Foto: Jeyaratnam Caniceus
Nina Matos – Redação UàE – 06/08/2020
Publicado originalmente em Universidade à Esquerda.
A cada três mortes de trabalhadores da saúde por Covid no mundo, um é brasileiro. Os dados são do International Council of Nurses (ICN) que reúne conselhos de enfermagem de diversos países.
De acordo com o Observatório da Enfermagem, instrumento realizado pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), já são 3.203 profissionais da saúde contaminados e 334 mortos ao todo.
Desde o início da pandemia no Brasil os e as trabalhadoras da saúde se manifestaram sobre as precárias condições de trabalho. Leitos que já estavam quase em lotação, a falta ou inadequação dos equipamentos de proteção individual (EPI), além da quantidade acima do normal de pacientes por equipe e da falta de estrutura para os plantões — como não ter local adequado para descanso, etc.
Em maio, profissionais do Hospital de Campanha do Anhembi, em São Paulo, ao irem à público denunciar a realidade dura que têm vivido, receberam como resposta das Organizações Sociais (OS) responsáveis pelo hospital que suas denúncias eram mentirosas.
A OS é uma forma de gestão privada de estruturas públicas, como hospitais e escolas. Em Anhembi, as responsáveis pelo Hospital de Campanha são a Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM) e o Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde (IABAS) — sendo que este último está sendo investigado por desvio de recursos públicos, tendo quatro de seus empresários presos.
No Rio de Janeiro, um dos estados que já está pensando no retorno presencial das aulas, os funcionários da saúde estão em greve por falta de salário desde o dia 23 de julho. Há casos relatados de quatro meses de salário atrasados.
As unidades de saúde que estão com trabalhadores em greve são, em sua maioria, administradas por OS — sendo o IABAS uma delas.
Esse tipo de parceria público-privada foi empurrada contra a classe trabalhadora sob o discurso de que apenas com este protótipo de privatização poderia haver melhora dos serviços prestados. Mas o que vemos hoje são escândalos de corrupção dos mais variados e um agravamento do sucateamento das estruturas físicas, das condições de trabalho e do próprio atendimento à população.
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Na agenda do governo Bolsonaro está mais uma série de privatizações a serem tocadas em meio ao caos da pandemia. A experiência que temos com OS é um exemplo claro do que significa esse movimento de passar ao capital privado a responsabilidade sobre instituições tão fundamentais para nós.
A defesa pela vida perpassa pela luta contra a privatização. Mas não podemos somente nos contentar com o público se a ele os interesses privados estão aliados. Não se pode perder de vista a luta por uma sociedade regida pela vida e não pelo enriquecimento privado de poucos.