Moradores do quilombo e apoiadores fazem corrente humana em frente ao território. Foto: Gean Gomes/MST.
Nina Matos – Redação UàE – 17/08/2020
Publicado originalmente em Universidade à Esquerda.
Na última sexta-feira (14), após mais de 50 horas de conflito, a Polícia Militar (PM) de Minas Gerais (MG) cumpriu com truculência a ordem de despejo do quilombo Campo Grande, situado na área da falida Usina Ariadnópolis.
De acordo com moradores do acampamento, a PM agiu com truculência contra os acampados, que resistiam contra o despejo. Foram utilizadas bombas de gás lacrimogêneo, cassetetes, tropa de Choque e até mesmo um helicóptero, que sobrevoou baixo, próximo a população, levantando poeira e assustando os moradores.
A área é ocupada desde 1997, após a declaração de falência da empresa que mantinha a usina, em 1996, por dívidas trabalhistas. Tendo sido demitidos sem receber por seus direitos, diversas famílias passaram a trabalhar nas terras abandonadas e revitalizaram-a: hoje são 450 famílias com 2,4 mil pessoas, 1,2 mil hectares de plantações diversas e 500 de café — o café Guaií, principal produto do acampamento —, tudo produzido através da agroecologia.
A saga contra a reintegração de posse corre a anos, com as tentativas do empresário Jovane de Souza Moreira de reativar a usina para cumprir um acordo com uma empresa de João Faria da Silva, um dos maiores produtores de café do Brasil.
Mais recentemente, em julho de 2018, a reintegração de posse havia sido negada, com o entendimento de que ela não cumpria os requisitos básicos. Contudo, em novembro do mesmo ano, a Justiça voltou a determinar a reintegração, que é mais uma vez negada, agora sob a alegação de que era necessário uma análise mais aprofundada sobre o caso.
Em 2019 a reintegração mais uma vez foi determinada e, dessa vez, através de uma liminar, o processo foi adiado para o ano de 2020, sendo que em fevereiro deste ano a área a ser desocupada sofreu aumento de 26 para 52 hectares.
Em meio a crise sanitária, com quase 110 mil mortes pelo Covid-19, a PM de Romeu Zema (Novo) invadiu o acampamento e agiu com violência contra seus moradores. Houve a prisão de 4 pessoas, sendo que uma criança foi entregue ao Conselho Tutelar. A escola do acampamento foi destruída e as plantações, queimadas.
A PM nega que tenha agido de maneira desproporcional, nega também a demolição da escola e o fogo contra as plantações. Devido a repercussão do caso a PM chegou a realizar uma live, onde culpam os moradores por “envolverem crianças” nas barricadas e acusa os próprios moradores pelo fogo.
Apesar das tentativas da PM de se justificar, seu histórico denuncia a forma como a vida da classe trabalhadora é tratada por essa instituição. O braço armado do Estado que se coloca à frente na disputa por garantir o lucro de poucos contra a vida de muitos não mede esforços para destruir aqueles que lutam e resistem.