Morgana Martins – Redação UàE – 20/05/2020
O grupo de leitura do livro “O Capitalismo dependente latino-americano” de Vânia Bambirra, atividade da Escola de Formação Política da Classe Trabalhadora – Vânia Bambirra (EFoP), discutiu durante quatro encontros uma das principais obras da tradição da teoria marxista da dependência, discussões que mudaram os rumos da compreensão da América Latina nos anos de 1960 e 1970. A atividade foi dividida em dois grupos, um primeiro mediado por Allan Kenji Seki e um segundo mediado por Tomás Barcellos.
A atividade faz parte de uma sequência de debates que a EFoP vem promovendo neste semestre e segue os debates realizados em 2018 no Grupo de Estudos da Teoria Marxista da Dependência.
Logo na apresentação e prefácio do livro debatido, podemos perceber como a trajetória militante da autora é extremamente importante para a escrita e desenvolvimento de sua obra. Vânia Bambirra participou da fundação, em 1961, da Organização Revolucionária Marxista – Política Operária (ORM-POLOP), o que a obrigou a buscar exílio no Chile, em 1966, por conta das perseguições que sofreu após o golpe de 1964. No Chile, devido à vitória da “Unidad Popular” em 1970, a obra “O capitalismo dependente latino-americano” precisou ser interrompida pois seus esforços se voltara para as disputas políticas, sendo publicado, então, em 1972.
Para Fernando Correa Prado, na Apresentação do livro, “a agudeza na leitura do próprio período histórico, a ambição intelectual, a convicção socialista, a postura crítica e a capacidade de superar certas estruturas sociais estabelecidas” são as cinco principais características da trajetória intelectual de Vânia, dentre elas ele destaca a importância de que a autora “nunca se furtou da política”.
Vânia, assim como os intelectuais da trajetória da teoria marxista da dependência, participou dos debates calorosos que ocorriam na época, rebatendo em seu livro: o pensamento da da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe); a teoria da dependência de Fernando Henrique Cardoso; as teses desenvolvimentistas de setores da esquerda que acreditavam que era possível desenvolver a América Latina – e principalmente o Brasil – através da industrialização; e, por fim, com as grandes polêmicas que rondavam o debate sobre a revolução burguesa no Brasil.
Para isso, a autora traça tipologias dos países latino americanos, de forma a demonstrar como foram formadas historicamente essas sociedades. Assim, caracteriza países, por exemplo como Brasil, México, Argentina e Chile, como “países com início antigo de industrialização” – para a autora, quando se fala em industrialização na América Latina, se fala de substituição de importações -, os quais possuem um mercado nacional conformado e, por isso, a participação dos capitais estrangeiros se daria por meio de investimentos, fazendo com que os países exportem não somente mercadorias, mas também capitais.
Por outro lado, nos países como Equador, Costa Rica, Guatemala, Bolívia, El Salvador, Panamá, Nicarágua e Honduras, “países cuja industrialização foi o produto da integração monopólica”, o processo de industrialização foi realizado no período pós guerra e era conduzida pelos setores da oligarquia, mas foi feita a partir do controle direto do capital estrangeiro. Ela ainda nos oferece outra tipologia para países como Paraguai e Haiti, “países com estrutura agrário-exportadora sem diversificação industrial”, países cujos dados são dificilmente encontrados, por isso não entram no debate posterior do livro.
No período em que escreve seu livro, Vânia está vendo com positividade as revoluções que ocorreram na Rússia e em Cuba e, diante disso, debate com a possibilidade real do triunfo socialista na América Latina. Ela apresenta um debate preciso na compreensão da dependência, papel que foi dado aos países latino americanos no capitalismo mundial: essa seria a forma de sociedade mais avançada que o capitalismo poderia ter nesses países, em um desenvolvimento desigual combinado entre estes e os de capitalismo central. A autora nos dá como horizonte de ruptura com a dependência a condição de ruptura com o capitalismo, ou seja, para realizar o desenvolvimento sem limites das forças produtivas é preciso transformar nossas sociedades através de revoluções socialistas.
Confira o relato dos principais temas do livro e dos debates que foram realizados por esse grupo de leitura no link: https://www.efopvaniabambirra.com.br/post/grupo-de-leitura-o-capitalismo-dependente-latino-americano-de-vânia-bambirra. Confira também mais atividades realizadas: https://www.efopvaniabambirra.com.br/blog.
Sobre a EFoP: A EFoP foi criada como uma escola de formação política que tem por objetivo promover atividades de formação para a classe trabalhadora no terreno de disputas por um projeto de classe para a universidade pública brasileira. Realizamos atividades de formação sobre temas considerados estratégicos para a classe trabalhadora levando parte das pesquisas criticas realizadas na universidade para os espaços populares e os trabalhadores para dentro do espaço da universidade. Saiba mais sobre a Escola: https://www.efopvaniabambirra.com.br/sobre-a-efop.
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