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Maria Alice de Carvalho e Morgana Martins – Redação UàE – 30/10/2017
Na última sessão do CUn/UFSC 26/10/2017, em reunião de caráter extraordinário chamada atendimento à solicitação de 1/3 (um terço) dos membros do Conselho Universitário para debater os impactos do processo judicial na universidade – principalmente o que culminou no suicídio do reitor Cancellier- os Conselheiros, incluídos os representantes discentes, optaram por não permitir a presença da imprensa na sessão.
Após a votação em que os conselheiros optaram para ser uma sessão fechada, a sessão contou com um debate sobre o porquê da imprensa estar interessada nas discussões que haveria no Cun. Essa preocupação foi corroborada pela percepção dos conselheiros de que nos últimos acontecimentos a imprensa somente contribuiu com a espetacularização dos fatos.
Essas atitudes – sessão fechada, impedimento da entrada da imprensa, etc – denunciam, senão, o medo do Conselho pela transmissão de informações e consequente participação ativa da comunidade nas decisões que são discutidas neste espaço. Principalmente, com relação a atual e complexa discussão de sucessão da reitoria, decisão esta que vem sendo reiterada sem o direito da ampla participação da comunidade universitária.
Para nós é lamentável que o acesso a imprensa seja negado em um espaço decisivo à Universidade como é o CUn. Este espaço não pode ser reservado a participação de somente aqueles que já estão lá, mas a toda a comunidade, visto que o que se debate ali dentro diz respeito ao futuro de nossa Universidade.
Por isso, é preciso que defendamos o acesso geral ao Cun e o papel da imprensa, a qual historicamente sempre teve seu lugar nos espaços deliberativos na Universidade. Só assim a comunidade pode ter acesso às informações que giram em torno de decisões e discussões que a tocam diretamente.
Não parece plausível a justificativa dada pelos Conselheiros de que a imprensa não necessitaria estar neste espaço por conta de a sessão já ser transmitida online. A imprensa possui um papel que vai para além de transmissão online, ela é um meio de comunicação com a comunidade seja ela interna ou externa à UFSC. Além do mais, é um desrespeito achar que uma transmissão – na qual não foi possível identificar os conselheiros que se pronunciavam até próximo da metade – seja capaz de transmitir informações com qualidade para que a comunidade possa tomar consciência do que está ocorrendo no momento atual da Universidade e quais são os posicionamentos de cada indivíduo que está lá o representando.
É importante destacar algumas falas que os Representantes Discentes fizeram, para que consigamos debater um pouco com o que foi colocado. Por exemplo, na fala de um dos estudantes, é dito que não se compreendeu o porquê de a imprensa querer participar, visto que eles, naquele Conselho, não estavam fundando a Universidade do zero e reconstruindo tudo, logo, não haveria motivos para que tanto a imprensa quanto a comunidade requeressem acesso direto à sessão podendo se satisfazer com a transmissão online. Nós (os que não estavam presentes na sessão) não achamos que a Universidade seria fundada do zero nesta sessão do CUn, assim como trouxe o estudante, apenas achamos que é de direito da comunidade ter acesso a este espaço independente de qual forem as pautas abordadas.
Além disso, é desrespeitoso acreditar que a comunidade está bem servida com a transmissão online, como foi também afirmado pelo representante discente. Há necessidade sim de transmissão/cobertura detalhada pela imprensa – principalmente no momento em que estamos -, o que não quer dizer que a imprensa tenha uma narrativa particular verdadeira dos eventos, mas que através de uma análise cuidadosa destes possa torná-los mais compreensíveis e oferecer diferentes versões para a interpretação da comunidade. O que significa, então, que a simples transmissão não quer dizer que está sendo cumprido um papel jornalístico da transmissão dos fatos. Se negar este direito à comunidade não é tentar esconder algo, peço então que nos respondam o que é.
