Leila Regina – Redação UàE – 04/09/2018
A Argentina tem vivido mobilizações intensas nos últimos meses. Em uma situação de crise econômica que não dá sinais de arrefecimento os movimentos sociais e sindicatos tem se mobilizado em paralisações, greves e manifestações.
No último dia 30, uma grande manifestação tomou conta das ruas de Buenos Aires. Esta manifestação foi convocada pelos sindicatos de professores, mas acabou tento uma proporção muito mais abrangente.
Há mais de um mês professores de universidades nacionais e de colégios pré-universitários estão em greve em defesa da universidade pública. A pauta da greve prevê aumento salarial, uma cláusula de atualização pela inflação, que garantiria a reposição automática salarial, e mais verbas e recursos para pesquisa, desenvolvimento e infraestrutura.
Os professores denunciam o sucateamento do ensino superior público no país e a queda nos salários e nível de vida, agravados pela grande inflação (no mês de agosto a inflação chegou a 20%). Essa greve se dá em meio a uma crise orçamentária das universidades de todo país. Essas demandas somam-se as críticas pelo não investimento em pesquisa.
As 57 universidades públicas em greve tiveram aulas paralisadas, além dos colégios secundários que delas dependem. Foram realizadas várias atividades de mobilização como aulas públicas na Praça de Maio. Além de paralisação dos professores também há ocupações estudantis.
Enquanto o Ministério de Educação nega problemas de investimento, há uma estimativa de corte de 36% do orçamento das universidades no último ano. Cerca de 20 universidades se declaram em situação de emergência econômica. Há universidades sem gás há 4 meses, como a Faculdade de Ciências Exatas da Universidade de Buenos Aires. Apesar da existência de diferentes sindicatos, os 3 principais sindicatos nacionais aderiram a greve depois de outros setores mais combativos já terem paralisado suas atividade no início das aulas, três semanas antes.
Professores negaram a proposta do governo de parcelarmente de um aumento muito menor do que o exigido e convocaram uma greve geral. A manifestação foi convocada pelas federações de docentes (CONADU Histórica, CONADU, FEDUN, FAGDUT y CTERA) as quais se somaram entidades estudantis. Com apoio de estudantes e agregada de uma insatisfação geral com o governo Macri, a manifestação do último dia 30 de agosto, quinta-feira tomou as ruas.
A situação crítica para educação superior no país, não muito diferente da situação dos vizinhos de continente, é agravada pelo ajuste fiscal acordado entre o presidente Macri e o FMI. A universidade pública é uma conquista da luta do povo argentino, que resistiu nos anos 90 a cobrança que hoje está em voga em propostas eleitorais no Brasil.
Em notícia sobre a manifestação a CONADUH (Federação Nacional de Docentes, Pesquisadores e Criadores Universitários) declara que:
El mensaje fue claro, la Universidad Pública es un bien social que todo el pueblo argentino está dispuesto a defender contra el ajuste que intenta imponer el gobierno de Macri. Sin educación y universidad pública no hay futuro y por eso es necesario también defender el salario docente.
A mensagem dos professores argentinos nos convoca a defender a educação como bem social do povo contra as políticas de ajuste fiscal.