Foto: Mestre Moa do Katendê/ Arquivo Familiar
José Braga – Redação UàE – 10/10/2018
Nos últimos dias, notícias e relatos de violência de apoiadores de Bolsonaro contra opositores, e contra aqueles a quem direcionam seu preconceito, têm circulado amplamente. Os casos têm marcado os primeiros dias do 2º turno da eleição presidencial de 2018.
O Assassinato de Mestre Moa do Katendê
No dia 07 de outubro, o mestre de capoeira Moa do Katendê foi assassinado em Salvador – Bahia. Moa, como era conhecido Romualdo Rosário da Costa, de 63 anos, participava das lutas antiracistas e da produção/transmissão da cultura da Bahia.
Ele estava com parentes em um bar, conversando sobre o resultado da eleição, quando um apoiador de Bolsonaro se envolveu na discussão. Moa explicitou seu apoio a candidatura de Fernando Hadadd. Paulo Sergio Ferreira de Santana, de 36 anos, não conhecia Moa – mas o esfaqueou 12 vezes pelas costas após a discussão.
Moa morreu na hora. Seu primo Germínio Pereira, de 51 anos, que o acompanhava no bar, teve um ferimento no braço, foi hospitalizado, e está sem risco de morte. Paulo Sergio tentou fugir, mas foi preso.
Diversas homenagens têm sido prestadas a Moa por personalidades da cultura como, por exemplo, Gilberto Gil, Chico César e Caetano Veloso, grupos e coletivos.
Agressão a jornalista
Ainda no dia 07, uma jornalista relatou ter sido agredida e ameaçada de estupro por dois homens. Um deles estava com uma camiseta preta com os dizeres “Bolsonaro presidente”, e outro com uma camiseta verde.
De acordo com o depoimento que deu ao jornal OP9, a jornalista de 40 anos estava saindo de seu local de votação e indo para o trabalho com o crachá de imprensa quando foi agredida pelos apoiadores de Bolsonaro. Relata que um deles agarrou seu braço e disse que quando o “comandante” ganhasse, a imprensa toda iria morrer. Em seguida, a ameaçaram de estupro e a agrediram com um ferro no braço e no rosto. A violência foi interrompida pois os agressores se assustaram com uma buzina e fugiram do local.
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo emitiu nota condenando a ação.
Estudantes agredidos
Um estudante da Universidade Federal do Paraná foi violentado no dia 09 de outubro. O estudante teria sido agredido por usar um boné do Movimento Sem Terra.
A agressão foi realizada por membros de uma torcida organizada que gritava “Aqui é Bolsonaro”, conforme denuncia o Diretório Central dos Estudantes da Universidade. O estudante sofreu lesões na cabeça por garrafas de vidro quebradas pelos agressores. Eles ainda quebraram vidros da Casa do Estudante da UFPR.
O DCE denunciou o ocorrido e se afirmou “Resistiremos à barbárie, ao fascismo e à violência. Mais do que nunca, a democracia, o diálogo e a tolerância precisam prevalecer”. A universidade emitiu nota repudiando “todo e qualquer ato de violência, de preconceito ou de discriminação e entende que os espaços universitários são ambientes de debate e do exercício de liberdade de opinião. Um espaço histórico e simbólico que deve se manter pleno da democracia e de continua resistência à intolerância, à violência e banidas as formas de opressão”.
Recebemos informações que coerções foram realizadas também na Universidade Federal da Bahia. E foi-nos relatado também que uma estudante da UFSC sofreu violências de teor racista e xenófobo nas dependências da universidade. Estamos apurando estas informações.
Mais agressões
Também no dia 07 de outubro, outra mulher foi agredida em Recife. O relato da agressão foi publicado nas redes sociais e noticiada pelo jornal OP9. A mulher de 40 anos foi espancada e teve o pulso quebrado. Ela estava num bar com adesivos da candidatura de Ciro Gomes e da campanha #EleNão quando dois homens e uma mulher puxaram uma confusão com ela.
Ela foi hospitalizada e teve que passar por cirurgia. Teve alta hoje, 10 de outubro.
No Rio Grande do Sul, uma mulher de 19 anos relatou ter sido agredida por três homens no dia 08 de outubro. Ela estava voltando pra casa quando foi abordada por estar usando símbolos do movimento #EleNão. Ela foi atingida com socos. Em seguida, dois teriam a segurado enquanto um deles cortou sua barriga com um canivete, formando a figura de uma suástica.
O delegado que acompanha o caso disse à Rádio Guaíba (mídia conservadora local) que aquele seria um símbolo religioso budista e não um símbolo nazista. O delegado afirmou à rádio que para a polícia não está confirmado se o símbolo teria sido uma agressão ou autoflagelo.
A Ponte jornalismo noticiou agressões e ameaças em São Paulo à mulheres e homosexuais.
Nos últimos três dias temos relatos e notícias de ao menos 1 assassinato e muitos casos de agressões físicas e violências cometidas por apoiadores de Bolsonaro. O candidato Bolsonaro em declaração a jornalistas tratou os ataques como excessos e casos isolados.