Marcos Meira para UàE – 27.03.2018
Nesta próxima quarta-feira (28), a comunidade universitária participará da consulta para a escolha do dirigente máximo da instituição. Não fomos nós quem escolhemos essa nova consulta, ela ocorre na esteira de acontecimentos trágicos. Resulta da ação absurda e desmedida de instituições externas à universidade, que repetiram os absurdos avanços contra nossa instituição já demonstrados anteriormente no Levante do Bosque e que, infelizmente, neste último episódio deixou um rastro tenebroso de abusos que levaram ao suicídio do reitor Cancellier e à total ineficácia de qualquer investigação séria e responsável sobre desvios de recursos públicos. Portanto, não é uma eleição qualquer e o momento pede serenidade para escolher o melhor caminho para nossa reitoria daqui por diante.
No UàE, em diversas oportunidades, procuramos conhecer melhor as três candidaturas. Delineamos o perfil de cada candidato, acompanhamos os debates públicos (inclusive o debate de ontem (26) no qual apenas Irineu se interessou de discutir com os estudantes) e realizamos entrevistas com Edson e Irineu – Ubaldo se recusou a realizar a entrevista nos mesmos termos em que os demais candidatos. Em todas essas ocasiões, pudemos formular nossas análises políticas com independência e seriedade, tendo em vista a questão sobre o que seria melhor para a nossa UFSC.
E em favor dessa responsabilidade, não deixamos de fazer críticas duras quando necessário. Foi assim com o prof. Ubaldo por inaugurar o campus de Joinville afirmando que a UFSC escolheu um novo projeto institucional e que nos perguntamos, afinal, quando é que a nossa comunidade universitária escolheu esse novo projeto? De onde surgiria tal naturalização de que o reitor nos informa que a universidade segue “novos caminhos” como se fosse o bastante que nós fossemos informados de nossos destinos na leitura de um jornal? Nada de novo no ar, por detrás da forma serena característica do prof. Ubaldo, vislumbramos a mesma velha política de imposição maquinal de projetos políticos aos quais permanecemos totalmente alheios e que são realizados através de métodos e articulações que nos destituem de qualquer possibilidade de opinião ou de ação verdadeiramente democrática.
Também procuramos ser duros quando, no debate de ontem (26), organizado pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE), apenas o prof. Irineu compareceu. As cadeiras vazias de De Pieri e Ubaldo simbolizaram o mais vergonhoso descaso pela participação dos estudantes. Apenas Irineu, com ar de coragem, enfrentou o debate de cabeça erguida. Se ambos os candidatos ausentes precisarem nos próximos dias analisar as razões de suas derrotas nesta consulta, espero que se lembrem desse momento, pois foi a partir dali que deixou de existir votos indecisos entre os estudantes.
De Pieri é o candidato que mais expressa um afastamento das pautas e questões de esquerda em nossa universidade. Por limitações próprias e de seu grupo político, mostrou-se durante toda a campanha incapaz de compreender a linguagem pela qual poderia dialogar com esses setores. Quando questionado sobre o papel da universidade, sobre a incubação de empresas, parcerias público-privadas e sua compreensão sobre o papel da ciência, tecnologia e inovação demonstrou um pragmatismo que não só ignora as formulações acadêmicas e políticas de pesquisadores e militantes críticos, como desconsidera totalmente qualquer possibilidade de ouvir. Para a nossa universidade, a eventual vitória de De Pieri significaria transformar novamente os córregos que a dividem geograficamente em abismos que interditariam o diálogo com a universidade como conjunto. Em tempos de crise, certamente, isso representaria reviver velhos dilemas para as áreas humanas e sociais.
