Morgana Martins* – Redação UàE – 04/10/2018
Depois de um ano com pouca ou quase nenhuma manifestação, o dia 29 de setembro renova os ciclos de luta por várias cidades do país. As manifestações contra o Bolsonaro, presidenciável do Partido Social Liberal (PSL), – difundida através da hashtag “ele não” –, organizadas pelas mulheres vinculadas aos grupos intitulados “Mulheres Contra o Bolsonaro” no Facebook, trouxeram à tona o descontentamento com o andamento das eleições no país.
Cerca de 212 cidades pelo Brasil e 15 países, como França, Argentina, Inglaterra, Espanha, Portugal, Estados Unidos, Escócia, Uruguai, Alemanha, Itália, Suíça, Áustria, Austrália, México e Cabo Ocidental, tiveram suas ruas ocupada por milhares de pessoas – em São Paulo, por exemplo, o número de manifestantes foi em torno de 150 mil, enquanto em Florianópolis, 50 mil. Atos desse tamanho não ocorriam desde 2016, nas manifestações contra o impeachment da ex-presidente Dilma Roussef.
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Um fator a atentar é de que, por mais que as grandes mídias estejam divulgando junto das gigantescas manifestações contrárias ao presidenciável as manifestações favoráveis, é importante distinguir e distanciar uma da outra: as manifestações favoráveis ao Bolsonaro não chegam nem perto do que foi a movimentação do país em torno do #elenão.
Esse dia configurou-se como um marco importante para as eleições, que corrobora com os dados divulgados pelo Datafolha em outubro de 2018, em que 45% do eleitorado brasileiro não votaria de jeito nenhum em Bolsonaro; ele segue sendo o candidato mais rejeitado entre os presidenciáveis.
Foi fundamental para mostrar à população a insatisfação com um candidato que cresce em torno de expressões de violência e da defesa daquilo que há de mais conservador e violento na sociedade. Ou seja, as ruas mostraram que não deixarão mais passar no âmbito da normalidade expressões que são da ordem da violência e do absurdo, recoloca na ordem do dia a importância dos embates e manifestações sobre o andamento do país.
As manifestações expressam, para além dos diversos vídeos de ofensas em que Bolsonaro aparece, a incoerência de um candidato que coloca em sua carta programa a defesa de pagamento de salários diferentes para homens e mulheres, que faz a defesa de ícones da ditadura brasileira sem nenhum pudor e que nada apresenta à população a não ser sua imaturidade, incoerência e negligência às questões reais da sociedade brasileira.
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Bolsonaro é questionado até mesmo pelas grandes mídias – a Folha de S. Paulo deixou isso claro em editorial postado no dia 29 de setembro. Questionamentos que levantam o debate da falta de coerência e clareza no projeto que o candidato do PSL defende para o país – questionamentos feitos em outros termos, que não os da esquerda socialista. Porém, esses elementos assustam até mesmo os grandes capitais, que não podem ter desconfiança se o projeto fere ou não os seus interesses. Ou seja, de um lado, há por parte desses setores dominantes a dificuldade em aceitar um novo ciclo de governo progressista e, do outro, o medo de algo que está em aberto e pode ser preenchido com qualquer proposta.
Enfim, fica claro que existem diversos enfoques e setores a se considerar para saber tudo o que atravessa esse período de eleições, porém, é inegável que as manifestações deixaram a esse período a marca de que a população e, principalmente, as mulheres, não aceitam e não aceitarão como presidente alguém que torna normal discursos de ódio e de violência, alguém que trata com orgulho os torturadores da ditadura, alguém que defenda que se feche os olhos para a realidade e diversidade brasileira. E isso é de grande importância, mostrando que o silêncio frente à dura realidade será quebrado pelas vozes das que lutam.
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