Foto do espaço destinado à Praça da Tecnologia. Foto: Arquivo Universidade à Esquerda

[Debate] Estacionamentos ou Praças, qual Campus queremos?

Júlia M. – Redação UàE – 21/08/2018 – Atualizado em 22/08/2018 às 9:53

Sem espaços adequados para convivência, os estudantes do CTC vivem hoje espremidos no bar do CETEC. Imagino como seria bom sairmos daquela aula de cálculo, ou qualquer outra disciplina desgastante, e ter um lugar agradável para passar o tempo, encontrar amigos, tomar um café. Um espaço onde possamos recuperar nossas energias gastas no processo de estudo. Muitas das melhores universidades do mundo, como Harvard e MIT, possuem parques com imensos gramados que proporcionam isso aos seus estudantes.

Nas cidades, atualmente, a demanda por espaço é cada vez maior e sua disputa cada vez mais acirrada. Em todo lugar, vemos projetos serem debatidos e executados: alargamento de vias, aumento ou diminuição de uma Área de Preservação Permantente (APP), aterro no mangue, despejos. Na universidade, a disputa por espaço físico acontece em diversos âmbitos. Dentro dos prédios se discute fazer uma sala para cada professor ou uma biblioteca setorial. Fora dos prédios, estacionamentos ou praças? O debate pode ser analisado de diversos ângulos.

De fato, muitas pessoas têm dificuldade de estacionar no campus da UFSC na Trindade. Seria muito simplista dizer somente “que não venham de carro”. Sabe-se que o transporte coletivo de Florianópolis deixa muito a desejar e que os altos preços dos alugueis nos bairros próximos à UFSC fazem com que alguns estudantes e servidores prefiram morar mais longe e se locomoverem de carro até a universidade diariamente. Assim, existe uma grande demanda por espaço para estacionamento de carros.

Assim como outras questões urbanas, as propostas de solução devem ser pensadas a partir da coletividade e do bem estar das pessoas que habitam a cidade e o campus universitário. Deve-se pensar em estudantes, que são a maior parcela de pessoas circulando pelos espaços, servidores (professores e técnicos) e comunidade externa, conjuntamente. Na UFSC, muitos estacionamentos são de acesso restrito aos professores, fazendo com que estes tenham muita comodidade ao vir de carro para a universidade e relegando os outros à disputa das poucas vagas restantes.

Atualmente, em estudos de urbanismo e mais especificamente em estudos de planejamento de transportes urbanos, propõe-se que as políticas públicas favoreçam o uso de transportes não motorizados, como bicicletas, e transportes coletivos, como ônibus. Favorecendo o compartilhamento dos espaços e diminuindo barulho, poluição e congestionamentos nas ruas. Já está mais do que na hora de nos levantarmos de nossas posições confortáveis e conformadas e lutarmos por um projeto de cidade e de campus universitário que valorize as pessoas e não somente o automóvel.

Com o Plano de Mobilidade Urbana Sustentável da Grande Florianópolis (Plamus), este espaço urbano já está sendo planejado de forma a privilegiar o transporte coletivo por meio de instalação do sistema Bus Rapid Transit (BRT) e da diminuição da quantidade de vagas de estacionamento. Não há lugar melhor do que a universidade, cumprindo sua função de estar à vanguarda da sociedade, para que estas medidas de inibição do uso de automóveis particulares comecem a ser tomadas de forma mais intensiva.

Um espaço de lazer, como uma praça, pode ser usado por inúmeras pessoas, com variadas finalidades ao longo do dia e da semana. Pode ser um espaço para reuniões, debates, descanso, troca de conhecimento, entre outras atividades. Ou seja, é um espaço público de fato. Por outro lado, um estacionamento pode permanecer um dia inteiro ou até mais tempo com um único carro estacionado nele, servindo exclusivamente a uma pessoa. Na prática, o espaço é privado. Este é um exemplo de consideração que deve se feita para se planejar o tipo de campus que queremos ter.

Além disso, a cidade de Florianópolis tem poucos parques e espaços de lazer ao ar livre. Aos finais de semana, a Praça da Cidadania, por exemplo,  recebe muitas pessoas que usam este espaço para brincar com crianças, passear com cachorros, praticar atividades físicas e conversar. Nas quartas feiras, a feirinha se enche de gente que também quer estar por uns momentos em um local agradável. Mesmo que não totalmente receptivos à permanência das pessoas, estes espaços acolhem aqueles que desejam estar ao ar livre em algum momento do seu dia.

No CTC, o pequeno espaço de grama existente é o lugar preferido de muitos estudantes para descansar no intervalo das aulas. O chamado Bar do CTC, no prédio do CETEC, fica tão cheio de gente durante todo o dia que por vezes é difícil passar por ali. Com uma rotina muito estressante, os estudantes e servidores do CTC fariam bom uso de um espaço de lazer e permanência ao ar livre, como uma praça. Um local onde é possível ficar ao sol em dias frios, na sombra em dias quentes, conversar e confraternizar com colegas de aula e amigos. Este lugar é a Praça da Tecnologia.

A Praça da Tecnologia 

Pelo menos desde 2005, o espaço entre o CETEC, os prédios das engenharias sanitária e ambiental, de produção, mecânica, e do Departamento de Informática e Estatística, consta no Plano Diretor Participativo da UFSC como Praça da Tecnologia. O projeto nunca foi realizado, sob a alegação de que a concha acústica prevista no projeto original não poderia ser construída, pois o som atrapalharia os laboratórios existentes no entorno, ou por alegação de falta de verbas.