Essa campanha nos permitiu analisar de forma muito pessoal o nível das formulações políticas das candidaturas. A UFSC precisa melhorar muito nesse aspecto para fazer justiça ao papel que ocupa na sociedade catarinense. Destacamos a maneira, principalmente, como as candidaturas de Ubaldo e De Pieri se mostraram conservadoras e submetidas ao imediatismo, incapazes de fazer reflexões de maior complexidade. Nada mais emblemático do que as respostas desses candidatos no debate promovido pela comissão eleitoral, no último dia 22. Para ilustrar, quando indagados sobre a situação da segurança no campus, por exemplo, os candidatos Ubaldo e Edson limitaram-se a discutir em quais situações a Polícia Militar (PM) pode ou não ser chamada para atender ocorrências. Irineu, por outro lado, saltou vários anos-luz à frente, preferindo discutir aquilo que realmente cabe a uma liderança à altura do gabinete de um reitor: a necessidade, urgente, de exigir do Governo Federal o reestabelecimento do cargo de segurança institucional para as Universidades Federais, algo que deve ser buscado junto a todos os demais reitores das universidades, como através da ANDIFES (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior). Outra questão muito ilustrativa ocorreu quando os candidatos foram questionados sobre o papel das Fundações de Apoio. Edson e Ubaldo, conformados com a realidade (e parecendo desconhecer as legislações existentes para regular a utilização dos recursos financeiros através das contas federais), limitaram-se às declarações de que são pessoalmente favoráveis às Fundações, Ubaldo ainda afirmou, como simulando alguma ressalva: “As Fundações são o mal necessário”. Irineu, por sua vez, foi o único a dizer que a questão expressa, na realidade, a base da infraestrutura de financiamento da pesquisa científica nacional e que precisa necessariamente ser reorganizada para possibilitar saltos no desenvolvimento de nosso país. Para ele, a universidade conta com estrutura administrativa e financeira para gerir os recursos de financiamento à pesquisa com mais eficiência e transparência do que as Fundações de Apoio.
Da consulta de 2015 ao presente, Irineu mudou fundamentalmente. Os principais pontos que nos fizeram criticá-lo naquela campanha, transformaram-se em autocritica e isto é absolutamente louvável. Nossas críticas àquela época centravam-se na posição vacilante e imatura daquela candidatura principalmente sobre Fundações de Apoio e Parcerias Público-Privadas. Fomos incisivos: na posição editorial do jornal de 20/10/2015, chegamos a afirmar que “Irineu não merece nossos votos pelo mérito de suas propostas, mas tão somente porque votar em sua candidatura é votar contra Roselane Neckel e Luiz Carlos Cancellier”.
Felizmente para a UFSC, a situação se passa de maneira completamente diversa no presente. Irineu tornou-se outro candidato, firme e com convicções políticas à altura da dignidade do cargo que pretende ocupar.
Tudo isso escancara que teremos apenas dois polos nessa consulta: de um lado há os conformados e de outro há uma candidatura que expressa o revigoramento da inteligência prática e política da nossa UFSC.
Não podemos deixar de lado que nossa universidade atravessa tempos difíceis. No horizonte não há calmaria. Não nos recuperamos ainda da catástrofe política que foi a reitoria comandada pela profa. Roselane Neckel (2012-2016), não nos cicatrizamos do suicídio político de Cancellier e temos já à frente cortes duríssimos no orçamento da educação, da ciência e da tecnologia. Este não é mais o momento da pequena política, de negociações de pequenas vantagens para grupos ou setores, não é mais o momento dos corporativismos banais. É o momento em que o Reitor terá que demonstrar a capacidade de expressar a inteligência mais arguta e própria da instituição universitária. É o momento em que precisamos começar a nos orgulhar de nossos dirigentes e recompor o direito de decidir democraticamente quais rumos a universidade deve tomar – sem ludibriamentos da participação da comunidade. Será assim, ou a universidade seguirá sendo destroçada por dentro e por fora por aqueles que a querem submissas aos seus próprios interesses mesquinhos ou aos interesses do capital corporificado nas empresas, fundações e parcerias público-privadas.
Na quarta-feira, a UFSC irá às urnas. Nós precisamos que as urnas expressem um novo horizonte para nossa universidade, para nós, hoje, isso significa que precisamos votar em Irineu (80).
Desta vez, não para votar contra Edson De Pieri ou Ubaldo Balthazar, mas porque Irineu (80) efetivamente expressa o que há de melhor em nossa universidade.