“Agora, o principal para mim é a questão da imprensa, até me assustei com esse tanto de imprensa querendo participar hoje e fico pensando o que está passando na cabeça deles, o que eles estão achando que vai ser essa sessão, será que eles acham que vai ter uma Universidade sendo fundada do zero hoje, começando tudo de novo? Eu tenho um pouco de medo do que eles estão esperando e o que que isso vai passar, se a gente não está de certa forma contribuindo e dando espaço para essa questão que a gente já vem debatendo há algum tempo da espetacularização dos processos, né, a mídia contribuindo para uma narrativa particular dos eventos, né, então eu acho que a gente já está muito bem servido com a transmissão que a gente faz online e que a comunidade já está acostumada e tem o link de referência, boa parte já acompanhando agora eu acho que não seria tão interessante – pensando no momento que a gente está – uma cobertura tão invasiva e tão detalhada da imprensa aqui, porque eu acho que – não que tenhamos que esconder algo – mas entendendo o que que vem se construindo nos últimos tempos, aí eu acho melhor só o acompanhamento da câmera de transmissão mesmo.”
Não bastasse esse pronunciamento de um dos representantes discentes, um outro reafirmou o posicionamento dos estudantes presentes na sessão como contrários a entrada da imprensa:
“Discordo da proposta de votação de casos separados porque acho que a gente não pode votar a entrada da imprensa veículo por veículo, porque a gente vai ter que fazer uma seleção de qual veículo entra e qual não entra, eu acho que desde o começo da investigação a gente tem – não teve, inclusive – um debate sobre qual o papel da imprensa nisso tudo, a gente vem falando muito mas a gente não debateu seriamente isso. Então, sou contra votar caso por caso na questão da imprensa eu acho que a gente vota todos da imprensa que querem entrar aqui ou a gente não vota a entrada da imprensa. Eu também sou contra a entrada da imprensa aqui porque como – eu não lembro o nome do conselheiro que falou isso – mas como foi citado a imprensa sempre pode pedir para entrar, todo mundo pode pedir para entrar aqui no Conselho Universitário, eu já vi o CUn votar contra a entrada de estudantes e pessoas da comunidade universitária diversas vezes, e a transmissão do CUn é online e todo mundo tem como ver o que estamos falando. Não sei o que a imprensa faria aqui se não for ver o que estamos falando, não sei se vai entrevistar ou se ver a reação de conselheiros, e que evento extraordinário é este que a imprensa está esperando que aconteça hoje aqui, que não esteve presente nas outras reuniões do Conselho. Então, coisas ordinárias da Universidade não são interessantes a imprensa? O que está interessando nessa reunião que já tem uma pauta única e definida?”
Os trechos podem ser assistidos no vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=kR-tjvxD7Y8&feature=youtu.be&app=desktop
Para nós, essa argumentação a qual utiliza como justificativa para barrar a imprensa os impedimentos anteriores da entrada de estudantes e pessoas da comunidade universitária neste espaço apenas afirma o caráter desta atitude como um muro de contenção diante da participação ativa da comunidade. O interesse de estar presente nesta sessão não se trata do desejo de espetacularização – apesar de que não podemos prever as ações de cada veículo, porém, caso viesse a ocorrer o sensacionalismo por parte de alguma imprensa, o conselho poderia expô-la ao invés de censurar previamente – mas sim de garantir que a comunidade tenha acesso às informações e a uma análise séria dos fatos diante dos importantes acontecimentos que vêm ocorrendo na Universidade – algo que todos na Universidade buscam compreender.
É lamentável que os estudantes, dos quais esperávamos maior comprometimento com a comunidade universitária, sejam a favor de um posicionamento como esse. Fato esse que demonstra, também, a importância de compreender o que está se passando no CUn e poder cobrar as posições de nossos representantes. Para nós, a argumentação foi percebida como um silenciamento aos jornais e a imprensa, e que, por outro lado, isso pode dar margem para que a imprensa de esquerda seja barrada, censurada ou impedida em outros momentos de participar de coberturas de eventos importantes. Para nós, esses posicionamentos são sempre carregados de concepções políticas, portanto, sabemos que essa posição não é ingênua.
Portanto, para nós é inquestionável que as decisões tiradas no conselho com relação à reitoria devem sim ter o respaldo da comunidade universitária, a qual necessita do papel jornalístico da imprensa para adquirir informações com qualidade – do contrário, estas decisões não serão mais que decisões de cúpulas, decisões isoladas. Um passo para que a comunidade possa estar acompanhando os acontecimentos, então, é defender a liberdade de participação da imprensa em todos os locais, principalmente nos em que as definições sobre o público e coletivo estão sendo tomadas; sem censura prévia e com possibilidade de direito de resposta!
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