[Notícia]Museu do MArquE paralisará suas atividades a partir da próxima semana.

Clara Fernandez – Redação UàE – 06/09/2018

Diante da tragédia do incêndio que devastou o Museu Nacional da UFRJ e do impacto de suas perdas, vêm à cena do debate público mais um aspecto sobre o descaso com a ciência e conhecimento no Brasil, demonstrando que os museus também estão sofrendo com o desmonte das universidades públicas.

Na UFSC, após reunião da equipe do Museu de Arqueologia e Etnologia Professor Oswaldo Rodrigues Cabral (MarquE), decidiu-se por paralisar as atividades externas do Museu a partir da próxima segunda, dia 10/09/18, buscando reivindicar que os recursos para a sua manutenção e o adequado atendimento à comunidade, que já são solicitados há anos, sejam de fato garantidos e se evite que tragédias como a do Rio de Janeiro voltem a se repetir.

Na manhã de hoje estudantes e professores do curso de Museologia foram até a Reitoria entregar uma carta redigida pelo corpo estudantil e uma redigida pela equipe do museu sobre as suas atuais condições.

Assista a entrevista com Luciana Cardoso, atual diretora do Museu de Arqueologia e Etnologia da UFSC (MArquE), relata sobre as atuais condições do museu. 

Confira a carta da equipe do museu na íntegra:

CARTA ABERTA À COMUNIDADE E À REITORIA DA UFSC, QUANTO À SITUAÇÃO DO MUSEU UNIVERSITÁRIO

O Museu de Arqueologia e Etnologia Professor Oswaldo Rodrigues Cabral (MarquE) é um órgão suplementar da Universidade Federal de Santa Catarina vinculado ao Gabinete da Reitoria. Conhecido como o berço da Antropologia no estado de Santa Catarina, teve o início de suas atividades na década de 1960 enquanto Instituto de Antropologia, passando, com a Reforma Universitária de 1971, à condição de Museu Universitário.

Atualmente, e mantendo sua relevância nos cenários arqueológico, antropológico, museológico e histórico da Região Sul, o MArquE faz parte da Rede de Museus Universitários, possui parcerias importantes quanto ao endosso a obras de interesse público, atende pesquisadores interessados nos acervos aqui salvaguardados e que desenvolvem teses, dissertações e trabalhos de conclusão de curso, bem como relatos de estágio, atua com populações indígenas, recebe escolas das redes pública e privada, atua na formação de professores, organiza eventos, sendo referência no estado nas questões de conservação de acervos, entre outras ações. Além disso, e em articulação com demandas locais, o MArquE está aberto à visitação de terça à sexta e no primeiro sábado de cada mês, desenvolvendo atividades educativas junto a diferentes públicos, notadamente o escolar, se constituindo como uma referência para as redes pública e privada de ensino e, neste momento, trabalha no projeto de uma nova exposição temporária sobre Franklin Cascaes. Dados que podem ser consultados nos seguintes documentos: Plano Museológico 2016-2021 e o Relatório Anual de Atividades 2017, ambos publicados na página do MarquE (http://museu.ufsc.br/).

As dificuldades orçamentárias historicamente sentidas pelos museus e instituições educativas vêm sendo aprofundadas pelas políticas de austeridade implantadas pelo governo atual, notadamente em decorrência da Emenda Constitucional do Teto de Gastos Públicos (resultado da aprovação da PEC 241/2016 na Câmara dos Deputados e 55/2016 no Senado Federal), que congela por 20 anos o investimento público em esferas estratégicas como a educação e a cultura.

Essa triste realidade, que negligencia os museus brasileiros, aniquilou o Museu Nacional/UFRJ e tem afetado visceralmente outros museus universitários pelo país. É neste contexto de precarização que o MArquE vem a público apontar sua realidade. Afinal, tamanha relevância institucional não tem sido suficiente para que questões básicas de segurança (para as pessoas e os acervos) sejam garantidas.

Não é novidade para as instâncias da gestão universitária que o MArquE possui questões latentes. Falamos aqui de problemas estruturais (como goteiras, infiltrações, problemas elétricos e de acessibilidade, entre outros) e relativas ao seu reduzido corpo técnico. Durante os últimos anos, e após a instituição se organizar internamente, vários foram os pedidos de manutenção predial, de acompanhamento institucional para elaboração e gestão de projetos estruturais, bem como tentativas de encaminhar a elaboração de um Plano de Gestão de Riscos, que culminaria em um Plano de Segurança e Emergência.

