Imagem: Arquivo UFSC à Esquerda
Clara Fernandez – Redação UàE – 08/10/2019
A compreensão da Juventude da Revolução Brasileira de que vai preservar alguma coisa defendendo o encerramento da greve, desde a sua primeira semana de deflagração, nos serve para demonstrar duas coisas: as limitações na capacidade de análise impostas pela leitura desenvolvimentista desse partido e que a única coisa que estão tentando preservar é a sua militância para as eleições futura das entidades.
Mesmo com centros de ensino parados completamente, ainda que alguns deles sejam os clássicos que paralisam nos momentos de mobilização, não é nem nunca foi fácil fazê-los parar por completo. Além disso, há diversos cursos em que, com muita dificuldade, os estudantes buscam sustentar a greve, como no Centro de Ciências Físicas e Matemáticas (CFM). Há centros sem histórico de mobilização e que nesse momento tem avançado em um bonito trabalho, como o Centro de Ciências Agrárias (CCA). Mas estão tentando reduzir todo esse trabalho a um simples movimento…e não é isso que fazemos também na greve?
Não é como se houvesse qualquer condição dos estudantes fazerem metade das atividades que estão fazendo sem paralisarem suas demandas acadêmicas. Ainda que em alguns casos isso se dê parcialmente, já não ajuda na liberação de energias dos estudantes para poder lutar pela Universidade? Estão apontando uma concepção de greve ideal para forjar uma compreensão de greve impossível e justificar sua postura covarde frente às tentativas de fortalecê-la.
Falam em moralismo na defesa da greve, para tentar esconder o próprio moralismo que reside na noção fantasiosa de greve sem dificuldades, sem redução dos participantes ativos e sem limites na compreensão dos problemas da Universidade… Ao que parece então, uma greve só serviria se fosse para instaurar uma nova Universidade amanhã. E para justificar toda essa prepotência, tentam tratar aqueles que estão em luta como se possuíssem profundas ilusões acerca das condições que já estavam dadas desde a entrada na greve, como se não soubessem que passam por uma conjuntura onde só há perspectivas de derrotas. A ilusão então reside em fazer o que é possível para tentar se enfrentar com esse cenário catastrófico, ou em ficar desenhando cenários exagerados para uma suposta condição de luta do amanhã? Ainda por cima tentam amenizar seu próprio papel desmobilizante na política de fragmentação da greve quando corroboraram com a política de setorização das atividades por centro de ensino. A postura e análise totalmente equivocada desta juventude que age como um bando de velhos derrotistas só tem servido para ajudar aqueles que querem matar a greve e as condições para qualquer movimento de massas estudantis.
A crença de que com a piora no orçamento, haverá melhores condições para uma greve nacional, só pode partir de uma análise de que a aprovação do Future-se não tem grande relevância nas condições dos estudantes lutarem e repensarem as grandes questões da Universidade… Compreendem que a Universidade Brasileira hoje já é completamente sujeitada aos interesses do capital e não possui nenhuma contradição, nenhuma produção ínfima de conhecimento crítico. E é por isso que não se importam com a aprovação do Future-se e o desconsideram da sua análise fantasiosa de que ano que vem o cenário será muito melhor para a luta. Estes que afirmam querer um programa máximo para a Universidade, na verdade são incapazes de enxergar que o financiamento privado, lógica altamente concorrencial e código de conduta implicados no Future-se acabam com o que resta de Universidade Pública e com qualquer espaço para atuar e estudar criticamente aqui dentro. Não podemos perder de vista que quanto mais âmbitos da vida tornados mercadorias, também dentro da educação, mais degradantes são as condições de lutar coletivamente das pessoas envolvidas nisso tudo. Tudo isto só serve para fortalecer o egoísmo de classe.
Esta análise limitada também tem sua expressão no projeto de Universidade desenvolvimentista que defendem, pois estagnaram na leitura da Universidade Necessária de Darcy Ribeiro e acreditam que essa obra abrange todas as respostas ao profundo problema que possuímos na relação com o conhecimento e que está dado no conjunto da educação e em todo o mundo hoje. Embora se possa levar em consideração os aspectos criativos no esforço de buscar um outro projeto a partir das críticas levantadas sobre a Universidade, a formulação de Darcy ainda se volta para uma universidade atrelada aos setores produtivos e não no desenvolvimento autônomo e na investigação científica. Isso resulta inclusive em uma compreensão que mantém uma universidade focada na formação de mão de obra para o mercado de trabalho, pois para esta organização, o problema estaria no déficit pedagógico e na limitação na inserção em trabalhos nas áreas de formação, como se a própria profissionalização da formação não trouxesse questões para a produção do conhecimento.
Mas o que esperar daqueles que são dirigidos por um Professor que não tem um histórico de construção e atuação sindical? Que envolveu seu máximo esforço nos últimos anos na construção de candidatura própria, quando não para a presidência, para a reitoria? Que inclusive já possui um histórico de oposição a construção de greves na Universidade, vide a greve contra os cortes de Dilma de 2015? Que atuação consequentemente pode sair de uma juventude com o esforço máximo de se tornarem cópias do mestre?