Fotos: UFSC à esquerda
22/09/2015 – Redação
Editorial: A maior vitória – a unidade da comunidade universitária. Um balanço preliminar do processo de unificação das lutas das categorias e segmentos na UFSC. Na manhã de ontem representantes da comissão de negociação da Assembleia da Comunidade Universitária assinaram termo de acordo com a administração central, oficializando as conquistas do movimento, que foram arrancadas numa dura luta, com muita pressão sobre a reitoria de Roselane Neckel. Esse acontecimento marca o encerramento de um primeiro e importante passo na retomada das lutas conjuntas entre as categorias de servidores docentes e TAEs e o segmento estudantil na defesa da Universidade Pública.
Num cenário de implacáveis ataques aos direitos sociais e aos serviços públicos, o sentido da unidade toma novas e mais vívidas proporções. Os cortes no orçamento da União, que afetam diretamente os serviços públicos e os direitos sociais; os ataques aos direitos trabalhistas; o avanço das terceirizações e privatizações: o conjunto de medidas que têm sido anunciadas e implementadas pelo Governo Federal do Partido dos Trabalhadores demonstram a continuidade, cada vez mais voraz, das reformas neoliberais, e expressam uma tendência de aguçamento da superexploração do trabalho e das expropriações da classe trabalhadora. Este cenário tem tornado explícita a necessidade de reorganização e a importância da luta unitária, independente e firme da classe trabalhadora, rompendo o encapsulamento vil do governismo.
A conjuntura nacional se expressa de forma particular na Universidade Pública. O cenário do chamado “ajuste fiscal” abre uma margem ainda maior para a política deliberada do Governo e das burguesias – internas e externas à Universidade -, de precarização, sucateamento, esvaziamento do sentido público, enfim de privatização da Universidade Pública. Neste contexto, a unidade da comunidade universitária torna-se uma necessidade objetiva da luta da classe trabalhadora pela defesa da Universidade Pública.
Na UFSC, diante desta situação, dos mais de cem dias de greve dos servidores docentes e TAES e das mobilizações estudantis, o processo de unificação da comunidade universitária foi fundamental para conquistar vitórias nas reinvindicações e dar um passo organizativo importantíssimo para o movimento universitário. O processo iniciou-se com a proposta do comando local de greve docente de criar um comando unificado de greves. A proposta foi aprovada pelos técnicos em greve, mas não sem tensos debates contra os setores governistas que dirigem o SINTUFSC. Deve-se ressaltar também a importância do apoio e participação de estudantes em greve, paralisados ou mobilizados nos seus cursos, ao longo do processo de luta. Em especial destacamos as ações do coletivo 4P e da ANEL na construção da primeira assembleia universitária.
O Comando Unificado de Greve experimentou uma proposta organizativa há muito não vista, com representantes de cada categoria e segmento trabalhando juntos, balizados pela paridade efetiva quando eram necessárias votações, debates amplos sobre a conjuntura das mobilizações, combatendo as investidas ao direito de greve, e principalmente organizando a luta conjunta, a luta da comunidade universitária. Contra todas as dificuldades, os ressentimentos entre as categorias e segmentos, a política conservadora das direções do SINTUFSC e da APUFSC, os ataques da gestão atual do DCE e de setores oportunistas – que espalharam mentiras e boatarias sobre os militantes que construíram o comando e sobre o próprio comando, jogando com desinformação e calúnias -, a unidade se consolidou, através da atuação decisiva do comando, que convocou e coordenou três assembleias da comunidade universitária[1], instâncias deliberativas que não aconteciam na UFSC desde a década de 90[2]. O comando unificado de greve realizou também uma série de atos e atividades conjuntas, pressionando a gestão e mantendo o fôlego do movimento grevista.
Mais importante, a unidade se consolidou através da disposição dos servidores docentes e TAEs e dos estudantes em superar a fragmentação das categorias e movimentos e lutar juntos em defesa da Universidade Pública, Gratuita, Laica e de Qualidade Socialmente Referenciada. A unidade se consolidou e estabeleceu no cenário da UFSC um novo sujeito político: a comunidade universitária unificada e organizada.
Ao longo desse processo a comunidade universitária organizada e em luta pressionou a reitoria de Roselane Neckel e foi capaz de furar os encapsulamentos do roselanismo e do governismo. Foram amplas mobilizações apontando a irresponsabilidade da reitoria em iniciar o segundo semestre na conjuntura dos cortes e das greves, deixando em situação de vulnerabilidade os estudantes em situação mais precária – os pobres e pretos, os pais e as mães –, apontando a necessidade da reitoria apresentar uma postura firme contra os cortes federais e de abrir as contas da universidade, demonstrando como se deu a aplicação dos cortes na UFSC.
As assembleias universitárias construíram uma ampla pauta local e unificada[3] de reinvindicações, cujos eixos passaram pela garantia da permanência estudantil, de melhores condições e segurança no trabalho, e pelo posicionamento contrário às terceirizações e à privatização[4]. Graças à unidade a reitora teve que deixar de fazer ouvidos moucos às reinvindicações do movimento, sendo obrigada a receber pessoalmente a comissão de negociação da Assembleia da Comunidade Universitária. E foi com esta ampla mobilização que logramos conquistas importantes em quase todos os pontos da pauta da reinvindicações.
As vitórias, ainda que em certa medida parciais, e que exigirão ainda mais força e luta para que se concretizem, demonstram a potência da unidade da comunidade universitária. No entanto, neste contexto não é exagero afirmar que a maior vitória foi a própria constituição de unidade da comunidade universitária. Um processo ainda incipiente é certo, mas decisivo na luta pela Universidade Pública.
Por fim, nós do UàE saudamos a todos e todas que despenderam esforços na construção deste processo: o CLG docente, os TAEs em greve, os estudantes em greve e em luta! E nos orgulhamos de termos participado dessa construção, tanto por meio de nosso veículo jornalístico, quanto com cada militante que, em suas categorias e segmentos, despenderam todas suas energias para que a unidade da comunidade universitária pudesse se constituir.
[1] Em 18 e 26 de agosto e 10 de setembro de 2015
[2] De acordo com relatos de militantes do movimento docente e dos TAEs, desde 1998 não acontecia uma assembleia universitária, reunindo as categorias e o segmento estudantil.
[3] Aprovada na assembleia de 26 de agosto
[4] https://ufscaesquerda.com.br/assembleia-universitaria-define-os-pontos-do-acordo-com-a-reitoria-e-acoes-para-fortalecer-a-unidade/