As Eleições do DCE e os Independentes – O Roselanismo e a Unidade de Esquerda

O jogo começou e os dados já estão rolando… A eleição para o Diretório Central dos Estudantes, foi marcada para os dias 10 e 11 de junho, e já iniciou. Neste momento crucial, que é o de formação das chapas que vão concorrer, mais do que escolher uma dentre as chapas que se formam¹ é preciso pensar o quadro político que vivemos na UFSC e o papel que nós, os militantes independentes de esquerda, podemos ter nesse processo.
 
 
Reafirmação do Roselanismo – nova face da direita na UFSC
 
Como pode a UFSC ter cedido à prefeitura o terreno para duplicação da Edu Vieira sem a apresentação de um projeto básico? E ainda, sem uma massiva resistência da esquerda? É assim que consegue operar um fenômeno novo em curso na política da UFSC: o Roselanismo.
 
Cria-se uma falsa sensação democrática, com audiências, fóruns, com expectativas sobre o Conselho Universitário. Cria-se um mito de parlamentarismo na universidade. E encapsula as disputas políticas no âmbito da institucionalidade. Esse é um projeto de arrefecimento das lutas de esquerda. Temos apontado para esse fenômeno desde nosso segundo texto: “A UFSC continua cercada pelo imobilismo – II”².
 
Foi assim na questão da Edu Vieira, criou-se uma falsa expectativa sobre o CUn – como se a cessão não pudesse ser aprovada por esse órgão com a ausência de um projeto. Como se esse órgão não pudesse ignorar os anseios apresentados na audiência pública de 29 de abril. A audiência e a falsa esperança no CUn não passaram de elementos do verniz democrático de que se cobre o Roselanismo. O verniz que estetiza a nova face da direita universitária, e que cala e coopta os movimentos de esquerda.
 
O Roselanismo inaugurado na gestão de Roselane/Lúcia (mas, que não se encerra em suas figuras e em sua gestão), têm se reafirmado na UFSC. De certo modo, não foi assim com o Levante do Bosque?
 
Por mais legítima que tenha sido a ocupação da reitoria, por mais importante que tenha sido o levante dos estudantes e sua vontade de mudar, e que possamos considerar o levante um suspiro na aridez do movimento estudantil, precisamos ser rigorosos: a ocupação não ocupou a política. A reitoria conseguiu manejar e sair com poucos arranhões de todo esse processo.
 
Na medida que ocupamos um centro da política, como um prédio da reitoria, interditamos física e simbolicamente o poder. Porém na ocupação do prédio Reitoria 1, em que medida o poder da reitoria foi interditado? Que ruptura foi marcada? A administração central jogou como se tivesse cedido o prédio aos estudantes, e continuou a operar não apenas administrativamente, mas politicamente, do famigerado Santa Clara. Afinal, no dia seguinte, não foi lá que deu uma coletiva de imprensa? Não foi lá que recebeu a direita e chorou por sobre a bandeira do Brasil? Lembram da audiência, com o auditório lotado, que através do discurso do inimigo externo conseguiu dividir a audiência e desviar das críticas mais sérias a sua gestão?
 
Foi assim com os portões, com as fundações³… É nessa dança que o Roselanismo tem se reafirmado na UFSC. É hora de combatê-lo com seriedade.
 
Um breve porém: os TAE’s e a luta pelas 30h
 
Nesse contexto, em que o Roselanismo se aprofunda, no movimento de greve dos TAE’s começa a se esboçar uma ruptura. Na luta por manter a UFSC aberta por no mínimo 12 horas ininterruptas, com turnos contínuos de 6 horas para todos os TAEs, o movimento dos técnicos acirra a disputa com a Administração Central. Sem ilusões com o Conselho Universitário, sem ilusões com a atual gestão e sua maquiagem democrática, os técnicos elaboram uma proposta de resolução que normatiza a jornada de 30 horas na UFSC.
 
Há, é claro, uma ambiguidade: se não há expectativa com a reitoria e suas instâncias, por que lutar por uma resolução? Isso de alguma forma não seria reafirmar a política roselanista? Acreditar que essa reitoria, através de sua dinâmica “parlamentar” e pseudo-democrática, possa avançar em um caminho progressista?
 
Ainda é cedo para ter uma resposta clara a essas perguntas. Mas, de toda sorte, as mobilizações das últimas semanas da greve ensaiam um rotundo NÃO. Com o fechamento dos prédios da reitoria por 3 dias e com o grande ato de enterro das 40 horas³, os técnicos mostram sua força e não esperam por Roselane, ou pelo seu Conselho – lutam, pressionam a reitoria por uma reivindicação histórica e um direito não só de sua categoria, mas de toda a comunidade. E nós estaremos ao seu lado!
 
De toda forma é preciso apontar: não podemos ter ilusões com o Roselanismo! Sua política não nos atende! Sua democracia é uma falácia! A esquerda não pode guardar falsas esperanças, é só com força, pressão e muita luta que juntos poderemos construir uma universidade que atenda aos anseios e necessidades do povo trabalhador brasileiro!
 
