Imagem: quadro “O Grito”, de Edvard Munch, de 1893.
Maria Fernandes* – Redação UàE – 18/03/2019
Quando um caso extremo ocorre é comum que o senso comum vá atrás de formas de explicação para os motivos que levaram ao ocorrido. Muitas vezes essas explicações apenas procuram culpados e uma forma de aliviar nossa angústia, acalmar a ansiedade e separar o perpetrador dos atos do restante da humanidade.
Ao longo de todo o dia em que ocorreu a ataque à escola em Suzano, vivemos uma dor aguda por todo àquela comunidade escolar, pelas vítimas e seus familiares, mas também por todos nós. Pois quando nos deparamos com as possibilidades de destruição que a humanidade é capaz todos nós perdemos um pouco nossa humanidade também.
Somada a esta dor pela barbárie, veio também a dor por acompanhar a cobertura da mídia, muitas vezes pouco preparada e insensível. Desde uma exposição pouco responsável da violência, de forma sensacionalista, até ao desrespeito às vitimas e familiares ao fazer perguntas induzindo uma atribuição de culpa, muitas vezes insinuando culpa à escola.
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Na cobertura deste tipo de ato extremo é comum buscarmos explicações que nos alivie, a mais tradicional das atribuições de culpa é à saúde mental. Este tipo de explicação individualiza a questão e põe o assassino no papel de humano que deu errado, até mesmo de não humano, então não tem com o que se preocupar ou implicar na tragédia. Nossa única saída seria identificar o quanto antes os desvios da saúde mental, vigiar nossas crianças e isolar as “maçãs podres”.
Essa forma de lidar com os problemas sociais pode ser extensamente abordada, são muitas as explicações simplistas e superficiais, mas o que queremos destacar é a individualização da questão. Individualização também nas formas de intervenção que esse tipo de explicação favorece.
Outra explicação comum é a culpabilização do contexto escolar: “os professores não foram capazes de impedir que ocorresse, falharam, havia conflitos, a escola era violenta, havia bullying” tudo isso foi ventilado pela mídia como possível explicação, e apesar da precarização conhecida das escolas públicas, não encontrou eco em uma comunidade que aparentemente valorizava muito a escola.
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Este tipo de explicação tenta separar a escola do restante do contexto social, além de atribuir a ela o papel de “salvadora” da humanidade. Não há como negar o papel da educação e da escola na vida da maioria das crianças, mas o que ocorre lá não esta apartado do restando do mundo. Os conflitos coletivos encontrarão espaço também na escola.
Também não podemos esperar da escola e dos professores que sejam super-heróis, que além de sobreviver na precarização de suas profissões, de ensinar conteúdo às crianças, também sejam, psicólogos, agentes de segurança pública, de saúde e de tudo mais que se imagina para resolver problemas que são estruturais.
O que queremos resgatar neste texto, é que não há respostas simples, e as tentativas de emplacar estas respostas superficiais acabam por perpetrar intervenções desastrosas, como as sugeridas de armar professores ou colocar militares da reserva nas escolas.
Precisamos resgatar formas de pensar coletivamente em saídas para uma juventude que não consegue visualizar um projeto de futuro que não seja por meio do aniquilamento do outro. Ações que estimulem formas individualizadas e violentes para lidar com a tragédia apenas incentivarão a continuidade de ações violentes e individualizada para lidar com os conflitos.
Toda a solidariedade a comunidade escolar da Escola Estadual Rui Brasil.
*O texto é de inteira responsabilidade da autora e pode não refletir a opinião do Jornal.