Amanda Alexandroni – Redação UàE – 25/06/2020
O Núcleo de Educação Infantil da Universidade Federal de Santa Catarina (NDI-UFSC) emitiu um documento com uma série de argumentos importantes acerca da retomada das atividades em caráter não presencial para a Educação Infantil. São levantados debates em relação às particularidades da educação infantil, o caráter do currículo do colégio e sobre as condições desiguais dos alunos.
O documento aponta para o histórico recente da educação infantil em termos federais, como a medida que flexibilizou em abril o cumprimento mínimo dos 200 dias de trabalho escolar bem como o parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE) homologado parcialmente no início de junho.
Salienta-se o compromisso do Núcleo com a educação infantil e a necessidade da presencialidade para garanti-lo, expondo, portanto, uma posição contrária às atividades pedagógicas não presenciais. O NDI criticou o tratamento pouco rigoroso presente no parecer do CNE.
Destaca-se o projeto pedagógico do colégio, marcado pelo teoria histórico-cultural, na qual é de extrema importância a “experiência educativa eminentemente interativa, mediada e planejada por um professor que detenha formação teórica metodológica que lhe permita conhecer as especificidades das diferentes faixas etárias; os processos de aprendizagem e desenvolvimento infantis; os conhecimentos científicos historicamente acumulados; e as características curriculares desta etapa de ensino”. Para a escola, o papel do professor não poderia ser substituído nem realizado no caso de adoção do modelo à distância. Além disso, o documento ressalta a sobrecarga que as atividades não presenciais poderiam gerar aos familiares.
No parecer, o colégio se coloca em defesa da Educação Infantil:
“Em defesa da Educação Infantil e do NDI
As propostas de ensino não presencial se inserem num contexto de desmonte da educação pública, gratuita e de qualidade que antecede o período de pandemia e que vem à tona neste momento sob a aparência de inovação pedagógica, mas que em sua essência não passam de uma forma improvisada para lidar com o cumprimento meramente burocrático dos dias letivos. É preciso, mais do que nunca, defender a educação infantil como projeto formativo com qualidade social, e, não permitir que sob esse período de excepcionalidade sejam aprovadas medidas que precarizem ainda mais a educação em nosso país. A educação infantil não pode ser improvisada sob nenhum contexto; e o NDI vem resistindo às precarizações de condições do trabalho pedagógico, tais como o corte de verbas destinadas à universidade; a não contratação de profissionais efetivos e substitutos; a extinção do cargo de auxiliar de creche; a diminuição no número de bolsas de estágio; e a carência de profissionais da Educação Especial, entre outras lutas que temos assumido para continuar existindo como instituição pública, gratuita e de qualidade. Diante desta conjuntura, é temerário abrir mão dos princípios pedagógicos inerentes à educação infantil, mesmo diante da condição de singularidade como essa que estamos vivendo. O desenvolvimento humano da criança, no âmbito da educação escolar, implica relações planejadas de cuidado (sono, alimentação, higiene) e de ensino que exigem necessariamente a mediação do professor, respeitando as especificidades relativas aos processos de aprendizagem de todas as crianças. Assim sendo, a defesa das atividades pedagógicas não presenciais pode ampliar as desigualdades já presentes no ambiente escolar, além de não respeitar as particularidades das crianças e de suas famílias. Destacamos que as atividades realizadas pelos profissionais do NDI durante o período de suspensão das atividades presenciais não visam substituir o ensino ofertado pela instituição. Continuamos, sobretudo, comprometidos com a comunidade escolar, construindo canais de comunicação e informação com as crianças e suas famílias, bem como mantendo as atividades administrativas e desenvolvendo as atividades de pesquisa e extensão que se mantêm ativas durante todo este período. Reafirmamos nosso compromisso com uma educação pública, gratuita e de qualidade socialmente reconhecida, que valorize e respeite as crianças, permitindo que, presencialmente, por meio do trabalho realizado pela equipe do Núcleo de Desenvolvimento Infantil da UFSC, estas sejam capazes de apreender o conhecimento que vem sendo historicamente elaborado pela humanidade, e que nenhuma outra forma de ensino proposta seja capaz de ocupar o lugar da presença, do vínculo, do afeto e da aprendizagem e do desenvolvimento das crianças.”
Confira o documento na íntegra
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O posicionamento foi aprovado no colegiado do dia 22 de junho do NDI e enviado à Pró-Reitoria de Graduação (PROGRAD), para a direção do Centro de Educação (CED) e para o subcomitê acadêmico do Comitê Covid-19.