Foto: Professor Pedro Mara participa de ato; Rio de Janeiro/RJ; Jornalistas Livres
Maria Alice de Carvalho – Redação UàE – 17/04/2019
Um ano após o assassinato de Marielle Franco, Pedro Mara recebe a informação de que seu nome está na lista dos investigados por Ronnie Lessa, assassino da vereadora.
Pedro Mara é docente e diretor do Centro Integrado de Educação Pública (CIEP) 210, em Belford Roxo. Com um longo histórico de militância no campo da educação no Rio de Janeiro, participou de movimento estudantil, sindicato e liderou greves.
Em 2017, o hoje senador Flávio Bolsonaro acionou o Ministério Público do Rio de Janeiro e a Secretaria Estadual de Educação para pedir o afastamento do professor Pedro, alegando que este fazia apologia ao uso de drogas – por possuir tatuada uma folha de maconha no antebraço. Com relação à esta denúncia, Pedro Mara respondeu com uma nota na qual diz que
“[…]Os mesmos que dizem hoje que eu devo sair da direção da escola por uma tatuagem podem ser os mesmos que podem pedir a minha saída amanhã por orientação sexual ou por cor da pele. O motivo não importa, tampouco a razão. São fascistas e apenas destilam ódio[…]”
Além do processo judicial e administrativo por apologia às drogas, foi aberta também sindicância na Secretaria de Educação para investigar insubordinação do professor contra a antiga diretora do CIEP 210 – a qual havia perdido as eleições para Pedro -, descumprimento de regras em geral, lançamento de notas e se os diários estavam corretos. Em todas essas investigações, Pedro Mara venceu por falta de provas que embasassem essas denúncias.
A perseguição política de Pedro Mara continuou, ainda após essas sindicâncias no ano de 2017, quando a Secretaria da Educação tentou impugnar sua chapa que acabara de vencer as eleições para diretoria do CIEP 210.
Dois anos depois, Pedro Mara é obrigado a se afastar da escola onde trabalha como medida de segurança, por ter sua rotina investigada pela milícia que assassinou a vereadora Marielle Franco.
Após receber ligação da imprensa, numa quinta-feira, com a notícia de que seu nome constava na lista de procurados por Ronnie Lessa, Pedro Mara isolou-se em sua casa com medo de qualquer ação que pudesse acontecer contra sua vida e, na segunda-feira seguinte, iniciou a tomar as medidas administrativas necessária para manter sua segurança.
Após reuniões com a Comissão de Direitos Humanos da Alerj, Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe-RJ) e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) foi criado um protocolo de segurança e Pedro teve que se afastar do Rio de Janeiro.
Mesmo esse protocolo tendo sido passado para a Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro pelo presidente da Comissão de Educação, Flavio Serafini, justificando a necessidade do afastamento provisório de Pedro Mara, o Secretário da Educação, Pedro Fernandes, iniciou um processo de exoneração por abandono de cargo pelo professor.
Em texto escrito para o The Intercept Brasil, Pedro Mara relata que
“[…]O processo teve início no dia 25, mas recebi a notificação oficial apenas no dia 29 de março. Descobri primeiro pela mídia. Estou sofrendo um processo de exoneração por ter faltado duas semanas de aula na qual estava cumprindo um protocolo de segurança. O que você justifica para exonerar um servidor por faltas é se ele teve a intenção de faltar. Eu não estou afastado para tirar férias e, sim, porque corro risco de vida e informei a secretaria sobre a minha situação. Eu tenho riscos reais: não foi uma ameaça de uma ligação anônima, foi um inquérito da Polícia Civil que constatou que meu nome era procurado por uma organização de milicianos. De uma hora para a outra, apareci no meio do crime mais sofisticado do Brasil nas últimas décadas.[…]”
No relatório da Polícia Civil, inclusive, ao ser mencionado Pedro Mara é referenciado como o professor e diretor do CIEP 210 que teve atrito, na época, com o deputado estadual Flávio Bolsonaro. Deixando clara a relação entre os ocorridos com a família Bolsonaro e a perseguição de Pedro por milicianos.
No momento, Pedro Mara encontra-se sem receber salário, por conta do processo de exoneração, e tendo de cumprir o protocolo de segurança, o que envolve manter-se fora do estado do Rio de Janeiro.
Ao ter de fugir da organização criminosa mais sofisticada do Rio de Janeiro e assassinos de Marielle, Pedro Mara teve seu salário cortado pelo estado e ao invés de ser protegido sofre um processo de exoneração pela Secretaria de Educação.