Foto: Movimento Contra as EJ’s
Editorial UàE – 14/11/2016
Há três anos o Centro de Filosofia e Ciências Humanas da UFSC tomara uma decisão ousada – não permitir a criação de empresas juniores na unidade entendendo sua incompatibilidade político-pedagógica com a Universidade Pública. A decisão contra estas organizações fora tomada duas vezes, em 2011 no Conselho de Unidade e novamente em 13 de novembro de 2013 em assembleia geral, reunindo estudantes, TAEs e professores do centro[1]. Já em 2016, também no mês de novembro, um setor de estudantes e professores do centro tenta, mais uma vez, passar por cima dessa histórica decisão – neste sentido é ainda mais significativo retomar essa bonita história de lutas.
A marcante assembleia de 2013 foi ápice de um processo de lutas que se iniciara nos idos de 2008 e 2009 quando um grupo de estudantes de psicologia propôs criar uma empresa júnior naquele curso. Desde aquele momento o debate sobre o conteúdo destas organizações perpassou o CFH, tendo dois momentos de maior significado: a negativa a criação da Emprese Junior de Psicologia em 2011 pelo Conselho de Unidade do Centro, quando o conselheiro estudantil da psicologia ousou questionar sua aprovação e propôs ao Conselho a reprovação do projeto; e em 2013, quando apresentado novamente ao Conselho de Unidade, com muita pressão dos estudantes – especialmente de um setor estudantil da psicologia contrário a criação da EJ – este decidiu por realizar uma assembleia geral do centro para debater e indicar ao conselho sua decisão. Nestes dois momentos a comunidade do CFH impediu a criação das empresas juniores baseados na análise não simplesmente de sua legalidade ou da formalidade do projeto, mas sim do seu mérito, ou seja, do seu conteúdo pedagógico.
Em um amplo esforço o debate realizado pelo movimento contra as empresas juniores analisava o teor privatizante destas organizações, que assentam sua proposta nos valores do empreendedorismo e da vivência empresarial. Nada mais alheio ao caráter público da Universidade, propor que seus estudantes se comportem como empresários – que tomem o ensino pela mera produção de habilidades e competências para que se tornem empreendedores. É a isto que estão dedicadas as empresas juniores. E baseados nesta crítica central, aqui apresentada brevemente, que um conjunto de estudantes teve a coragem de dizer Não.
Coragem, pois estes valores estão tão arraigados no cotidiano das instituições universitárias que organizações como as empresas juniores fazem parte da paisagem sem que se levante um mínimo estranhamento. Inclusive, contaram por muito tempo com o silêncio, a anuência, e a hesitação da esquerda universitária. E contra tudo, estes estudantes tiveram a coragem de propor uma luta renhida, que em nenhum momento abandonou a crítica fundamental a estas organizações, e com isso ousaram vencer.
O dia 13 ficará marcado como o dia que o CFH disse não às EJs – em que em uma grande assembleia, com 160 favoráveis a “Aprovação das EJs no CFH” e 329 votos contra as EJs – pelo texto – “O entendimento desta assembleia geral do CFH é de que as empresas juniores não são coerentes pedagogicamente com o papel da universidade pública. Portanto, a posição desta assembleia é de que não se credencie/autorize a criação de empresas juniores neste centro”, a comunidade do CFH disse não a lógica privatizante que toma de assalto a educação superior².
Deste modo, queremos dizer que se em 2013 foi preciso um amplo esforço para perseguir o sonho de uma educação integral, que possa dispor os conhecimentos historicamente produzidos a serviço de um caminho de lutas para a emancipação humana, o retorno dessa proposta em 2016 exigirá de todos nós, comprometidos em construir esse sonho, o mesmo ou maior esforço. Pois, é significativo que esta proposta retorne este ano, em meio a uma conjuntura de acirramento das lutas da classe trabalhadora contra os ataques às suas condições objetivas de vida. Os ataques dirigidos pelo Capital organizado no governo Temer pelas vias da PEC 55, da reforma do Ensino Médio, da reforma trabalhista, da previdência dentre tantas outras estão atrelados a esta lógica privatista, mercantilizadora, que é a mesma que organiza a proposta educativa das empresas juniores. Por isso a história da vitória da esquerda sobre as empresas juniores não pode ser apenas um discurso empoeirado, mas uma memória viva, inscrita no fogo das lutas do presente.
Com isso, nós do UàE deixamos nossa homenagem a todos aqueles que contribuíram para que o dia 13 de novembro de 2013 ficasse marcado na história de lutas da esquerda pela Universidade Pública. E também para todos aqueles que em 2016 tomaram essa história em suas mãos! Contem conosco nessa luta!
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[1] A deliberação da assembleia fora ratificada pelo Conselho de Unidade em 26 de novembro de 2013
[2] Para saber mais sobre a história veja: Um dia para não esquecer – https://ufscaesquerda.com.br/vencemos-13-de-novembro-um-dia-para-nao-esquecer/; “Prós e Contras”, mini-doc – https://www.youtube.com/watch?v=h0tfmEFxHC0; Gravação da assembleia em duas partes – 1 https://www.youtube.com/watch?v=lnswBf_k5GI e 2 https://www.youtube.com/watch?v=fPC8UYAbR2k; Movimento contra as EJs no CFH – https://contraasejsnocfh.wordpress.com/ e https://www.facebook.com/movimentocontraejs/?fref=ts
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