[Opinião] Chacota como reflexo da degeneração política no movimento estudantil

Maria Alice de Carvalho e Jussara Freire* – UàE – 16/05/2018

Na última segunda-feira (14/05), o Centro Acadêmico Livre de Psicologia – CALPsi lançou uma nota explicando a sua saída do Conselho de Entidades de Base (CEB) do dia 07/05; a nota abordava o descaso com que o posicionamento do Centro Acadêmico foi tratado quando colocou em evidência que os representantes presentes na sessão não estavam discutindo com sua base sobre a implementação do regimento. Após essa nota ser postada no grupo de Facebook do CEB, ficou evidente o desprezo do DCE com o posicionamento dos Centros Acadêmicos e suas participações ativas no referido Conselho que ousam discordar de suas políticas. O silêncio e não manifestação, como se as reflexões trazidas pelo Centro Acadêmico fossem irrelevantes  e banais, repetiu a postura da própria reunião do CEB citada pela nota.

Confira a nota do Calpsi aqui.

Apesar de o DCE não ter se manifestado com relação aos questionamentos da nota ou ter pelo menos buscado compreender melhor o posicionamento do Centro Acadêmico, Henrique, militante da JCA, membro do DCE e sempre coordenador das mesas do CEB, ofereceu sua resposta em forma de escárnio. Para além de rebaixar a importância do debate trazido pelo Centro Acadêmico em comentários no próprio post da nota, este se manifestou através de uma imagem em seu perfil na tarde de hoje:

A imagem, que foi apagada minutos depois por Henrique, é publicada por este como uma resposta às acusações de que a mesa do CEB está tratorando as reuniões; em tom de chacota, ele explicita que sim, que caso se faça necessário ele passará com um trator por cima daqueles que ousarem questioná-lo e se posicionarem contrários aos seus interesses políticos dentro dos espaços do movimento estudantil. A atitude do membro do DCE em publicar essa imagem não apenas evidencia as acusações de que este atua de forma a impedir a manifestação dos Centros Acadêmicos que se colocam contrários a ele nas reuniões do CEB, mas também que ele não possui pudor algum em admitir isso publicamente.

É visível a forma como esse membro aparelha tanto a atuação do Centro Acadêmico o qual compõe (Centro Acadêmico Livre de Física – CALF) e da atual gestão do DCE com as linhas de sua Organização Política (JCA). Um exemplo onde a prática de Henrique, e este como protagonista do processo de arregimentação do CEB da forma como está acontecendo, pode ser vista, é quando este, no grupo de Facebook do CEB, lançou em nome do CALF a proposta de Regimento escrita por ele e logo em seguida respondeu a si mesmo em nome do DCE; uma conversa entre ele e ele mesmo – um reflexo da postura que se mantém até hoje – e ai de quem tentar romper com esse monólogo, terá de se haver com o mecanismo que for necessário para retornar ao papel de mero espectador.

A brincadeira de Henrique em postar a imagem logo antes da reunião que havia sido convocada para hoje e em responder a si mesmo no grupo do CEB quando propôs o regimento, que por alguns pode ser tratada como uma mera expressão de humor, aparece como uma real expressão da política vigente; basta um pouquinho de introdução à psicanálise para se lembrar do conteúdo de verdade que uma piada carrega consigo.

Hoje, dia 16/05, diante da falta de quórum para realização da reunião, a proposta deste mesmo militante, é que se debatesse já então o conteúdo dos artigos com os presentes, e na próxima sessão somente se encaminhasse a votação dos artigos, ou seja, diante do desgaste e esvaziamento que a política intransigente têm gerado no CEB, se tenta utilizar de um tipo de contorno desonesto e do mais baixo modo possível para poder seguir encaminhando o regimento mesmo sem quórum! Isso não tem outro nome, isso é golpe e atropelo! No vídeo ao vivo disponível na página do DCE, na parte do minuto 40, com 40 segundos, é possível assistir o mesmo defendendo sem pudor nenhum que “se os c.a’s aqui presentes chegarem num consenso de algumas questões, já está validado, a gente vai escrever ali, pra já na próxima reunião apresentar isso que a gente discutiu hoje”.

A previsão de teto da “conversa” era para ir até às 19h, contudo, Henrique permaneceu no mínimo até às 20h30 no miniauditório debatendo com um membro da antiga gestão do DCE; o limite da expressão de como essa política está sendo determinada.

Em um momento onde a forma de fazer política dominante em todas as esferas é essa que não permite profundas e amplas reflexões, em que as Organizações Sociais acabaram de ser aprovadas pela prefeitura e câmara de vereadores em um modo que todos os movimentos caracterizam como “à base de trator”, em que a polícia entra na Universidade para expulsar pobres e pretos à base de bala de borracha; não é qualquer coisa que um de seus principais militantes se sinta à vontade para se expressar como adepto de tal prática e não é possível que isso passe despercebido.

A prioridade dessa gestão virou o regimento do CEB, enquanto nada se fala sobre os problemas enfrentados pelos estudantes cotistas, os problemas que seguem na moradia estudantil e a bolsa permanência perante os saltos que o custo de vida na cidade têm alcançado. A intransigência que se disfarça de zombaria não diz somente sobre a redução política que se faz à liberdade de crítica na Universidade, ela é a cara e expressão de uma política que pouco compromisso tem com a luta de classes e com aqueles que nela sofrem as suas piores consequências.

  *O texto é de inteira responsabilidade do(s) autor(es) e pode não refletir a opinião do Jornal.

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