Por Maria Alice de Carvalho da redação UàE – 23/10/2017
Esta semana ocorreu na UFSC a 16ª SEPEX, a qual contou com mais de 130 estandes de pesquisa e extensão nas áreas de comunicação, cultura, educação, saúde, meio ambiente, tecnologia, direitos humanos e trabalho. Porém, até que ponto estes estandes expressam a real função que a pesquisa e a extensão possuem o dever de realizar dentro da Universidade Pública?
As Universidades Públicas possuem como mecanismos para cumprir com o seu projeto político pedagógico o tão citado tripé “Pesquisa, Ensino e Extensão”, ou seja, esses são os três instrumentos – os quais se relacionam de forma dependente, necessária e complementar – através dos quais a Universidade busca cumprir o seu papel na sociedade; a Universidade Pública, assim como qualquer outra instituição, atua de forma a exercer uma função social dentro do sistema no qual a sociedade se estrutura, podendo executá-lo de forma a manter as estruturas sociais como estas se encontram ou de promover transformação social.
A Universidade Pública deve produzir, criticamente, conhecimento voltado para as principais questões da sociedade de forma a visar sua transformação, tendo como principais alvos deste conhecimento a majoritária população marginalizada pela estruturação do bom funcionamento do sistema capitalista.
Nesse sentido, o papel da pesquisa dentro da universidade pública é o de se voltar para os acontecimentos da realidade e a partir destes, analisar fenômenos e conceitos de forma a identificar de onde estes partem e para onde estes se encaminham, podendo identificar a que e a quem eles servem, para assim realizar uma construção de conhecimentos novos sobre eles. Utilizando também, através do ensino, do acúmulo de conhecimentos já produzidos e de uma perspectiva histórica e social, caminhando no sentido de transformar os conceitos seja substituindo-os por outros formatos ou acrescentando novos conhecimentos nestes já existentes.
Não descolada da pesquisa está a extensão, a qual dentro da universidade possui o papel de levar para fora do espaço físico desta a produção de conhecimento realizada e de também, através deste contato mais direto com a sociedade, poder levantar elementos para contribuir na construção e aprimoramento do conhecimento. Enquanto o ensino se encarrega do conhecimento já produzido e a pesquisa da construção de novos conhecimentos, a extensão se encarrega de estabelecer o contato entre realidade e conhecimento potencializando a organização das populações.
Quando estabelecido o contato entre o conhecimento científico produzido na universidade e a sociedade em si através de projetos de extensão, este contato não deve se realizar de forma a despejar um conhecimento pronto e hierarquizado, mas sim de emancipar os sujeitos com o objetivo de estes se tornarem cada vez mais autônomos e transformadores de sua própria realidade. Não se trata apenas de atender a uma necessidade social, o que se confunde facilmente com um assistencialismo que mais atua para manter a exclusão da sociedade do espaço universitário e as relações sociais como estão, mas sim de uma atuação politizada e crítica.
Um exemplo de espaço com enorme potencial para produção de conhecimento e de extensão universitária neste formato é o espaço dos Serviços Modelos. Hoje na UFSC existem seis Serviços Modelos no total, sendo eles AMA (Atelier Modelo de Arquitetura), Sempsi (Serviço Modelo de Psicologia), Saju (Serviço de Assistência Jurídica) Semso (Serviço modelo Socioeconômico), Nós (Oficina Modelo de Design) e Semente (Serviço Modelo de Engenharia e Tecnologia), ativos e inativos. Os Serviços Modelos se caracterizam por ser um movimento estudantil de resistência e denúncia do atual formato de produção de conhecimento e de extensão universitária, escancarando a partir de suas atuações o quão despreparada está a formação acadêmica para lidar com os problemas reais e o quão fechada está a universidade para estudar a sociedade na qual está imersa e para a entrada dos sujeitos desta neste espaço . Este é, inclusive, um caráter importantíssimo que precisa ser retomado pelo movimento dos Serviços Modelos da UFSC, para que estes não acabem por se tornar apenas mais uma boa-ação da universidade perdendo todo o seu potencial revolucionário. Os Serviços Modelos devem ser um espaço de estudo da realidade, de produção de conhecimento e de extensão, revelando o quanto divergem da proposta da Universidade Pública os atuais projetos de pesquisa e extensão dos núcleos da universidade e as alternativas de uma suposta extensão como as Empresas Juniores.
Para responder à pergunta inicial, então, na SEPEX podemos encontrar evidências do quão distante de cumprir o seu papel fundamental, através da pesquisa e da extensão, a Universidade Pública está. Apesar de riquíssimas produções nas áreas citadas no início do texto, a que e a quem a maioria dessas produções contribuem e que transformações elas promovem?