Por Renato Ramos Milis e Helio Rodak, Técnicos Administrativos em Educação, especialmente para o UFSC à Esquerda*
Há 23 dias os Técnico-Administrativos em Educação (TAEs) da UFSC aderiram à greve nacional da categoria. A direção da greve na UFSC é, ainda, hegemonizada pela mediocridade política da atual diretoria do SINTUFSC (ligada ao PCdoB e a setores do PT). O comportamento desses sujeitos vêm sendo o mesmo há muitos anos: inviabilizar o movimento e impedir que os técnicos possam avançar na grande política universitária.
Os mecanismos que esses sujeitos e suas bases utilizam para esvaziar o sentido político do movimento são, em geral: evitar os debates centrais nas assembleias e comandos de greve, substituindo-os por polêmicas tangenciais no que toca o cotidiano da greve, inviabilizar atividades (como atos, debates, seminários, etc.), criar factoides, tratar com um profundo desrespeito os trabalhadores. Enfim, tornar a desorganização dos trabalhadores uma constante. Tudo isso para alimentar o imobilismo e dificultar a organização da luta e a construção de projetos de Universidade e de sociedade dos trabalhadores. É desta forma que conseguem sustentar politicamente suas posições conservadoras.
O que aparenta ser por parte desses setores uma forma ineficiente de combate ao governo e suas políticas de ataque aos trabalhadores e à educação pública, é, na verdade, a expressão mais fiel do governismo. A ação cotidiana de boicotar os grandes debates nas assembleias (por exemplo, reduzindo o tempo de análise de conjuntura) e nas atividades do movimento tem sido inclusive mais eficiente do que a defesa aberta das posições do governo. Assim, o efeito central da política da direção do SINTUFSC é construir no seio do próprio movimento sua desorganização para manter os trabalhadores em silêncio e garantir o desmonte da carreira, das condições de trabalho, da Universidade, sem maiores oposições dentre os TAEs.
No entanto, apesar da ação organizada da direção do sindicato em desorganizar a categoria, a conjuntura do país tem passado como um rolo compressor e não é mais possível sustentar facilmente suas posições conservadoras. O imobilismo tem ruído nas bases entre todas as categorias da universidade, e não é diferente entre os técnicos, abrindo um campo de possibilidades para que se supere a postura governista da direção do SINTUFSC.
Nesse contexto, os setores de esquerda entre os TAEs em oposição à atual direção do sindicato tem se reorganizado. Encaramos com grande alegria os esforços corajosos desses sujeitos de fazerem frente ao imobilismo e afrontá-lo, buscando construir um movimento combativo entre os técnicos. Reconhecemos, porém, que há grandes desafios para que possamos reconstruir a luta dos TAEs.
O primeiro é o de fazer a crítica aberta e pública à direção do sindicato e aos setores conservadores da base. E com isso propor e bancar uma nova direção e uma nova dinâmica para o movimento. Por exemplo, recompondo o Comando de Greve com representantes eleitos dos setores e trazendo os grandes debates para o centro do movimento. O que está colocado para a esquerda dos TAEs é a tarefa política de combater francamente essa direção governista encastelada no SINTUFSC.
O segundo, não menos importante, é o de reorganizar os trabalhadores em bases programáticas, recolocando no seio do movimento as grandes questões da própria carreira e do trabalho dos técnicos, da Universidade e da sociedade brasileira. E com isso, romper com o corporativismo, as ideologias de gestão e de profissionalização do Estado – bastantes presentes entre os trabalhadores mais novos – e a crença na resolução dos problemas políticos e da cotidianidade do trabalho por meio da justiça burguesa. Assim estabeleceremos as sínteses necessárias entre as lutas dos TAEs, a luta pela Universidade Pública e a conjuntura geral da luta de classes.
Na atual conjuntura esses desafios são ainda mais prementes. Frente aos profundos ataques aos direitos dos trabalhadores e à Universidade Pública (com os cortes de 9 bilhões no orçamento da educação, o avanço da terceirização nas universidades e a precarização das condições de trabalho), retomar a defesa da carreira dos TAEs em pontos como a reabertura de concursos para cargos extintos, a valorização salarial em todos níveis da carreira, condições dignas de trabalho, não são questões menores, mas se inserem no conjunto de lutas em defesa da Universidade Pública.
Em última instância o que está em jogo nas lutas dos TAEs, assim como na de docentes e estudantes, é a defesa da Universidade. E aí está colocado mais um desafio: o de construir a unidade das lutas da comunidade universitária. Pois a luta em defesa da Universidade e de seu sentido público – a construção de uma Universidade que oriente a produção de conhecimento, o ensino e a extensão pelas grandes questões da classe trabalhadora – só terá força se conseguirmos romper as fronteiras das categorias e criarmos na luta a unidade da comunidade universitária como um todo.
Sabemos que esse processo de reorganização das lutas não é simples ou rápido, e requer grandes esforços. Mas sabemos também que os atuais setores de esquerda dos TAEs, na qual humildemente nos incluímos, têm se mobilizado e demonstrado que podem, sim, estar à altura desses desafios. Com esses esforços, junto de docentes e estudantes, os TAEs construirão um bonito futuro de lutas na Universidade.
*O texto é de inteira responsabilidade dos autores e pode não refletir a opinião do Jornal