O dia de amanhã, 8 de março, promete ficar gravado como um dia de grande movimentação e união das mulheres internacionalmente. A chamada de uma Greve das Mulheres foi feita por organizações feministas, populares e socialistas do mundo todo e promete movimentar mulheres de mais de 50 países. Aqui no Brasil, por exemplo, a Reforma da Previdência e todas as outras medidas que são retrocessos à classe trabalhadora serão também adicionadas à pauta da greve, entendendo que essas medidas afetam diretamente as mulheres. O ponto central de união internacional gira em torno das questões feministas – guiadas pela frase “nenhuma a menos” – e aponta para um novo caráter de luta que seja totalmente anticapitalista e que debata e envolva importantes questões que dizem respeito a violência e exploração feminina, como consta no próprio manifesto Para além do “faça acontecer”: por um feminismo dos 99% e uma greve internacional militante em 8 de março:
“As marchas de mulheres de 21 de janeiro mostraram que nos Estados Unidos também um novo movimento feminista pode estar em construção. É importante não perder impulso. Juntemo-nos em 8 de março para fazer greves, atos, marchas e protestos. Usemos a ocasião deste dia internacional de ação para acertar as contas com o feminismo do “faça acontecer” e construir em seu lugar um feminismo para os 99%, um feminismo de base, anticapitalista; um feminismo solidário com as trabalhadoras, suas famílias e aliados em todo o mundo.”[1]
Antes de começar as discussões que cercam o dia 8, é importante destacar o porquê a utilização do chamado de “Greve” se torna oportuno. Inicialmente, no manifesto – em que foi feito o chamado para a construção desse dia – já existem indicativos da percepção de que o trabalho feminino no mundo capitalista vai além de somente estarem inseridas nos empregos formais; há ainda o trabalho doméstico e o trabalho reprodutivo, ambos não remunerados e nem reconhecidos quando se fala sobre exploração feminina. Além disso, as últimas notícias acerca da diferença de horas realizadas nas jornadas de trabalho masculina e feminina apontam o aumento na diferença entre o trabalho realizado entre esses: a jornada total dos homens caiu de 48,4 horas semanais para 46,1 horas, enquanto a das mulheres foi de 55,3 horas para 53,6 horas [2]. Partindo dessas concepções, uma greve das mulheres tem caráter totalmente oportuno: o objetivo é parar não somente o trabalho que cria valor e fomenta a produção capitalista, mas também o trabalho reprodutivo e doméstico, os tornando trabalhos visíveis e considerados na concretização de uma luta contra a exploração feminina. Tradicionalmente, o dia das mulheres vêm para resgatar as memórias das que resistiram e existiram em um mundo onde predomina a dominância capitalista e também dominância masculina sob os meios de controle de vida. Ou seja, além de resistir como classe, as mulheres também resistem como ser que está sujeito a ser o “outro” na sociedade, como diz Beauvior quando aponta que o homem é pensável sem a mulher, enquanto o contrário não é possível [3]. Também é importante lembrar que a origem da data que agora comemoramos se deu nas prévias da Revolução Russa, iniciando as movimentações que tiveram seu ápice em Outubro. Sendo o ano de comemoração do centenário da revolução, isso vem para pontuar a necessidade de que as lutas voltarem a ter um teor anticapitalista nessa data. Portanto, a crítica e combate à sociedade capitalista – como historicamente as mulheres já vinham fazendo – continua de caráter imprescindível, e faz parte dos pontos da Greve muito importante: seu caráter classista e anticapitalista, dois pontos que são chaves guias para pensar a violência e a exploração feminina. Trazer à tona as questões que envolvem o trabalho produtivo e reprodutivo que as mulheres realizam, demonstra que há nas lutas uma ascendência de consciência das principais questões que levam à opressão e exclusão feminina. Denunciar a exploração capitalista como chave principal da opressão e desigualdade é uma tarefa que acrescenta a Greve a chance de abrir espaço para uma nova luta feminista. Diante disso, o UàE faz coro com a greve dia de amanhã e chama todos a comparecerem à luta:
Paramos para denunciar: Que o capital explora nossas economias informais, precárias e intermitentes. Que os Estados nacionais e o mercado nos exploram quando nos endividam. Que os Estados criminalizam nossos movimentos migratórios. Que recebemos menos que os homens e que a diferença salarial chega, em média, a 27%. Que não é reconhecido que as tarefas domésticas e de cuidado são trabalhos não remunerados e adicionam três horas a nossas jornadas laborais. Que estas violências econômicas aumentam nossa vulnerabilidade diante da violência machista, cujo extremo mais brutal são os feminicídios. Paramos para reivindicar o direito ao aborto livre e para que não se obrigue nenhuma menina a enfrentar a maternidade. Paramos para visibilizar o fato de que, enquanto tarefas de cuidado não sejam uma responsabilidade de toda a sociedade, nos vemos obrigadas a reproduzir a exploração classista e colonial entre mulheres. Para ir ao trabalho, dependemos de outras mulheres. Para migrar, dependemos de outras mulheres. Paramos para valorizar o trabalho invisível que fazemos, que constrói redes de apoio e estratégias vitais em contextos difíceis e de crise [4].
Paramos contra o capitalismo e todas as formas de opressão e exploração feminina, para que a cada vez mais consigamos movimentar à classe a luta e construir a sociedade a qual queremos!
[1] Trecho retirado do manifesto: Para além do “faça acontecer”: por um feminismo dos 99% e uma greve internacional militante em 8 de março https://blogdaboitempo.com.br/2017/02/07/por-uma-greve-internacional-militante-no-8-de-marco/
[3] Beauvior, Simone de, O Segundo Sexo: fatos e mitos.
[4] https://www.facebook.com/GrevedeMulheres/posts/1326437384097291:0