A falta de solução de nossas demandas, ou o encaminhamento de forma equivocada, nos faz refletir: O que a UFSC espera e projeta para o MArquE?

Quando nos deparamos com problemas simples como a falta de sinalização no Campus que informe a existência e localização do MArquE, quando entendemos que o Museu não possui orçamento próprio, quando vemos um prédio novo e com tantos problemas sendo utilizado sem as devidas autorizações, entendemos que talvez as instâncias de diálogo estejam esgotadas.

Neste sentido nos manifestamos.

Com esta carta, informamos a comunidade acadêmica, os órgãos de gestão universitária e a sociedade que, na ausência da garantia de segurança para os acervos e para as pessoas, a equipe opta por não colocar visitantes e pesquisadores em risco. Dessa forma, com pesar comunicamos a decisão de suspender, a partir do dia 10 de setembro de 2018, as atividades de ensino, pesquisa e extensão que envolvam pessoas que não fazem parte do quadro de trabalhadores do MArquE. O retorno destas atividades do Museu está condicionado à liberação de uso do prédio por parte dos órgãos públicos pertinentes (alvará do Corpo de Bombeiros e Habite-se da Prefeitura Municipal) e manifestação da Universidade perante demandas imperativas já manifestadas anteriormente.

A equipe seguirá trabalhando e desenvolvendo as atividades internas, buscando minimizar quaisquer possíveis danos, e se coloca à inteira disposição para os encaminhamentos necessários para a resolução desta situação. Aproveitamos para, nesta Carta Aberta, solicitar formalmente uma audiência com o Magnífico Reitor Ubaldo Balthazar a ocorrer no MarquE, para tratar da questão, de forma que possamos brevemente voltar a prestar seus serviços à comunidade.

Finalmente, a equipe do MarquE traz a público sua total solidariedade e apoio ao Museu Nacional/UFRJ, disponibilizando seus especialistas para colaborar nas atividades que o MN/UFRJ entenda necessárias.

Florianópolis, 06 de setembro de 2018

Equipe do MArquE

Confira a carta dos estudantes do curso de Museologia na íntegra:

Exmo. Sr. Reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, Prof. Dr. Ubaldo Cesar Balthazar. É do conhecimento de todos que as políticas adotadas no Brasil pós-golpe colocaram o país em uma agenda de cortes e retiradas de direitos. O projeto de desmonte do serviço público e precarização das universidades, pôs a cultura, pesquisa e ciência em uma situação de total abandono. A Emenda Constitucional 95, que congela os gastos públicos por 20 anos, fez mais uma vítima; no último domingo, 02/09, o incêndio do Museu Nacional expôs de forma bárbara e vergonhosa as condições fragilizadas com que operam, infelizmente, a grande maioria dos museus brasileiros. A comoção gerada entorno deste acontecimento vem fomentando na sociedade o debate acerca das situações de miséria e risco encontradas em tantas outras instituições, dando visibilidade, ainda que às custas de uma grande tragédia, às falas e apelos feitos a tanto tempo pelas “redes de apoio” dos Museus – gestores, técnicos, colaboradores, pesquisadores, estudantes, públicos, etc. Neste sentido, os estudantes que assinam este documento vêm por meio deste declarar total apoio aos servidores do MArquE – Museu de Arqueologia e Etnologia Prof. Oswaldo Rodrigues Cabral, e à sua luta por condições dignas de trabalho e de permanência no Museu, exigindo da Reitoria um posicionamento imediato e definitivo quanto ao orçamento destinado à instituição. Tendo em vista que o MArquE é o museu mais importante no que diz respeito à coleções etnológicas e arqueológicas do estado e a imensa responsabilidade da Universidade com o seu acervo, uma vez que ao aceitar determinados acervos o museu (que é subordinado à UFSC) aceita e se responsabiliza pela, conservação, preservação e proteção e comunicação deles, reiteramos nossa profunda indignação e tristeza diante da importância que a Universidade não tem dado ao MArquE e aos outros museus existentes na UFSC. Lutamos pelo direito e acesso as memórias e pela responsabilidade social que abarcam os museus. Queremos e exigimos um MArquE VIVO!

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