As eleições do DCE, a unidade da esquerda e o papel dos independentes
 
Há ainda um ingrediente especial nesse quadro: o processo de ataque do que há de mais retrógrado no campo da direita na cidade à universidade e principalmente à esquerda. O que poderia ser mais um dia comum na UFSC, o dia 25 de março será lembrado pela violência e a arbitrariedade das polícias, e o disparador de um processo de ataques e criminalização da esquerda. Este processo atua por tanto por uma via judicial, quanto por uma via política – de formação de um senso geral na opinião pública, mistificando e desmoralizando a esquerda com o objetivo de nos enfraquecer e atomizar.
 
Este é o desenho do quadro político geral que enfrentamos nessas eleições. Manter uma gestão do DCE de direita neste momento pode ser catastrófico. E também, não devemos pensar que os estudantes estão alheios a política ou que não tem vontade de dar um rumo para a universidade e a cidade. As evidências nos mostram exatamente o contrário. Durante os recentes acontecimentos de 25 de março no Bosque, nada menos que 400 estudantes, em questão de instantes,  estavam de prontidão para defender a universidade.
 
É preciso combater o Roselanismo. É preciso mostrar a força da esquerda na universidade e na cidade. Não podemos mais tolerar os ataques arbitrários do aparelho repressivo de estado e da mídia. Não podemos mais tolerar o simulacro democrático do Roselanismo. Não podemos mais tolerar o arrefecimento da esquerda. É hora de construir um caminho, de retomar a grande política, de construir uma nova universidade, uma UFSC à esquerda.
 
Há uma única saída: a unidade da esquerda. Mas, qual unidade? É a partir dessa pergunta que podemos pensar o nosso papel, o papel dos independentes nesse processo.
 
Não há dúvidas: essa gestão da reitoria nada tem de popular e progressista. Nada tem que ver com um caminho de esquerda. Apenas abriu um novo flanco de avanço para a direita, institucionalizando as lutas, apassivando os movimentos. E para isso contou o calar das organizações políticas de esquerda da UFSC.
 
Com o calar e a cooptação passiva de algumas: até recentemente as Brigadas Populares, e em bem menor medida o PSTU. E com a defesa aberta e uma relação ativa de outras: é a este papel que tem se prestado a Juventude Comunista Avançando. E para manter seu papel ativo na política Roselanista precisam agora demonstrar sua força e serventia: precisam calar as vozes críticas a reitoria entre os estudantes. E tem jogado perversamente: apontaram de forma artificial para unidade- uma unidade que pudessem manter a hegemonia, mas precisam sair sozinhos e provar para a reitoria que podem amenizar a esquerda. No entanto, não podem assumir o ônus de serem os únicos a romperem com a unidade e possivelmente levarem a esquerda a uma derrota – por isso tentaram forçar um racha prematuro e arranjar desculpas para que o ônus não recaia sobre eles. Mas não se enganem, o ônus será de vocês!
 
É a partir daí que se ensaia o papel dos independentes. Caberá a esses militantes dar a tônica e apontar para uma ruptura real com o Roselanismo. Afinal, se não rompermos com as ilusões sobre essa reitoria, com o engodo pseudo-democrático que apresenta, com a institucionalização das lutas, não conseguiremos construir um projeto verdadeiramente de esquerda para a universidade. E a tendência será de um arrefecimento maior e a morte silenciosa da militância de esquerda.
 
Com isso deixamos duas mensagens: (1) os independentes não serão reféns das dinâmicas das organizações políticas. A chapa e a possível gestão de unidade não servirão de celeiro para a cooptação de militantes e para a mera autoconstrução das organizações políticas. (2) E estaremos, sim, juntos com toda a esquerda independente e organizada, acirrando as contradições da universidade e mantendo o rigor da crítica. Pois só assim, poderemos construir uma universidade comprometida com o povo trabalhador brasileiro!
 
 
 
Notas de rodapé:
1 Sobre as chamadas de chapa já realizadas:
(a) https://www.facebook.com/events/304491213041327/
(b) https://www.facebook.com/events/678952952177542/
 
 
2 Para uma descrição mais completa do Roselanismo:https://www.facebook.com/notes/ufsc-%C3%A0-esquerda/a-ufsc-continua-cercada-pelo-imobilismo-parte-ii-aquela-em-que-damos-%C3%A0s-coisas-o/1465660186979061
 
3 https://www.facebook.com/notes/ufsc-%C3%A0-esquerda/a-ufsc-continua-cercada-pelo-imobilismo-parte-ii-aquela-em-que-damos-%C3%A0s-coisas-o/1465660186979061 ;https://www.facebook.com/ufscaesquerda/posts/1410899692455111
 
4 Vídeo do enterro das 40 horas: http://youtu.be/ht2b0ISEfSk

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