Intervenção realizada em salas de aula da UFSC em 2016, às vésperas das ocupações contra a EC 95. Foto: Arquivo UFSC à Esquerda, modificada por Ariely Supititz
Ana Zandoná – Redação UàE – 13/07/2020
Em assembleia realizada na manhã desta segunda-feira (13/07) com cerca de 123 presentes, através de plataforma online, o Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da UFSC se posicionou contrário a adesão do Ensino Remoto na universidade.
Nas últimas semanas, o colegiado pleno do programa vinha chamando reuniões para tentar pensar como aderir ao ensino remoto, sem que este sequer tivesse sido aprovado no Conselho Universitário (Cun). Os estudantes questionaram a lógica de adesão sem debates a uma política que a reitoria vêm tocando e levantaram a necessidade de uma posição política sobre o assunto.
Dessa forma, foi apresentada a necessidade de levar em consideração o que a adesão ao ensino remoto acarretaria para os processos de ensino e aprendizagem, para a precarização do trabalho docente e de técnicos-administrativos em educação, além da evasão que pode ser produzida pelo mesmo, tendo em vista os diversos colegas com problemas técnicos, familiares e de adoecimento produzido pela pandemia. Entre outros problemas que viriam a aparecer com a adoção desta saída para a pós-graduação.
Ao longo dos debates também houveram reflexões e formulações sobre quais outras atividades a universidade efetivamente poderia vir a realizar em meio a uma situação de crise pandêmica e econômica. Contando com contribuições também de docentes. Alguns destes já haviam participado do lançamento de um manifesto contra o ensino remoto.
Os discentes estiveram presentes em peso em três reuniões seguidas de colegiado, em que depararam-se com enorme resistência por uma parte dos docentes para encaminhar para votação os pontos que estavam pautando, entre eles, o respeito ao voto universal. Este último, diz respeito a possibilidade de participação na votação de todos os presentes na reunião que fazem parte do programa. Uma escolha política que faz parte da história e tradição democrática do PPGE. Os impasses culminaram em uma Assembléia Geral do programa (com voz e voto de todos os professores, estudantes e técnicos) com duas pautas: ensino remoto e democracia universitária.
Após duas horas de intenso debate, foi aprovada a posição política contrária ao ensino remoto, com 86 votos a 32, além de 4 abstenções.
Compreendendo que não se tratava de uma posição de cruzar os braços, mas sim de pensar outros caminhos possíveis para a universidade em meio a pandemia, também foi debatida e aprovada uma posição do programa sobre quais as atividades que poderiam ser realizadas nesse momento. Com 102 votos a 1 e 4 abstenções, foi aprovada a realização de atividades formativas e de pesquisa descritas do seguinte modo:
“Atividades Formativas e de Pesquisa na forma de leituras e estudos em grupos de pesquisa, oficinas, colóquios, debates, rodas de conversa, podendo posteriormente serem validados para fins de obtenção de créditos.
Oferta de Estudos Individualizados com o objetivo de aproximação dos estudantes com seus objetos de pesquisa.
As lives que temos acompanhado ou mesmo oferecido podem ser sistematizadas nos grupos de pesquisa ou pequenos grupos, com base num aporte conceitual e elaborando relatório coletivo.
Tratam-se de atividades formativas, diferente das atividades sistemáticas e regulares de ensino, as quais encontram obstáculos para serem ofertadas no contexto atual. Neste caso, a unidade não seria a disciplina, o professor, os textos e os estudantes. Os grupos de pesquisa podem ganhar maior relevância ao agregar os estudantes e professores em torno de suas pesquisas e no seu papel formativo.
Considerando o contexto da pandemia e a situação dos docentes e discentes, tais atividades não podem ter caráter obrigatório e substitutivo às disciplinas. Constituem uma forma de manter o vínculo entre estudantes e professores, bem como os estudos e pesquisas, considerando o ritmo de cada um.”
Como encaminhamento do primeiro ponto de discussão, a Assembléia também aprovou, por unanimidade, algumas reivindicações a serem feitas nas instâncias superiores: inclusão de estudantes cotistas da pós no auxílio emergencial da Universidade; ampliação do apoio psicopedagógico para os estudantes da pós-graduação; e prorrogação dos prazos de acordo com o tempo de suspensão das atividades presenciais pela pandemia.
No segundo ponto de discussão, foi aprovada a compreensão de que o Colegiado Pleno deve ter votação universal, além da necessidade de pautar a representação paritária nas demais instâncias da Universidade.
As decisões da Assembléia deverão ser referendadas em reunião de Colegiado Pleno que ocorre nesta terça, 14/07, às 14h.
Imagem de capa: Ariely Supititz