Allan Kenji Seki e Marcos Meira – Redação UàE – 24/10/2018
Neste ano, os votos nulos e brancos somaram 8,79% do total de votos registrados no primeiro turno das eleições presidenciais. Esse valor está próximo da média histórica deste tipo de voto. Durante muitos anos circulou através das mídias e redes sociais o mito de que as eleições poderiam, inclusive, terem seus resultados anulados com a obtenção de um expressivo número de votos nulos. Não existe qualquer previsão legal deste tipo na legislação eleitoral brasileira, contudo, esses votos comumente registram o descontentamento popular com a política ou as candidaturas colocadas. São votos tipicamente de protesto e que poderiam indicar a margem dos eleitores descontentes com o sistema político.
Mas o voto branco ou nulo não tem apenas um significado para o eleitor, razão pela qual o seu significado real escapa da intencionalidade de cada pessoa em particular. Muito eleitores não sabem, mas o resultado final do pleito eleitoral contabiliza apenas os votos considerados válidos, isto é, todos os votos registrados corretamente na urna coletora, excluídos os votos brancos e nulos. O percentual obtido, então, considera somente aqueles votos que efetivamente foram direcionados para um ou outro candidato, como é o caso de Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT).
Matematicamente isso significa que cada voto nulo ou branco favorece o candidato que estiver à frente na contabilidade dos votos, favorecendo que ele forme um percentual maior do que seria expresso se todos os votos (incluindo brancos e nulos) fossem contabilizados.
Um exemplo bastante simples: se um condomínio com 10 unidades escolhesse entre dois candidatos para o cargo de síndico sob as mesmas regras das eleições presidenciais, para vencer, um candidato precisaria de 6 votos. Contudo, se uma pessoa votasse nulo, então, a maioria seria obtida com 5 votos.
No mesmo exemplo, se três pessoas faltassem e uma votasse nulo, então, a maioria poderia ser obtida com apenas quatro votos, do total de 10 eleitores.
É assim que os votos brancos e nulos fazem parecer com que cada voto no candidato que está à frente se comporte como se ele valesse um pouquinho a mais na hora de contabilizar o percentual final.
A campanha de Jair Bolsonaro (PSL) procurou aproveitar essa vantagem matemática, vários de seus apoiadores e responsáveis pela campanha de base passaram a estimular que os eleitores contrários ao candidato, votassem nulo ou branco, mas não votassem em Fernando Haddad (PT).
A matemática eleitoral não é sem significado político. É verdade que a institucionalidade do Estado reforça a si própria como única opção, desconsiderando as formas de protestos individuais e tornando ilegal aquelas coletivas. Contudo, o voto branco e nulo jamais terá um significado histórico estático e fechado em si mesmo. Em certos momentos, ele pode expressar em números um descontentamento generalizado com a forma política, em outros ele pode ser convertido em tática eleitoral que beneficia o candidato à frente do pleito.
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