Foto: Marcelo Camargo/ Agencia Brasil (EBC)
Flora Gomes – Redação UàE – 10/08/2020
Publicado originalmente no Universidade à Esquerda
Divulgado na última sexta-feira (07) pela revista Crusoé, a quebra de sigilo bancário de Fabrício Queiroz revelou repasses em cheques para a conta da atual primeira-dama. Somando um total de 72 mil reais, as transferências ocorreram desde 2011, durante o período em que Flávio Bolsonaro ainda era deputado estadual na Assembleia Legislativa no Rio de Janeiro (Alerj). As informações apresentam mais uma indício do envolvimento da Família Bolsonaro com desvio de verba pública e com as milícias cariocas.
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Fabrício Queiroz havia sido preso em Junho deste ano em uma cidade no interior de São Paulo. As investigações haviam iniciado ainda em 2018 após a constatação pelo Conselho de Atividades Financeiras (COAF) de movimentações atípicas, no valor de 1,2 milhões de reais, nas contas do ex-policial militar aposentado. Alguns assessores do então deputado estadual Flávio Bolsonaro (Republicanos) desviaram verbas para a conta de Queiroz em datas próximas ao pagamento do servidores da Alerj.
Entre as transações de Queiroz, até então, sabia-se de repasses que somavam R$ 24 mil para Michelle Bolsonaro, esposa do atual Presidente. Jair Bolsonaro (sem partido) vinha justificando as movimentações como um suposto pagamento de empréstimo. O primeiro valor, divulgado pela revista Crusoé, apontava para um total de R$ 40 mil de repasses do ex-assessor. Bolsonaro, em entrevista logo após a divulgação destes dados, afirmou que Queiroz repassou dez cheques no valor de 4 mil reais para quitar uma dívida de R$ 40 mil, que teria sido enviado para a conta de Michelle. A dívida não havia sido foi declarada no Imposto de Renda.
Entretanto, uma análise posterior divulgada pela Folha de S. Paulo, revela uma série de cheques fornecidos à primeira-dama durante o período de 2011 a 2016 em uma soma ainda maior, totalizando R$ 72 mil. Além disso, a reportagem também apurou as transações relativas à Márcia Aguiar, que repassou um total de R$ 17 mil à Michelle Bolsonaro em 2011.
As investigações do Caso Queiroz apontam para esquema de “rachadinha” no gabinete de Flávio Bolsonaro durante seu mandato na Alerj. Queiroz era assessor de Flávio e já havia sido identificado como o “laranja” no esquema de desvio de verba na Alerj, sendo responsável por confiscar cerca de 40% dos vencimentos dos servidores a fim de enviá-los ao Adriano da Nóbrega, ex-capitão do Bope e chefe do Escritório do Crime, milícia especializada em assassinatos por encomenda. O esquema, administrado pela milícia, também financiava a construção de prédios irregulares no Rio de Janeiro.
Os possíveis crimes apontados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) a Flávio e Queiroz são de peculato, lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio e organização criminosa.
Queiroz, havia sido preso na casa do advogado da família Bolsonaro, mas encontra-se atualmente em prisão domiciliar, após concessão fornecida pelo presidente do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), João Otávio de Noronha, que pleiteia uma vaga no Supremo Tribunal Federal e já foi elogiado pelo atual presidente.
Atualmente Senador no Rio, Flávio Bolsonaro, respondeu aos promotores do MP-RJ que questionaram o pagamento de R$ 30 mil feito ao empresário David Macedo Neto durante a compra de um imóvel na Barra da Tijuca, no Rio. Afirmou que o valor quitaria a aquisição de alguns móveis de dentro do apartamento. O senador também havia sido questionado quanto a origem do dinheiro em espécie usado para pagar as despesas pessoais ao longo dos anos, e disse que a quantia seria “coisinha guardada em casa”. Sobre o dinheiro pago para despesas de assessores, respondeu que usaria um dinheiro vivo que pegava em sua “lojinha” – referindo-se às franquias que possui de uma marca de chocolates.
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O envolvimento da família bolsonaro com esquema de milícias já provocou diversos tensionamentos com a Polícia Federal (PF). Em Agosto do ano passado, quando o caso Queiroz vinha à tona, o atual presidente havia anunciado que trocaria o superintendente da PF do Rio de Janeiro. Também o ex-juíz Sérgio Moro, até então Ministro da Justiça e Segurança Pública, deixou o cargo em em abril deste ano afirmando que o chefe do executivo estaria tentando intervir na condução de investigações no Rio.
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Esse envolvimento de toda a família Bolsonaro em esquemas corruptos revela o que há de mais sórdido na estrutura do Estado brasileiro. Com uso de recursos públicos, o clã Bolsonaro instrumentaliza as milícias para a garantia de seus interesses de classe.