Centro de Tratamento de Encomendas dos Correios em Benfica, zona norte da cidade, durante a greve decretada após assembléia geral dos trabalhadores. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Clara Fernandez – Redação UàE – 18/08/2020 – Publicado originalmente em Universidade à Esquerda
Nesta segunda, 17, foram realizadas assembleias virtuais e presenciais de trabalhadores do correios por todo o país, com deliberação de greve por tempo indeterminado. A decisão foi tomada pela base de 36 sindicatos.
Os trabalhadores dos turnos da noite já iniciaram a paralisação ainda ontem. Durante o dia de hoje houve adesão de 70% do quadro das localidades que aderiram à deliberação, segundo os sindicatos e federações do setor.
A greve é motivada pela extinção, em 1º de Agosto, de 70 itens, entre 79, que compunham o acordo coletivo que deveria ser vigente até 2021. Também estão em pauta medidas protetivas contra a Covid-19 no trabalho e a contrariedade à privatização da empresa, que está para entrar em discussão no Senado nas próximas semanas.
O problema da extinção de itens no acordo coletivo é que diversos pontos são importantes direitos, como a licença-maternidade de 180 dias, e benefícios que no fim compõe o salário dos trabalhadores, como adicional noturno, auxílio creche, horas extras, indenização por morte e até mesmo vale alimentação. Além de haver reajuste no percentual pago para planos de saúde pelos funcionários. Na prática, é como se estivesse ocorrendo um corte de salários.
Isso em um momento em que a intensidade do trabalho realizado está cada vez maior, pois com a pandemia e o aumento das compras onlines, os serviços cresceram em 20%. A empresa tem exigido trabalho aos finais de semana para dar conta da demanda. A sobrecarga também é consequência da redução do quadro de trabalhadores da empresa na última década. Segundo a CSP Conlutas, ao longo de oito anos foram perdidos quase 30 mil trabalhadores da estatal, após uma série de planos de demissão voluntárias, que integra os processos de desmontes que os correios vêm sofrendo.
Enquanto isso, os trabalhadores denunciam que a direção da empresa tem realizado a admissão de assessores especiais sem concurso público para a subsidiária Postal Saúde – operadora de planos privados de saúde dentro dos próprios Correios – com salários de R$16 000, 00. Apenas com as remunerações de sete novas vagas destinadas às suspeitas contratações, seria possível garantir 200 carteiros, que poderiam atender uma população de até 800 000 pessoas, segundo o portal Tele.Síntese.
Nessas condições de trabalho também há importantes repercussões no resguardo da vida desses trabalhadores. Segundo os dados levantados pelos próprios sindicatos, 120 trabalhadores da empresa já foram vitimados pela Covid-19 desde o início da pandemia. Os equipamentos para realizar o trabalho em adequadas condições de segurança sanitária, como álcool gel e máscaras, condições mínimas para a continuidade de um trabalho considerado efetivamente essencial, por vezes só tem sido fornecidos mediante ações judiciais.
Já a privatização da empresa, é prioridade do governo Bolsonaro, junto à da Eletrobrás e da PPSA, estatal que representa a União na gestão dos contratos de partilha do pré-sal. Nas próximas semanas, deve entrar em pauta no congresso o projeto de lei de regulamentação da prestação privada dos serviços postais, um primeiro passo para a privatização dos Correios. Esta pauta já compunha a greve realizada pelos correios no ano passado, no momento em que a estatal foi incluída no Plano Nacional de Desestatização do governo federal.