem ali frequenta para estudo; serve apenas para controlar e repreender projetos e produções de conhecimento que coloquem em questão o projeto de vida vigente; o que garante o bom funcionamento do sistema capitalista.
O policiamento está longe de significar segurança; policiamento significa controle, repreensão e violência; um projeto punitivista defendido arduamente pela direita, direita esta que se julga defensora do “bem-estar social” e seguridade dos indivíduos, mas que na verdade defende um órgão público extremamente violento que, para manter a segurança de patrimônios, tira vidas todos os dias; e nós sabemos muito bem qual é a classe beneficiada com tudo isso.