Morgana Martins – Redação do UàE – 19/04/2017
A crise na Universidade Estadual do Rio de Janeiro já vinha se arrastando durante os últimos anos, devido aos cortes orçamentários na educação. No ano passado, a crise se agravou e culminou com a deliberação de que a universidade não tinha mais condições de continuar em pleno funcionamento: dos R$ 90 milhões anuais para custeio da universidade, o governo de Luiz Fernando Pezão (PMDB) repassou apenas R$ 15,5 milhões em 2016, e nada em 2017[1]. Desde então, não há pagamento de serviços básicos para a manutenção do espaço – os terceirizados são contratados e demitidos sem que recebam o pagamento -, os professores estão sem receber salário e nem mesmo o 13º e os estudantes estão sem bolsas de permanência e não têm mais acesso ao Restaurante Universitário.
Mesmo com a situação da universidade estagnada, a reitoria declarou que as aulas voltariam no dia 10 de Abril, considerando que a universidade havia condições de voltar a funcionar visto que as condições de limpeza e ajustes na estrutura tinham sido feitos. Porém, a situação dos técnicos, professores e estudantes continua a mesma. Ou seja, o retorno das aulas sem ter modificado a situação precária que a universidade se encontra é reflexo de deixar os rumos dessa nas mãos da Reitoria, a qual cedeu à pressão do Estado. Diante dessa decisão, em assembleia, os professores decidiram manter o início das aulas para que houvesse maior adesão dos estudantes e outros professores às mobilizações que virão a acontecer, decidindo que teriam de mobilizar também os estudantes para continuar lutando pela educação pública e de qualidade e pela tentativa de reverter a situação a qual se encontravam.
É importante perceber que a situação da UERJ não é meramente circunstancial, a crise expressa o reflexo dos cortes que a educação vem sofrendo – já desde o governo Dilma -, sem previsões para que isso se inverta. Isso é característico de um governo que possui uma política de desmonte da educação pública e que não tem nenhum pudor ao tornar isso publicamente explícito. Pegando de exemplo o caso do Pezão, ao mesmo tempo que o governador quer cortar 30% do salário dos professores[2], concede isenção fiscal à Ambev de 650 milhões de reais que seriam destinado ao Estado[3]. Também, além da UERJ, recentemente, o Pró-Reitor de Planejamento, Desenvolvimento e Finanças da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Gambine, emitiu uma nota que revelava que a UFRJ também estava em estado emergencial, recebendo no ano de 2017 somente 1/18 de seu orçamento[4] – o que representa a crise generalizada a qual o estado do Rio de Janeiro vem passando.
O que fica disso, é perceber que as universidades públicas sofrem uma política de desmonte e caminham para o abismo: o que acontece na UERJ é reflexo de precarização da educação que percorre o país, e que, eventualmente eclodirá em outros locais. Portanto, é de extrema importância que se tenha em mente o que está acontecendo com nossas universidades para que possamos lutar e resistir contra todos os ataques que estamos a receber. Defender e construir uma universidade totalmente pública e de qualidade é o primeiro passo importante que nos permitirá então avançar para a construção de uma nova sociedade.
[4] http://pr3.ufrj.br/images/Nota_comunidade_abril_2017.pdf
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