[Opinião] O que ficou dos quatro meses de intervenção militar no Rio de Janeiro?

Morgana Martins* – Redação UàE – 20/06/2018

No dia 16 de junho completaram quatro meses da intervenção militar no Rio de Janeiro. O governo federal declarou essa intervenção na segurança no dia 16 de fevereiro, com prazo de atuação até o dia 31 de dezembro.

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O plano de intervenção, realizado pelo interventor Walter Braga Netto, comandante do CML (Comando Militar do Leste), foi entregue somente no dia 14 de julho. O documento possui 82 páginas e seus objetivos principais giram em torno de reduzir os índices de criminalidade e aumentar a sensação de segurança da população.

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Buscando algumas informações no Instituto de Segurança Pública do estado do Rio de Janeiro para buscar elementos específicos sobre o “saldo” da intervenção, é possível perceber que ocorreram diminuições mínimas nos índices de roubo de carga e de veículos. Nos meses de março, abril e maio de 2017 a soma do roubo de veículos e de carga era de 17542, enquanto nesse mesmo período de 2018 a soma foi de 16958, uma diminuição de 3,3%. Em relação a apreensão com porte de drogas, os números aumentaram em 3,4%, somando 5383 no período de março a maio de 2017 e 5567 no mesmo período de 2018.

Ao mesmo tempo, a taxa de homicídio por intervenção policial subiu em 25% de janeiro a maio do ano de 2017, para o mesmo período em 2018, como demonstra o gráfico a seguir:

 Fonte: dados do ISP – RJ. Acesso em: http://www.ispdados.rj.gov.br/

Porém, esses dados por si só não dão conta de nos dar elementos explicativos sobre a Intervenção no Rio de Janeiro. Enquanto a grande mídia tem feito um esforço para enxergar nesses dados os resultados positivos — o  tão desejado aumento da “sensação de segurança” —, ao mesmo tempo que faz vista grossa ao orçamento de 1,2 bilhões de reais, o verdadeiro saldo da Intervenção Militar no Rio de Janeiro fica invisível nos jornais. As fotos contam uma outra história.

Existem diversas fotos que explicitam o cotidiano da Intervenção: o cerceamento do pouco daquilo que hoje convencionamos chamar de liberdade, o medo, a violência, a apreensão e a tensão. Até mesmo as crianças são revistadas, olhadas, cercadas. As críticas maiores foram com relação a última foto, a qual demonstra a prática corriqueira em que os militares fotografavam as pessoas juntas de seus documentos com foto. Esses absurdos precisam voltar a serem olhados como absurdos, como algo que precisa ser modificado radicalmente.

Com esse outro possível campo de análise aberto, é visível a criação de um padrão de normalidade pelas grandes mídias, aliadas com a ideologia da classe dominante. Enquanto os dias nas favelas são tomados por medo, repressão e injustiças, a classe dominante como um todo nos leva a aceitar isso como um padrão de normalidade, como se não houvesse uma outra forma de resolução dos dilemas que assolam a nossa sociedade.

Portanto, nesse momento, nos cabe retomar a importância de colocar alternativas ao pensamento dominante, mostrar que esses elementos repressivos não podem passar na normalidade, como corriqueiros: é preciso olhar esses dados, essas informações e questioná-los. Principalmente em um momento no qual o medo é o afeto que nos aparece como o único possível.

*O texto é de inteira responsabilidade do autor e pode não refletir a opinião do Jornal.

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