[caption id="attachment_3962" align="aligncenter" width="618"] Imagem do Plano Diretor da UFSC de 2005.[/caption]

Clique aqui para acessar o Plano Diretor da UFSC de 2005

Ao longo dos anos, o tema da Praça da Tecnologia foi sendo retomado de diferentes formas, sem nunca chegar a um desfecho. Em 2014, o manifesto da campanha “Por um Novo CTC”, organizada por centros acadêmicos integrantes do CETEC,  reivindicava, entre outras pautas, a construção da Praça da Tecnologia. O manifesto já abordava:

O espaço em frente ao CETEC, entre o prédio do Departamento de Informática e Estatística e o Departamento de Engenharia de Produção e Sistemas, atualmente usado como estacionamento por professores, deveria ser mais um espaço destinado à convivência e integração da Comunidade do CTC: a pouco conhecida Praça da Tecnologia, projeto que existe há anos e do qual há muito não se fala. Entendemos que a construção da praça não pode mais ser postergada, e deve ser abraçada pela direção como uma obra prioritária, dada a carência que nós, estudantes do CTC, sentimos de espaços de convivência, relaxamento e expressão em meio à nossa desgastante rotina.

Em 2015, O PET Engenharia Civil iniciou o desenvolvimento  de uma nova proposta para a Praça da Tecnologia buscando conciliar os objetivos e requisitos dos estudantes e da direção do CTC para o local. Porém, o projeto não foi finalizado.

O Departamento de Projetos de Arquitetura e Engenharia da UFSC (DPAE) considera ali um estacionamento informal e irregular, já que o terreno está reservado para a Praça da Tecnologia. Durante o dia, somente professores podem estacionar e durante a noite o estacionamento fica aberto aos estudantes também. Como o local não é pavimentado, com um pouco de chuva fica cheio de buracos. Então, preocupada com a qualidade de onde os professores deixam seus carros, a direção do CTC tem gasto com terra e areia para nivelar o local periodicamente.

Recentemente veio à público a intenção da direção do CTC de pavimentar “provisoriamente” o local para servir melhor como estacionamento e evitar esse gasto constante com manutenções. Uma tentativa clara de formalizar o espaço como estacionamento ou, no mínimo, um desperdício de recursos públicos, já que o espaço deve ser uma praça e depois a pavimentação teria que se retirada para a construção da praça. Indignados com possível formalização do estacionamento, membros do Núcleo de Educação Ambiental (NEAmb UFSC) iniciaram uma campanha, com um abaixo-assinado,  para mostrar o interesse dos alunos em reviver o projeto e evitar a perda de um espaço de cultura, integração e lazer.

Como resposta, o vice diretor do CTC, prof. Sérgio Peters, convidou os estudantes para uma conversa sobre o som no CETEC e o tratamento dado a área destinada à Praça da Tecnologia. A reunião contou com a participação de membros dos centros acadêmicos, do NEAmb, do PET Engenharia civil, entre outros. Nela, membros do NEAmb propuseram que fosse plantada grama no espaço, que este não fosse mais usado como estacionamento e que aos poucos, conforme houvesse recursos, bancos e outros itens fossem instalados na praça. Não houve nenhum encaminhamento, somente a indicação de mais encontros para diálogo.

Considerando que o diretor do CTC, prof. Edson de Pieri, já se posiciona com a intenção de disputar as próximas eleições para o cargo de reitor da Universidade, com certeza não faz parte dos seus planos que sua gestão se indisponha com os estudantes nem com os professores que utilizam o estacionamento. Nesse sentido, a postura conciliatória do prof. Peters provavelmente não indica uma real intenção de avançar a realização da Praça da Tecnologia, mas sim de arrefecer a movimentação estudantil, talvez esperando para tomar uma decisão mais ao final do semestre, quando é mais difícil mobilizar os estudantes, principalmente no CTC.

Neste momento precisamos nos questionar: que tipo de espaços queremos no nosso campus? O que faremos para garantir que o espaço seja desta forma? As propostas de ocupação do espaço feitas pelo NEAmb podem indicar um  caminho possível. O engajamento dos estudantes, com pressão política e até com a construção de bancos, como acontece no espaço em frente ao prédio do departamento de arquitetura e urbanismo, pode ser uma forma de conquistar essa antiga reivindicação do movimento estudantil.

*O texto é de inteira responsabilidade da autora e pode não refletir a opinião do Jornal.

A sessão de debate acolhe textos de autores com ou sem vinculação ao UFSC à Esquerda. Os textos relacionados ao debate aqui exposto podem ser enviados para: redacao@ufscaesquerda.com.br.

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Um comentário

  1. Não é só questão de convivência, é uma questão AMBIENTAL.
    Esse ano o dia da sobrecarga foi em 1o de agosto (assustador, não?). Criar mais estacionamentos é dizer:
    – Venham para faculdade de carro! Ainda suportamos mais carros!
    Quando na verdade, isso é mentira. O transito de Floripa já não suporta a quantidade de carros que tem. O PLANETA já não suporta a quantidade de carros que tem. É difícil ver um carro com mais de 2 pessoas dentro.
    Qualquer atitude (diretamente ou indiretamente) associada com a diminuição do transporte particular deve ser adotada. Não precisamos de mais estacionamentos, precisamos de menos carros.

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